É um dos maiores eventos à escala planetária. É onde está a elite da elite do mundo desportivo. E, aparentemente, a julgar pelos números apresentados por Neil Hall, da BBC Sports, ninguém no Reino Unido quis perder pitada do acontecimento desportivo mais badalado de sempre para o serviço digital desportivo da emissora pública.
Revela a própria BCC que o resultado da cobertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro chegou aos 102 milhões de browsers únicos. Um recorde absoluto que representou um crescimento de 75% relativamente aos Jogos de Londres 2012: há quase cinco anos foram registados… 39 milhões. Segredos para o sucesso? Tentar prever o futuro e a paixão dos britânicos por vários desportos.
“Os Jogos Olímpicos são gigantes no Reino Unido. Cerca de 70% da população gosta de eventos desportivos, portanto o interesse numa competição como esta aumenta porque tem um apelo que toca até ao fã mais comum. Tem um apelo patriótico e todos estão a acompanhar a Equipa da Grã-Bretanha. É por isso que vemos uma grande audiência muito, muito interessada em seguir os Jogos. Para além de ser um evento pontual que só acontece de 4 em 4 anos”, explicou Neil ao SAPO24.
No painel da Digiday Publishing Summit Europe o homem que esteve à frente da estratégia das várias plataformas digitais da BBC, contou em pouco mais de dez minutos as principais etapas da missão Rio 2016. Fez alusão a um planeamento que durou perto de 18 meses em que foram implementadas mudanças na gestão do departamento.
Primeiro: garantir o “recrutamento” e “manutenção” do talento ao nível dos engenheiros técnicos. Depois, levar a cabo uma pesquisa sobre os hábitos dos utilizadores dentro do servidor interno para que fosse possível fazer uma previsão do seu comportamento no futuro. Terceiro: assentar uma estratégia baseada no livestreaming e na aplicação da BBC Sports.
A aposta nos diretos
“As pessoas esperam de nós um livestream de qualidade. Nós precisamos de optimizar a experiência em torno dessa ideia”, explicou Nail numa entrevista ao Digiday em agosto, precisamente no dia em que começaram os Jogos Olímpicos do Rio. “Nós requalificamos a oferta do livestream da BBC, para que o tempo de carregamento do serviço decorra de uma forma muito mais rápida nos diferentes dispositivos, dando mais hipótese de escolha entre as plataformas disponíveis”, adiantou.
Nail revelou também que o foco da BBC durante os últimos Jogos passou por dar uma hipótese de escolha extra. “Queríamos criar o melhor serviço possível”, disse. Mas não a qualquer preço: quer fosse por computador, mobile ou televisão, a qualidade de serviço tinha de estar presente. Isto é, garantir a funcionalidade total sem perder a qualidade dos serviços do site da BBC Sport, da sua aplicação, e dos serviços Red Button+ (TV) e BBC iPlayer (aqui menos frequente e sob escrutínio editorial) e BBC Sport 360º.
Este último, tratou-se de um serviço experimental que esteve em direto e on demand pela primeira vez e contou com um milhão de visualizações em todas as plataformas. Particularidade: de originou uma colaboração entre a própria BBC e os utilizadores que foram dando o seu feedback acerca da experiência.
“Foi uma oportunidade para aproveitar para aprender a trabalhar com a ferramenta num ambiente com a complexidade de um evento desta magnitude. É um daqueles momentos que não aparecem todos os dias. Conseguimos apercebermo-nos de como é que as pessoas o utilizavam. Só no Reino Unido tivemos um milhão de visualizações durante o decorrer dos jogos”, explicou Neil sobre 360º ao SAPO24.
No entanto, nem sempre foi fácil conseguir consolidar esta abordagem de experimentação e de continuo estudo. É um processo demorado e que tem lugar na sombra do projeto. Para além de que não revela algo que possa passar rapidamente a teste. Porém, a equipa de Neil tinha os seus objetivos estabelecidos. Sabia qual era a aposta. E tinha um plano do qual não se desviou.
