Luís não era para ser rei, pela sua condição de segundo filho Maria II e Fernando II. O seu irmão Pedro, o infante primogénito, reinou como Pedro V, até morrer sem deixar descendência. E foi assim que, no ano de 1861, Luís, que além de príncipe era um homem de cultura, pintor, músico, oceanógrafo, botânico e coleccionador, se tornou rei de Portugal.
Durante o seu reinado foi abolida a pena de morte para os crimes civis e a escravatura no reino de Portugal e foi publicado o primeiro Código Civil. No que se refere a obras e monumentos, o monarca deixou como legado o alargamento da rede de estradas e caminhos de ferro, o inicio das obras nos portos de Lisboa e de Leixões, o Palácio de Cristal no Porto, e muito importante para o Sr. Pekka, uma pequena estufa no Jardim Botânico da Ajuda.
Esta estufa foi um expoente da tecnologia do século XIX, com cobertura de vidros, sistema de aquecimento, ventilação e em parte construída abaixo do solo para prevenir as amplitudes térmicas do dia e da noite. Era nesta estufa que o rei mantinha uma das mais completas e importantes coleções de orquídeas do mundo na altura, com um longo inventário de espécies que muito dificilmente se encontrariam noutro país da Europa.
Passaram-se muitos anos até que, neste mesmo continente, mas já noutro século, um rapazinho de 15 anos, na Finlândia, começou a interessar-se por orquídeas, pelas sua raridade de cores e de textura que fotografa com a máquina que a mãe lhe oferecera.
Carregue sobre as imagens para ver a galeria:
Várias décadas passadas e mais de 10 mil flores depois, o jovem tem 72 anos e tem a segunda maior coleção de orquídeas da Europa que está na estufa do Rei Luis I onde instala o seu “reino”. Ele é agora o rei da estufa. Veio por estrada, foram precisas várias viagens para trazer as orquídeas da Finlândia, primeiro para Viana do Castelo, depois Coimbra e por fim para a Estufa Real na Ajuda. Sempre acompanhado por Ranta, a sua mulher. Aliás, quando lhe perguntam se as flores são dele, é bem possível que ouçam a resposta que ouvimos: "Na realidade são da minha mulher, eu só cuido delas". Pekka anda também sempre com uma máquina fotográfica, porque todos os dias há surpresas e coisas novas para ver na estufa, um novo botão, uma flor que abriu. E ele regista tudo - a única coleção maior do que a das orquídeas são as suas fotografias.
O casal Pekka e Ranta escolheu vir para Portugal por inspiração, pela luz e pelo sol e também porque procuravam encontrar uma forma de deixar o seu legado da coleção de orquídeas. Na sua terra natal gastavam cerca de 20 mil euros por ano em electricidade por causa do aquecimento no inverno rigoroso, com temperaturas de -30 cº, e da noite longa que exigia por lâmpadas a fazer de sol.
Com a idade a avançar o casal e os seis filhos sem terem disponibilidade para poderem tomar conta das orquídeas dos pais quando eles já não pudessem, Pekka começou a procurar uma nova morada para as suas orquídeas. E Portugal pode ser mesmo o sítio perfeito para acolher estas frágeis e belas flores como já era do conhecimento do nosso rei. Mais que uma casa, os Ranta encontraram em Portugal três casas para as suas orquídeas, para além da Ajuda, parte da sua coleção já está na ilha do Faial, a restante irá para a zona do Porto.
No Jardim Botânico, Pekka Ranta está a tentar reconstruir, através dos inventários deixados pelos jardineiros reais, a coleção do rei de que já não subsiste nenhum exemplar. Se gosta destas flores e quer aprender sobre elas, poderá frequentar um dos workshops que este apaixonado por orquídeas realiza no Jardim Botânico da Ajuda. Ou simplesmente fazer uma visita e perguntar pelo senhor Pekka.
[Artigo corrigido às 13h35 do dia 28/03. Altera apelido do casal]
Comentários