Gosto mesmo de futebol.

Joguei mais de 10 anos federado. Jogava a extremo-direito. Rápido, bons pés, e uma constituição atlética que me fazia voar a cada encontrão que os defesas me davam, “passa a bola, não passa o jogador”. Clássico. Entre treinos e jogos, houve anos em que chegava a jogar 5 ou 6 vezes por semana. Jogar à bola dava, e ainda me dá, um gozo incrível. Já marquei golos que me souberam melhor que orgasmos. Daqueles mais fraquinhos, claro. Também já vibrei muito com jogos do meu Sporting ou da Seleção. Mas vamos lá ter calma com a maneira como se vive o futebol. A quantidade de pessoas cuja emoção de toda a sua vida depende do futebol deixa-me espantado, não vos vou mentir.

Não falo daqueles 90 minutos em que todos vibramos como se fôssemos o Bas Dost, o Marega ou o Jonas. Falo do resto dos 9990 minutos que a semana tem até ao próximo jogo do seu clube. Perdem horas e horas a ler e comentar no Facebook, a ver notícias e programas de discussão inócua sobre foras-de-jogo, e-mails ou o tamanho das orelhas do Herrera (por acaso, intriga-me se aquilo com aquele tamanho já conta como bagagem extra para as companhia low cost ou se pelo menos é considerado bagagem de formato estranho). Andam angustiados com aquele golo que não foram eles que falharam, ficam extremamente orgulhosos com aquele penalty que não foram eles que defenderam, vibram, choram, riem, são completamente obcecados com o jogador que acham que são e com o que não contribuem para o desempenho do seu clube por não o serem. E pior. Zangam-se com os amigos, estão amuados nos almoços de família, ignoram as namoradas ou mulheres.

Para quê, exatamente? É que isso ainda por cima faz-vos mal à tensão arterial e aumenta os níveis de colesterol nas virilhas. Acho eu. Esta última parte já estou a inventar. Mas não pode ser saudável quando se põe mais paixão na profissão dos outros que andam para ali de chuteiras calçadas do que na própria profissão, nos amigos ou na família. Digo eu, cuja parte de que mais gosto no futebol é estar com os amigos a beber cerveja e dizer palavrões aleatórios. Depois o árbitro apita para o final e a nossa vida segue igualzinha, igualzinha, como dantes.

De que é que serve andar para aí a discutir com os amigos, para além do saudável, sobre uma das indústrias mais corruptas do mundo? “Os políticos são todos corruptos, os banqueiros idem… valha-nos o futebol que é tudo gente séria”. Há gente que pensa mesmo assim, o que acho de um nível de comicidade muito elevado.

Só para acabar, parem com essa parvoíce de perderem anos de vida a discutir quantos campeonatos é que cada um tem. Há sempre mais para o ano, para os que perdem e para os que ganham, vai haver sempre, vai haver até os nossos tetranetos estarem a discutir se uns têm 567 campeonatos e outros 598. E enquanto isso continuam para sempre, vocês entretanto já se distraíram com a conversa e já estão todos mortinhos.

Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:

- "Black Panther": Aqui a minha sugestão é para não irem. É dos piores filmes que vi na vida. Quer dizer, eu ri-me muito. Mas só em partes em que não era suposto, por ser tão mau.

- Óscares: É raro o monólogo inicial não valer a pena.

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