E se lhe dissessem que é possível comer boa comida num avião? A palavra é dada pelo chefe do restaurante Gotham Bar and Grill em Nova Iorque, distinguido com uma estrela Michelin. Para o cozinheiro o segredo é um “tempero agressivo”. Ah! E molho. Muito molho.

A cada seis meses, a Singapore Airlines pede a Alfred Portale, várias vezes vencedor do prémio James Beard Award, que crie novas receitas para os clientes que ocupam os lugares de primeira classe no avião, onde uma viagem entre Nova Iorque e Singapura pode custar 7500 dólares (cerca de 7080 euros).

Alfred Portale é um dos nove chefes com lugar no Painel Internacional de Cozinha da Singapore Airlines, um júri de luxo, no mundo da cozinha, que viaja por todo o mundo a provar as mais variadas receitas e menus.

Nos aviões, uma vez que qualquer equipamento que produza chamas é proibido a bordo, os pratos têm de ser cozinhados com antecedência e reaquecidos - muitas vezes com recurso a vapores ou a um microondas. Para além disso, os chefes têm de ter cuidado nos cortes dados na peça para que esta não fique demasiado seca. Tal significa usar peixes mais ricos em gordura como o salmão, em vez de solha, por exemplo. Para a carne, Portale opta por cortes grossos para que o pedaço seja depois assado ​​ou cozido num caldo que mantenha a proteína húmida. Um dos seus favoritos é o lombo de porco, lentamente cozinhado.

“Tivemos a ideia de um prato que seria tipicamente americano,” conta Portale acerca de um dos pratos do menu. “É um lombo de porco feito como um filet mignon. É muito tenro” (e custa 44 dólares - 41,5€ -, no seu restaurante).

Não é fácil fazer comida reaquecida saber bem, muito menos a milhares de metros de altura. As cabines de avião são secas e a pressão do ar é baixa, e isso interfere com o olfato e paladar dos passageiros tornando o sabor dos alimentos mais insípido. Os temperos, como o açúcar e o sal, são mais difíceis de se saborearem.

Por isso a Singapore Airlines e outras companhias aéreas “puxam todos os cordéis” para dar refeições de primeira classe aos seus passageiros de, lá está, primeira classe.  O exemplo da Singapore multiplica-se, a Qatar Airways trabalha com o chefe Nobu Matsuhisa, Neil Perry é o homem por trás das refeições servidas nas QANTAS. O caso da cozinha de requinte a vários quilómetros de altitude ganhou outro eco quando Heston Blumenthal, um dos melhores chefes do mundo, insistiu com a companhia British Airways que os pratos com sabor a umami teriam um melhor sabor a 35000 pés (10668 metros de altura).

As criações e a parceria tem corrido tão bem que Portale confessa ao Quartz que muitos dos pratos que cria para serem comidos a milhares de metros de altitude acabam também nas mesas do seu restaurante.