Desde 2014 que este retiro transformou a típica paisagem alentejana, marcada pelos castanhos das terras e do verde das oliveiras, com tons vibrantes dos símbolos da religião budista, com as bandeirinhas que ladeiam o caminho até ao ‘stupa’.

No topo do caminho, numa colina, surge então a nova torre branca (o ‘stupa’) que termina numa espécie de espiral dourada e alberga duas figuras de budas, uma das quais no templo do piso térreo, onde se vão somando o cheiro de incenso, as orações e as oferendas, como comida, lenços, dinheiro.

De Beja veio a empresa de construção, como conta à agência Lusa, Manuel Pompinho, que tinha assistido à cerimónia do lançamento da primeira pedra e hoje deslocou-se ao local para mostrar a obra feita à família.

Além das deslocações para garantir que tudo decorria como o acordado, o construtor voltou para “montar a cúpula lá em cima” e a avaliação é muito positiva do resultado final, apesar de “haver sempre melhorias que podem ser feitas”.

“É um projeto diferente dentro de Portugal,” quer no que se vê, quer no que se constrói, comenta Manuel Pombinho, não deixando de garantir que trabalhos destes são “desafios interessantes que se tenta superar”.

E transportar os materiais pelo único caminho do retiro, de gravilha, foi o mais difícil. “Tirando isso, foi uma obra normal”, que demorou mais ou menos oito meses a completar.

A conclusão que retira desta experiência é que “são religiões e temos que respeitar e cada um é como cada qual”, enquanto se ouvem em fundo as orações budistas da cerimónia mais tradicional do dia.

Essa cerimónia durou cerca de duas horas e, no final, o Lama Gyurme, o português responsável da comunidade Guhya Mantrika, explicou que estar a inaugurar-se o Stupa Tashi Gomang, ou seja o “’stupa’ das múltiplas portas, que significa a multiplicidade de formas pelas quais os ensinamentos de Buda podem conectar-se com as necessidades de todos os seres, que basicamente são muito similares”.

“Todos nós procuramos escapar ao sofrimento e encontrar a felicidade”, resume o religioso, notando ainda o “efeito geomâncico” da construção - “acalmar conflitos, atrair prosperidade e circunstâncias positivas”.

“Esta é uma dádiva da comunidade não só para nós, mas para todos os seres vivos”, conclui.

O centro possibilita desde retiros prolongados para praticantes mais antigos até aos “meros curiosos”, que podem “encontrar uma das mais portas que lhes possa servir, de algum modo, a ajudá-los a tornar-se melhores pessoas”.

Para entender um serviço budista e uma inauguração de um templo, “num dia tão especial para a comunidade”, Marina Pignatelli, professora universitária de Antropologia em Religiões, em Lisboa, deslocou-se hoje a Santa Suzana.

Deslocou-se também para “comparar com outras religiões”, explica ainda a académica, que nota como em Portugal tem existido cada vez maior aceitação de outras confissões e pessoas não crentes, apesar da matriz dominante judaico-cristã.

Ali, Marina Pignatelli surpreendeu-se com o interesse da comunidade budista pelo local.

Sobre projetos futuros para o local, que tem por morada a estrada nacional 253, o Lama notou que ao final de três anos de existência do centro foi inaugurado um ‘stupa’. “Dentro de três anos o que é que surgirá? Que aspirações é que se manifestarão? Nós vamos mantê-los informados”, prometeu, entre sorrisos.