A exposição, que é inaugurada em 14 de abril e que se estende até 16 de julho, vai incluir inéditos pensados para o local, mas também algumas das obras mais conhecidas do artista, como “The Visitors”, uma instalação vídeo, que foi considerada em 2019 a melhor obra de arte do século XXI até à data pelo jornal britânico The Guardian.

A melancolia ou a ironia são alguns dos temas explorados por Ragnar Kjartansson, um artista “com uma enorme coerência conceptual”, que explora a ideia do mundo como “uma grande encenação” a partir de performances duracionais, repetidas até à exaustão, afirmou à agência Lusa Carlos Antunes, diretor do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC), uma das entidades que organiza a bienal Anozero.

“Para lá de um grande artista, é um grande encenador teatral, com uma ideia de obra de arte total, que domina com mestria absoluta”, salientou.

Na primeira vez que o artista expõe em Portugal, estarão também presentes obras como “A Lot of Sorrow”, uma performance gravada em 2013 com a banda The National, em que o grupo toca em ‘loop’, ao longo de seis horas, a canção “Sorrow”, que tem sensivelmente três minutos e 30 segundos.

A performance duracional está também presente em “God”, em que o artista islandês, vestido como se fosse um ‘crooner’ à imagem de Frank Sinatra, acompanhado de uma pequena orquestra, canta repetidamente uma única frase: “Sorrow conquers happiness [A tristeza vence a felicidade]”.

Essa peça, assim como outras obras do artista, deixaram Carlos Antunes “arrebatado”, quando as viu numa pequena exposição na Arco, em Madrid.

“Foi daquelas experiências limite em que uma pessoa acredita que a arte tem um poder de transformação”, resumiu.

Como a Anozero tem procurado fazer uma grande exposição internacional no ano em que a bienal não ocorre, a organização decidiu, “de forma irresponsável”, contactar Ragnar Kjartansson, “que respondeu de forma absolutamente entusiasmada, por causa do mosteiro”.

Segundo Carlos Antunes, o artista “não resistiu” à beleza e imponência do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova.

A ideia era instalar “Visitors”, “God” e “A Lot of Sorrow”, mas Ragnar decidiu ocupar toda a ala do refeitório e a ala por cima desta, apresentando um total de 13 obras, cinco das quais inéditas.

Uma das obras passará por um filme num pequeno oratório que descobriu no espaço, haverá uma aguarela com a inscrição “Não sofra mais”, um grande desenho de montanhas em contraplacado de uma série existente do artista, assim como uma peça de luz “enorme”, com oito metros de largura, também com o nome da exposição, que estará instalada na torre virada para a cidade de Coimbra.

A frase dos rebuçados Dr. Bayard foi descoberta pelo artista numa visita a Portugal, e “achou graça àquilo e decidiu resgatar essa expressão para a exposição”, explicou Carlos Antunes.

A inscrição acaba por ganhar outra força, de forma acidental, num “momento difícil” da bienal e da sua existência, face ao concurso lançado para o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, que deixa em aberto a possibilidade de a Anozero não voltar a realizar-se naquele espaço ou em moldes muito limitados.

“Com o iminente perigo de isto acabar, ver uma frase que diz ‘Não sofra mais’ é também ironia, elegância e até beleza”, notou Carlos Antunes.

Ao contrário do que normalmente acontece nos trabalhos de Ragnar Kjartansson, em Coimbra, o artista procura “um diálogo fortíssimo com o espaço”, referiu o diretor do CAPC, dando como exemplo a instalação da obra “Me and My Mother”, junto à roda dos enjeitados, o “portal” entre o interior e exterior do mosteiro e tido, de forma mitificada, como o lugar “onde as mães deixavam as suas crianças”.

A exposição poderá ser vista de quarta-feira a domingo, das 11:00 às 19:00, a partir de dia 14.

Durante a exposição, haverá um programa educativo extenso, que inclui visitas medidas à exposição e ao mosteiro.