A investigação que permitiu desenvolver esta tinta – que evita a utilização de solventes orgânicos, poluentes e nocivos para o ambiente – foi feita por Manuel Reis Carneiro, que é também aluno de doutoramento do Programa Carnegie Mellon Portugal na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra e na Carnegie Mellon University.

“Por ser produzida com água, esta tinta é mais sustentável, ecológica e reduz de forma significativa o impacto ambiental das soluções já existentes. Adesivos eletrónicos para monitorizar a saúde ou garantir a qualidade de produtos alimentares são algumas das utilizações possíveis”, explicou a Universidade de Coimbra, em nota de imprensa enviada à agência Lusa.

Manuel Reis Carneiro integra uma equipa liderada por Mahmoud Tavakoli que, segundo a UC, tem já uma vasta experiência no desenvolvimento de circuitos eletrónicos flexíveis.

“A produção destes circuitos, de forma fácil, rápida e económica tem sido um dos principais desafios da equipa de Coimbra, que dá agora um novo passo nessa direção ao desenvolver uma tinta que é sustentável e amiga do ambiente”, sublinhou a instituição.

Manuel Reis Carneiro explicou que a utilização de uma tinta à base de água para a impressão e produção dos circuitos eletrónicos flexíveis apresenta inúmeras vantagens.

“Por um lado, reduz radicalmente a pegada ecológica da produção, porque não utiliza materiais poluentes. Por outro, torna muito mais fácil a reciclagem e posterior reutilização dos circuitos, que anteriormente consistia num procedimento complexo”, referiu.

De acordo com o investigador, basta colocar o circuito em álcool, os componentes e as partículas metálicas separam-se e estão aptos para serem reutilizados.

Outra mais-valia desta tinta é que, ao contrário das anteriores, não tem de ser refrigerada, pode ser mantida à temperatura ambiente durante cerca de um mês, o que facilita a sua preservação, reduz a pegada ecológica e os custos de manutenção.

Estes circuitos flexíveis têm aplicações sobretudo na área da saúde, como sensores de biomonitorização e adesivos capazes de registar dados de saúde de doentes: atividade muscular, respiração, temperatura corporal, batimentos cardíacos, atividade cerebral e emoções.

“A maioria dos dispositivos médicos utilizados em contexto hospitalar, nomeadamente elétrodos para eletrofisiologia, são de uso único e desperdiçados após uma utilização. Assim, a introdução desta nova tinta, que permite uma reciclagem fácil e económica, tem um impacto relevante na reutilização dos adesivos de monitorização, reduzindo significativamente o lixo eletrónico também conhecido por ‘e-waste’, gerado pelas soluções de uso único”, explicou.

Segundo a UC, a indústria alimentar é outro dos setores que pode beneficiar com esta descoberta, ao integrá-la na próxima geração de embalagens inteligentes.

“A equipa testou a aplicação desta nova tinta em adesivos que podem ser impressos em plástico e aplicados em embalagens de produtos alimentares perecíveis, para monitorizar a sua temperatura e garantir a sua qualidade. Desta forma é possível garantir a adequada preservação, registar qualquer problema que ocorra durante o armazenamento e informar o consumidor”, referiu.