A crescente polarização no futebol reflete aquelas que são as divisões mais alargadas que observamos na nossa sociedade. As equipas tornaram-se símbolos de identidades e as rivalidades nas bancadas extrapolam, por diversas vezes, para além das quatro linhas. Se o fervor clubista pode ser uma experiência emocionante, por outro lado, quando ultrapassados os limites do respeito e liberdade, transforma-se, rapidamente, no ópio da sociedade, espelhando um mundo cada vez mais dividido.

Segundo um estudo da English Football League, mais de 80% dos jogadores de segunda, terceira e quarta divisões inglesas não se sentem seguros num campo de futebol. É disto que falo. E, aqui, as redes sociais, por exemplo, tornaram-se numa arena virtual onde gladiadores combatem para ver quem derrama mais sangue. Refugiados no anonimato, diferenças de opinião são transformadas em conflitos e guerras.

É crucial relembrar – para aqueles mais esquecidos – que, na sua essência, o futebol é um jogo que transcende barreiras. Que tem o poder de unir pessoas de diferentes origens, crenças e visões do mundo. Porém, até que ponto, ao dia de hoje, ainda existe alguma dessa essência. E, até que ponto, essa essência não foi sufocada pela crescente polarização?

Para superar essa polarização é imperativo que os adeptos e as instituições promovam valores de respeito, tolerância e inclusão. Em vez de permitirmos que as rivalidades extrapolem para o ódio, devemos valorizar a diversidade de opiniões e celebrar as histórias que cada adepto traz consigo. O diálogo aberto e o respeito mútuo devem ser promovidos, tanto dentro como fora do campo.

A verdade é que o estado atual do futebol reflete a sociedade em que viemos. Ao começarmos a desconstruir a ideia de polarização no desporto, mais facilmente caminharemos em direção a uma sociedade não só mais coesa, como também mais aberta e tolerante. É incompreensível que o futebol não lidere esta mudança. Onde a paixão deve ser utilizada para construir relações e não destruir.