Uma das perguntas mais ouvidas nas semanas que precederam a Web Summit, fosse nos media, fosse informalmente na comunidade de startups, era sobre “o dia seguinte”. Como seria o dia seguinte ao evento que trouxe a Lisboa mais de 50 mil pessoas e que durante uma semana fez de Portugal um dos epicentros do empreendedorismo e da inovação tecnológica no mundo. A resposta a esta pergunta era pertinente para as startups, sobretudo para aquelas que apostaram mais em se ‘mostrarem’ a investidores durante a Web Summit, mas também era importante para investidores que no evento puderam avaliar que projetos e iniciativas serão relevantes nos próximos meses.

Francisco Ferreira Pinto é administrador da Busy Angels, uma sociedade de investimento em capital de risco fundada em 2010 e focada no investimento em startups inovadoras ainda num estágio de desenvolvimento inicial. O que viu na Web Summit convenceu-o em primeiro lugar de uma coisa: da resiliência de quem lá estava. O evento em si mesmo foi encarado, conta, como “uma oportunidade de estabelecer o primeiro contacto e ouvir o primeiro pitch dos empreendedores, numa situação que tende a ser desconfortável para eles, porque estão constantemente a ser interrompidos e também normalmente muito cansados de repetir sempre o mesmo discurso”.

Um facto amplamente comprovado por todo o participante mais atento – incluindo os jornalistas que assistiram em vários momentos às mesmas pessoas a repetir, com o melhor sorriso e a maior convicção, o mesmo discurso pela enésima vez. “Gostámos especialmente de ver essa resiliência por parte das equipas, surpreendeu-nos o grande à vontade que praticamente todos demonstraram assim como a falta de timidez tão importante neste tipo de eventos”, reforça o investidor.

“Como investidores o nosso principal interesse no evento focou-se maioritariamente em estabelecer ligações com outros investidores, sobretudo a um nível internacional, contactar com startups com potencial para se tornarem futuros investimentos da Busy Angels, e fazer alguns follow-ups / seguimentos com contactos já existentes”.

O plano já ia delineado em antecipação – ou pelo menos uma boa parte dele – porque face à dimensão do evento não era razoável nem ver tudo, nem dispersar esforços. “Tínhamos já um planeamento antecipado relativamente às startups que pretendíamos encontrar e conhecer. Como tal, existia já um conhecimento prévio mínimo do que faziam e do produto que estavam a desenvolver”.

E houve negócio ou apenas conversas? “Ficam sobretudo contactos muito interessantes e potenciais negócios a serem realizados no futuro resultantes das primeiras conversas no evento. Fechar verdadeiramente negócios será difícil uma vez que existem sempre detalhes a serem discutidos e análises mais extensas a serem realizadas”.

Como é que um investidor avalia neste tipo de eventos o potencial de uma ideia /startup? Pelo pitch? Pela capacidade comercial? Pela demonstração prática de produtos? “Neste tipo de eventos, temos a oportunidade de conhecer os traços gerais das startups contactadas. Através de uma primeira conversa, aqui na Busy Angels, avaliamos sobretudo se o projeto tem fit com a nossa estratégia de investimento ou se existe algum conflito direto que impeça à partida o nosso investimento. De um modo geral, nesta fase as dimensões consideradas são: tipo de projeto, indústria/setor, necessidades de financiamento, estágio de desenvolvimento, sinergias e/ou conflitos com o atual portfólio de investimentos”. E, claro, há sempre o fator humano: “É também uma excelente oportunidade para conhecer os promotores do projeto pessoalmente e ter um primeiro insight das suas capacidades e aptidões para serem empreendedores de sucesso".

O administrador da Busy Angels destaca ainda o facto de o ecossistema na Web Summit se caracterizar por uma enorme diversidade. “Ao contrário de outros eventos, um pouco mais concentrados, no Web Summit, além de startups e investidores vemos também uma enorme afluência de empresas à procura das tendências que poderão impactar os seus negócios no futuro”.

Contas feitas, qual o balanço? “Como principal fator positivo gerado pela realização do Web Summit em Portugal destacamos a promoção do ecossistema empreendedor e de capital de risco português. O evento reforça a projeção de Portugal colocando-nos ainda mais presentes no radar de investidores internacionais, startups internacionais e também grandes empresas que cada vez mais olham atentamente para este sector como um fator crítico de sucesso no seu futuro. Isto é determinante quer para o sucesso das startups nacionais como dos investidores portugueses”.

Acima de tudo, a Web Summit é uma aposta na linha do tempo e numa trajetória que investidores e startups acreditam poder ser favorável a aPortuhal. “Todos estamos a semear para tentar colher no futuro, e apenas isso irá garantir a sustentabilidade do setor e um efeito duradouro do empreendedorismo e inovação em Portugal”.

Para a próxima Web Summit, Francisco Ferreira Pinto fazia uns acertos na programação. “: “na edição 2017 do Web Summit creio que seria interessante dar um maior destaque à situação do setor a nível europeu (startups e investidores) e quem sabe aproveitar também para destacar ainda mais o ecossistema português”.

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