“Vamos analisar um caso concreto: um serviço pessoal como, por exemplo, o de um registo de e-mail para criar uma conta própria para ter acesso a todas as funcionalidades da aplicação. Isto é uma coisa tecnicamente bastante complexa. Nós sabemos que este é um dos nossos objetivos, que era algo que queríamos, portanto tínhamos que trabalhar nesse sentido no imediato. Mas para algumas pessoas nesta área, estás a passar uma mensagem dura, porque estás a trabalhar num aspecto muito técnico e invisível; não é como se estivéssemos a trabalhar numa funcionalidade bonita e imediata para os utilizadores”, disse.
O objetivo passou por não saturar os utilizadores, mas sim dar-lhes o que procuram
A aplicação da BBC foi um dos trunfos para tão bons resultados. O sucesso assentou no equilíbrio. O objetivo passou por não saturar os utilizadores, mas sim dar-lhes o que procuram. Para Neil Hall, era premente que estes não se limitassem a uma visita única. Tinham de despertar a curiosidade para que os utilizadores regressassem durante o restante período de tempo e não só no momento da descarga da aplicação ou notificação.
“É tudo uma questão de encontrar o equilíbrio certo. Penso que no desporto é algo que funciona muito bem, porque esta audiência é muito apaixonada por assuntos específicos. As pessoas gostam de um clube específico. Nós estudamos o comportamento das pessoas dentro do nosso servidor quando fizemos a pesquisa. As pessoas iam à procura de um desporto em particular; de uma equipa específica. Então tentámos criar algo que fosse ao encontro daquilo que as pessoas pesquisavam e procuramos dar respostas a essa especificidade”, disse.
Na aplicação há duas formas de navegação: a que vem por definição e a My Sport. Nesta, o utilizador é quem decide o que vai ler ou ver. Aqui pode escolher quais as modalidades, notícias ou clubes que tem interesse em seguir. Não quer perder tempo com notícias de cricket e só quer saber o resultado da equipa do Manchester United de José Mourinho? Assim seja. Em 2016, em agosto, os britânicos deram preferência aos alertas com os vencedores das medalhas.
Durante os Jogos, os números dos perfis pessoais da My Sport também atingiram números recorde, ao atingir as 500 mil visitas únicas de browser e com mais de 150 mil utilizadores a seguir a sua página própria na secção dedica ao Rio 2016.
Mas nem só de Jogos Olímpicos vivem os bons resultados. A vitória da equipa de Ranieri e o Europeu de Futebol fizeram prever o que estava para chegar no mês de agosto. Especialmente no jogo que opôs Inglaterra e o País de Gales (os ingleses acabariam por vencer por 2-1 com um golo nos descontos de Sturridge).
“Começou logo com o Leicester City a ganhar a Premier League. Foi uma história enorme. Fez parecer que o verão começou logo em abril. Começámos a perceber que os recordes podiam ser batidos logo aí", disse.
"Gerou prontamente um interesse geral no futebol antes mesmo de começar o Euro. E quando esteve este teve início, existiram picos de audiência. Especialmente no jogo frente ao País de Gales. Foi algo bastante vivido no Reino Unido e começámos quase imediatamente a ver os vídeos a tornarem-se virais nos nossos servidores. Essa foi daquelas tardes em que sabes, em teoria, que podem acontecer [bater recordes]. Embora nunca exista aquela certeza absoluta. É como estar num lançamento de um foguete. Até estar no ar ficas sempre na dúvida”, concluiu.
Browsers únicos de eventos que contaram com a cobertura em direto e online na BBC em 2016:
- Euro 2016: 26,8 milhões de browsers únicos globais durante todo o torneio
- Referendo Brexit: 17,6 milhões durante a semana de voto
- Glastonbury: 580 mil durante o festival
- Wimbledon: 14,8 milhões
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