Evento organizado pela Beta-i, em parceria com a Câmara Municipal de Lisboa, e com o apoio da Bright Pixel (Sonae IM), IE Business School e Turismo de Portugal, o Lisbon Investment Summit transformou, entre 6 e 7 de junho, o Hub Criativo do Beato, em Lisboa, num dos “principais e mais surpreendentes encontros de investidores executivos e startups da Europa”.

O objetivo foi, desde o início, ajudar startups a crescer. “O Lisbon Investment Summit tem sido um palco para as melhores startups nacionais e também para algumas internacionais já começam a estar interessadas em Portugal. O nosso papel não é só estar com as startups, mas permitir que possam conhecer investidores nacionais e internacionais. Esse contacto é muito importante para conseguirem gerar negócio e porque faltava em Portugal um evento português que marcasse a agenda europeia de investimento. O Lisbon Investment Summit conseguiu”, referiu ao The Next Big Idea Pedro Rocha Vieira, CEO da Beta-i.

Mas nem sempre foi fácil. “Ninguém queria vir para Lisboa. 'O quê que é isso? Nem pensar, não vou para aí’. Agora já é um evento que está na agenda dos investidores, vêm cá investidores para conhecer startups. Há um interesse das grandes empresas pelas startups e tudo isso tem estado a crescer. O Lisbon Investment Summit já não é só constituído por investidores e startups, também já tem grandes empresas. Tudo isto tem um lado educativo: o que é isto de investir, por exemplo. No dia anterior ao #LIS até temos um side event chamado Investors Academy, muito focado em treinar investidores, para saberem como investir melhor”.

No Hub Criativo do Beato — e por vezes fora dele — foram dois dias intensos. “Existiram três palcos em paralelo, em que tivemos sobretudo painéis sobre vários temas. Um painel principal focado em investimento, um segundo na área da educação e das startups e um terceiro, da Google, mais focado em tecnologia. Falámos sobre imensas temáticas com pessoas que estão a trabalhar nessas áreas. Oradores de todo o mundo, essencialmente da Europa, mas também americanos e chineses, vieram falar daquilo que está a acontecer nos seus ecossistemas e nas suas indústrias. É muito importante. A disrupção da tecnologia e a velocidade com que as coisas estão a andar é tão rápida que, se nós não estivermos sempre a falar e a ouvir, ficamos desatualizados”, explicou o CEO da Beta-i.

O ambiente informal foi também um dos marcos do evento. “Acho que é isso que diferencia o #LIS. Como em poucos sítios, as startups conseguem estar com os investidores. Em termos de networking temos aqui muito espaço, temos música, sítios para sentar. Uma startup consegue meter conversa com um investidor super naturalmente. Ontem à noite [6 de junho] tivemos uma festa no barco [no Tejo], com os parceiros, sponsors, oradores, investidores e startups. Ali havia um networking forçado, ninguém podia sair dali. Foram três horas ‘fechados’. O objetivo é proporcionar encontros”, nota.

Olhando para a questão do investimento, segundo um estudo apresentado no #LIS, pode afirmar-se que o ecossistema empreendedor português está ainda em crescimento. “O volume do investimento feito em startups em 2017 foi 30% superior ao investimento feito em 2016, sendo que o investimento médio é de 330 mil euros. 60% deste investimento é para a fase seed, e as áreas mais investidas são as de saúde, media e marketing, e software. O ecossistema nacional conta já com três unicórnios, ou startups avaliadas em mais de mil milhões de dólares: à Team.We e à Farfetch juntou-se ainda este mês a Outsystems”, pode ler-se.

No entanto, é importante referir que “o #LIS é um evento muito focado em projetos em fases iniciais. Não é para investimentos muito grandes. Nas fases iniciais toda a gente pode dizer que sabe o que são boas startups, mas é muito difícil”, diz Pedro Rocha Vieira.

Sobra a pergunta habitualmente designada como a one million question. Afinal, o que faz uma boa startup? "Tem muito a ver com os founders, com a equipa capaz de executar, que sabe dar feedback, que aprende rápido, que sabe ir atrás de um caminho”, diz Pedro Rocha Vieira. Mas, para isso, às vezes é preciso um empurrãozinho, de forma a que se consigam analisar todas as frentes de ação. “Trabalhar em programas de aceleração como os que a Beta-i faz é muito importante para ver a qualidade dos fundadores. É das coisas mais importantes. Depois também é importante perceber se estão a atuar num mercado grande ou não, se o problema que estão a tentar resolver é real e se a solução que têm é uma melhoria face ao que existe ou uma coisa completamente nova. É importante resolver o problema de uma forma tão melhor que realmente as pessoas mudem para isso e que consigam sustentar essa vantagem competitiva durante algum tempo. As startups têm de conseguir viver num monopólio temporário; a concorrência demora tempo a chegar. Têm de ter esse monopólio para criar valor, caso contrário é muito difícil”.

