André Ventura, em declarações que esperaríamos de uma extremosa mãe na véspera do filho ir para o festival Sudoeste, alertou o povo português de que os 125 euros do apoio extraordinário às famílias não devem ser despendidos em “whisky, tabaco e drogas”. À primeira vista, esta enumeração de produtos que podia constituir um título de um livro de Charles Bukowski pode parecer descabida, mas o certo é que o interesse de André Ventura por uísque não é absurdo, uma vez que ele aprecia destilar. A inclusão de tabaco e, sobretudo, drogas é que é mais inesperada, uma vez que, tal como o fígado dos portugueses, André Ventura não gosta de misturas.

De facto, de Ventura não se esperava que referisse uma bebida alcoólica associada a outros países. Criticar a indigência falando do consumo de vinho verde? Seria digno de patriota. Agora, trazer o scotch à liça? Parece-me coisa de globalista. Logo o Chega a enveredar pelo multiculturalismo da ebriedade, quando eu pensava que eram contra a Grande Substituição. As declarações de Ventura provam o que muita gente anda aí a dizer: as nossas bebidas estão a ficar sem trabalho por causa das bebidas que vêm de fora. Portugal não pode - assim, sem mais - escancarar as fronteiras a bebidas importadas.

Para além disso, nitidamente Ventura não compreende o vício em substâncias. A necessidade de consumir álcool, tabaco ou estupefacientes reveste-se de um carácter urgente, não se compadece com os atuais atrasos nas transferências bancárias dos 125 euros. Na verdade, se houver quem queira torrar o apoio em droga, não vale a pena estar à espera que o dinheiro caia na própria conta. O ideal é ir já ao Portal das Finanças e introduzir o IBAN do dealer.

Ao mesmo tempo, Ventura propõe que o apoio extraordinário se prolongue por todos os meses do próximo ano. Má ideia, André. Se isso acontecer, tenho a certeza que as mesmas famílias que vão gastar tudo em whisky, tabaco e drogas usarão a ajuda mensal para pagar a prestação do renting do BMW que têm estacionado à porta.

Há quem diga que o apoio de 125 euros às famílias é uma medida populista de António Costa para distrair a opinião pública das inúmeras polémicas em que este governo se tem envolvido. Contudo, dada a frugalidade do montante, a estratégia terá fracassado. Por outro lado, as intervenções de André Ventura sobre o apoio de 125 euros, essas sim, funcionam a favor de Costa. A verdade é que, sempre que Ventura fala, não se está a falar das desventuras do Partido Socialista. Apesar de não querer admitir que precisa dele, o PS agradece o apoio extraordinário do Chega. Talvez não seja suficiente para se manter eternamente no poder, mas que é uma ajudinha, lá isso é. Os portugueses vão gastar tudo em whisky, mas no Largo do Rato vão enfrascar-se em champanhe.