A exposição “Atlantide”, que decorre até 28 de outubro na galeria Itinerrance, apresenta 20 telas e um mural, tendo Pantónio caracterizado este trabalho como o “mais profundo, a raiz”.
“Quando escolhi o nome ‘Atlantide’, tem a ver com a minha ligação aos Açores, com esta coisa da linha da água. São tudo animais aquáticos, mas alguns são de terra. Vêm todos do mar. Tem a ver com a forma como eu cresci a ver movimento do mar tão perto. Portanto, acaba por se transcrever para linhas contínuas”, disse à Lusa o artista natural da Ilha Terceira, no arquipélago dos Açores.
Ao longo de uma extensa galeria de 350 metros quadrados, as telas mostram desenhos de figuras esguias que deixam adivinhar peixes e pássaros, em movimentos entrelaçados e com contornos densos, num turbilhão de linhas que sobressaem de fundos em tons pastel.
Para Pantónio, “não há linhas quadradas, há linhas contínuas, como numa viagem”, um estilo que também marca o seu ritmo de trabalho, intenso, “fechado numa jaula e centrado na imaginação”, tendo pintado as obras de “Atlantide” nos últimos três meses, salvo uma tela que retoca há três anos.
A imaginação é primordial para o português de 41 anos que considera que o seu papel do artista passa por dar “algum sonho”, “leveza” e “fazer coisas bonitas”.
“Esta Atlântida foi uma maneira de aproveitar a minha técnica que tem muito a ver com água e desenvolvê-la para potenciar o que no meu trabalho eu reconheço como imaginação. O artista dá um bocadinho e a pessoa imagina o resto”, explicou, enquanto se preparava para pintar o mural de uma parte da fachada da galeria parisiense.
Esta é a segunda exposição individual de Pantónio na galeria Itinerrance, depois de, em 2014, ter apresentado “ExØdus” e de ter participado em vários projetos coletivos do espaço dirigido por Mehdi Ben Cheikh, que aponta o estilo do português como “inconfundível”.
“Nesta exposição vamos mostrar a evolução do seu trabalho. Aqui vemos a cor a emergir, algo que até agora era limitado ao preto e azul. Além disso, em muitas telas, o desenho está mais simplificado, parece muito mais eficaz. O mais difícil é encontrar as ideias mais simples e é o que ele está a fazer agora”, descreveu o galerista à Lusa.
Mehdi Ben Cheikh revelou, também, que Pantónio vai fazer, em breve, um novo mural em Paris, na avenida que a galeria tem vindo a transformar num museu a céu aberto, o Boulevard Vincent Auriol, que conta já com 15 murais monumentais.
Não muito longe e também a pedido da galeria, em 2014, Pantónio pintou aquele que foi apresentado como “o mural mais alto da Europa”, com 66 metros de altura e 15 metros de largura, que passou a fazer parte do circuito de “street art” do 13.º bairro que, no total, conta com cerca de 50 murais, incluindo um de Vhils.
“De qualquer modo, em cada projeto que eu fizer com a galeria, o Pantónio vai participar. Acredito mesmo nele”, avançou o galerista que tem acompanhado Pantónio desde que o convidou, em 2013, para o projeto “TOUR PARIS 13″, no qual participaram mais de cem nomes da “street art”, entre os quais onze portugueses, que transformaram um prédio de dez andares, destinado a demolição, num “museu de arte efémera”.
Com a Itinerrance, Pantónio também participou, em 2014, na transformação de uma aldeia tunisina noutro “museu a céu aberto”, juntamente com uma centena e meia de artistas, incluindo os portugueses Mário Belém, Addfuel e Arraiano.
Em Paris, Pantónio pintou, ainda, painéis que foram colocados, temporariamente, em 2015, na Ponte das Artes, depois de retirados os chamados “cadeados do amor” deixados pelos turistas.
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