O futuro, esse, é sempre um bocado incerto. “É muito difícil prever se uma startup vai correr bem. É preciso ver muita coisa, é preciso ter uma tática, é preciso estar disposto a muito. E perceber que isto é muito arriscado e a maior parte delas vão falhar, vão morrer. E isso é normal! O que é preciso é investir-se rápido e conseguir que os ciclos de investimento sejam cada vez mais rápidos e líquidos para se conseguir continuar a crescer. Mas não há uma receita mágica”, sublinha Pedro Rocha Vieira.

Para que os empreendedores se possam preparar para qualquer eventualidade, a Beta-i atira-lhes com um provérbio bem conhecido: “Não lhe dês o peixe, ensina-o antes a pescar”. “A nossa missão tem muito a ver com contribuir para libertar o potencial das pessoas, muito através do empreendedorismo e da inovação e focar essa energia para resolver problemas que sejam interessantes. Acredito que todos nós, enquanto seres humanos, temos um potencial brutal. O que precisamos, às vezes, é só de libertá-lo. E liberta-se através do conhecimento, através da confiança, de pôr as pessoas a trabalhar com outros pares, por processos, com metodologias. É preciso que as pessoas pensem que é possível o impossível. Fomos criados numa mentalidade em que só se fala no impossível. É tudo o ‘não se pode fazer’. Há toda aquela pressão da cultura tradicional, com muitas regras. As pessoas, às tantas, não acreditam que podem fazer outra coisa. E é para isso que nós estamos aqui, para mostrar que sim. Fazermos asneiras e não saber bem o que é preciso ao início é normal. É preciso mudar mentalidades o mais cedo possível”.

Lisboa tem futuro, mesmo que não exista Web Summit

Começa a ouvir-se que a cidade de Lisboa é a nova Berlim. Todavia, cada cidade é uma cidade e não se pode querer ser igual a nenhuma outra.

Com a Web Summit, a capital portuguesa tornou-se mais conhecida no ecossistema. Mas ainda há trabalho a fazer. “É positivo que continue em Lisboa , é um evento muito importante. Ainda precisamos de mais um ou dois aninhos para consolidar algumas coisas. A começar por este espaço [o Hub Criativo do Beato]. Em Portugal as coisas ainda demoram muito tempo. Ainda não há investidores, não há um espaço como este [a funcionar em pleno], as coisas estão paradas, há dinheiro que demora mais a vir do que devia”, diz o CEO da Beta-i.

Mas nem só de empreendedorismo vive Lisboa. “A cidade mudou, está muito forte não só por causa das startups mas também do imobiliário, do turismo, de tudo o que está a acontecer em termos de cultura. É uma cidade diversificada e cosmopolita. Não vamos sair do mapa mesmo que a Web Summit mude de casa. Obviamente que um evento assim é importante para manter a atenção e para posicionar Portugal a um nível que poucas outras coisas fazem, mas muito do contributo já aconteceu. Nós também temos de ser capazes de criar as nossas próprias coisas, as nossas próprias iniciativas. Temos de apoiar o que é nosso”, afirma.

Mesmo assim, as comparações têm de ser feitas com cuidado. “Lisboa começa a estar no top. Obviamente que não dá para competir com Londres, Paris, Barcelona, mesmo com Berlim. Nem há esperança para chegar lá, mas nós não precisamos de ser iguais. Lisboa nunca vai ser Londres. Mas o mundo hoje está descentralizado e não precisamos de ser todos os maiores. Precisamos de ser bons, temos o nosso espaço. É uma cidade de média dimensão, com uma boa qualidade de vida, com condições fantásticas para experimentar e lançar startups. Temos de saber agarrar esse posicionamento. Mas há coisas que não podemos e nunca vamos conseguir mudar. Não podemos ser bons em tudo, temos de nos focar”.

No fim, o CEO da Beta-i deixa um aviso. “É bom falarmos de Lisboa, mas temos de ver que hoje somos todos cidadãos do mundo e temos de estar a ver o que está a acontecer noutros países. Às vezes vamos lá fora e quando chegamos aqui parece que estamos em câmara lenta! É esse o mundo que temos de perceber que está a acontecer. Não nos podemos distrair. O mundo é grande, há mercado para tudo. Mas há outra coisa a perceber. Antigamente investia-se em máquinas, em infraestruturas, em hardware; hoje em dia investe-se em software e em pessoas”, remata.

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