É certo que ainda falta saber o que a Amazon e a Apple têm para contar a seu respeito - só vão comunicar os seus resultados a 3 de agosto -, mas depois do que se ouviu durante as conferências de apresentação dos relatórios de contas do último trimestre da Meta (Facebook), Alphabet (Google) e Microsoft, a ideia com que se fica é: no futuro, é para apostar em produtos que sejam sustentados por algum tipo de IA.

E isso fica claro não só pelos movimentos recentes das Big Tech, que sustentam esta ideia também, mas pelo próprio discurso dos seus líderes. Segundo as contas da CNBC, Sundar Pichai, CEO da Alphabet, e a sua equipa, fizeram referência ao termo "IA" 66 vezes; Satya Nadella, o presidente da Microsoft, e os seus executivos, fizeram o mesmo 47 vezes. Uns dias depois, foi a vez de Mark Zuckerberg e a sua equipa da Meta repetirem o termo mágico 42 vezes.

Mais exemplos:

  • A Google anunciou que está a renovar o seu motor de busca utilizando um modelo de IA denominado Search Generative Experience;
  • No caso da Microsoft, o plano é para criar uma subscrição "Copilot" de 30 dólares por mês que integra texto ou código gerado pelo ChatGPT no Word, Powerpoint, etc;
  • O investimento mais recente da Meta é o seu próprio Large Language Models (LLM), a que chama LLaMA, que poderá servir de base a novos tipos de chatbots de redes sociais ou gerar automaticamente anúncios online.

E o que nos dizem os relatórios?

Microsoft (relatório completo)

Nos últimos tempos tem estado ocupada a tentar fechar a aquisição da Activision Blizzard (titã dos videojogos e casa-mãe de “Call of Duty”), mas apresentou contas acima das expectativas ao aumentar os lucros nos primeiros três meses do ano em 9% para 18,3 mil milhões de dólares.

  • A unidade de produtividade e processos empresariais, que engloba o Office, o LinkedIn e o Dynamics, foi responsável por 18,29 mil milhões de dólares em receitas. Só a receita do LinkedIn aumentou 5%.
  • As vendas do negócio de "nuvem inteligente" da Microsoft - o seu maior impulsionador de receitas - cresceram 15% em relação ao trimestre homólogo, para 24 mil milhões de dólares.
  • Todavia, as vendas da unidade de "computação mais pessoal" da empresa, que inclui dispositivos, Xbox e produtos Windows, diminuíram 4% em relação ao ano anterior, para 13,9 mil milhões de dólares, o que pode indicar que a incerteza económica está a pesar nas vendas de hardware.

"As empresas estão a perguntar não só como - mas também com que rapidez - podem utilizar a próxima geração de IA para abordar as maiores oportunidades e desafios que enfrentam - de forma segura e responsável", disse Satya Nadella.

Meta (relatório completo)

Apresentou resultados sólidos e isso refletiu-se nos dias seguintes, com as ações da empresa a serem negociadas pelo valor mais alto desde janeiro 2022. As receitas aumentaram 11% em relação ao ano anterior, para 31,9 mil milhões de dólares, com grande parte desse sucesso a dever-se a um interesse renovado na publicidade online e à redução de custos (despedimentos) operacionais para melhorar a rentabilidade.

  • Zuckerberg confirmou ainda que ficou surpreendido com os primeiros números da Threads, a rival do ex-Twitter, e que apesar do plano inicial da Meta ser manter a equipa do nova rede social pequena, existe agora uma grande oportunidade de a fazer crescer.
  • A família de aplicações - Facebook, Instagram, Messenger e WhatsApp - atingiu a marca de 3,07 mil milhões de utilizadores ativos em junho (média), um aumento de 7% em relação ao ano anterior.
  • Gastou 7,7 mil milhões de dólares no seu setor de realidade virtual em 2023 — e só neste segundo trimestre perdeu 3,74 mil milhões de dólares nas operações relacionadas com o metaverso.

"Tivemos um bom trimestre. Continuamos a registar um forte envolvimento nas nossas aplicações e temos pela frente o itinerário mais entusiasmante que já vi em algum tempo com o Llama 2, Threads, Reels, novos produtos de IA na calha e o lançamento dos [Óculos] Quest 3 no outono", afirmou Mark Zuckerberg.

Alphabet (relatório completo)

O rei dos motores de busca superou as projeções de receitas em vários quadrantes, obtendo 74,6 mil milhões de dólares em receitas - um aumento de 7% em relação ao ano anterior. Além disso, revelou um sólido crescimento na área da computação em nuvem.

  • O hardware e os serviços Google (Chrome, o Google Maps e o Android) geraram receitas no valor de 66,3 mil milhões de dólares (grande parte via publicidade).
  • As receitas da unidade de nuvem aumentaram 28% para 8 mil milhões de dólares.
  • As receitas de publicidade aumentaram 3,3% para 58,14 mil milhões de dólares, com as receitas de publicidade do YouTube a atingirem 7,67 mil milhões de dólares.

"Os nossos resultados financeiros refletem uma resiliência contínua do Motor de Busca, com uma aceleração do crescimento das receitas tanto no Motor de Busca como no YouTube, bem como um impulso na Cloud", explicou Ruth Porat, atual CFO da Alphabet e da Google, mas que a partir de 1 de setembro vai assumir as funções de presidente e diretora de investimentos de ambas as empresas.

Em resumo, as gigantes tecnológicas estão a apostar forte na inteligência artificial para impulsionar os seus negócios e lucros do futuro, com o foco a estar apontado para produtos e serviços sustentados por esta tecnologia.

Mas: será engraçado ver como é que a Apple vai comunicar os resultados e se vai seguir a toada dos seus rivais. Os executivos da Apple raramente utilizam o termo "IA" ou inteligência artificial, preferindo utilizar expressões como "Machine Learning", que é mais popular entre os académicos e os profissionais da área. Depois, a IA da Apple opera na sombra e o discurso é sempre virado para o que o seu software faz pelo utilizador e não se tem ou não IA. E, claro, é a tal coisa. Na realidade, como salienta a CNBC, a Maçã não faz alarido disso porque também sabe que não precisa de o fazer.