A atriz portuense participou na série de televisão 'Morangos Com Açúcar', mas tem-se destacado nos palcos de teatro. No ano passado, apresentou no Porto o espetáculo "Todos os Dias me Sujo de Coisas Eternas", criado por ela no âmbito do Cultura em Expansão e que repetidamente esgotou a Casa das Artes do Bonfim. Atualmente, marca presença na peça "Catarina e a Beleza de Matar Fascistas". Sara Barros Leitão é ainda uma voz ativa na cidade do Porto e na cultura.

O galardão é uma parceria do Nacional D. Maria II e do grupo segurador, tem caráter anual e visa reconhecer e promover talentos emergentes, com idades até 30 anos, nas várias áreas ligadas ao teatro, cujos trabalhos se tenham destacado no ano anterior.

A escolha do premiado, que abrange outras áreas ligadas ao teatro, como cenografia ou dramaturgia, é feita por um júri composto por profissionais das artes dramáticas. O júri desta edição contou com 15 elementos e foi presidido pelo encenador Carlos Avilez.

“A grande qualidade artística de Sara Barros Leitão e a coerência em todas as suas atitudes, fazem dela a vencedora da 1.ª edição do Prémio Revelação Ageas Teatro Nacional D. Maria II, e são motivo de orgulho para todos nós”, frisou Carlos Avilez, presidente do júri desta edição do prémio, dando os parabéns à atriz.

“Sara Barros Leitão é uma artista que já provou e continuará a provar tudo aquilo que dela se espera”, frisou o ator e encenador que se estreou como ator no D. Maria II, do qual também já foi diretor artístico. Carlos Avilez dirige atualmente o Teatro Experimental de Cascais (TEC), de que foi um dos fundadores, em 1965.

Apesar de se mostrar “muito feliz” por ter sido contemplada com um prémio “que lhe foi atribuído por pares, e que, portanto, tem um sabor ainda mais especial”, a atriz revelou também à Lusa “algum espanto e perplexidade” por ter sido a premiada.

O facto de ter sido escolhida deixa-a também “muito feliz, e um bocadinho com mais certeza, dentro de todas as inseguranças normais, de que o caminho” que tem trilhado, as suas escolhas, a sua intuição, o seu trabalho e a sua integridade “são reconhecidas”.

“E isto dá-me mais força para o futuro”, assegurou.

Albano Jerónimo, Álvaro Correia, Beatriz Batarda, Catarina Barros, Cristina Carvalhal, Inês Barahona, John Romão, José António Tenente, Marta Carreiras, Mónica Garnel, Nuno Cardoso, Rui Horta, Rui Pina Coelho e Tónan Quito completaram o júri que premiou Sara Barros Leitão.

Em declarações à agência Lusa, a presidente do conselho de administração do D. Maria II, Cláudia Belchior, frisou a “importância muito especial” que o galardão assume para a instituição que dirige, uma vez que, “desde o início, tem apostado em aprofundar trabalho com novos profissionais, novos valores, quer junto de universidades quer de todos os profissionais que se dedicam ao teatro”.

Recém-reconduzida no cargo, Cláudia Belchior realçou ainda o facto de o prémio ter um montante pecuniário, o que “permite aos jovens profissionais apresentarem e pensarem os seus trabalhos de uma forma diferente”, já que se encontram sempre “a correr contra o tempo”, dando-lhes uma “visibilidade nacional, e permitindo-lhes apresentar os trabalhos noutros teatros”.

Claudia Belchior mostrou-se ainda “muito contente, muito feliz”, pela atribuição do prémio a Sara Barros Leitão, considerando-a “uma atriz e criadora extraordinária”, e “muito multifacetada”.

“É mesmo um dos raros talentos, tem ali um brilho especial”, observou, enfatizando ainda a luta que a atriz tem encetado e as posições públicas que tem assumido pela dignificação do trabalho da mulher e pela melhoria das condições de trabalho dos artistas.

O facto de terem trabalhado de perto com a atriz na peça “Catarina e a beleza de matar fascistas”, um texto e encenação de Tiago Rodrigues, diretor artístico do D. Maria II que, na semana passada, também foi reconduzido no cargo para o próximo triénio, constitui igualmente "uma felicidade" para Cláudia Belchior.

Sara Barros Leitão recebeu, hoje, o prémio das mãos do diretor executivo para a Europa continental do Grupo Ageas, Steven Braekeveldt, numa cerimónia realizada na sala Garret.

A cerimónia antecedeu uma representação exclusiva para convidados da peça “Fake”, de Inês Barahona e Miguel Fragata, que contou com a presença da ministra da Cultura, Graça Fonseca.

Tiago Rodrigues, Cláudia Belchior, representantes do teatro e do grupo Ageas Portugal estiveram também presentes na cerimónia.

Em declarações à Lusa, Teresa Thöbe, responsável de parcerias e marca do grupo Ageas Portugal, sublinhou “toda a importância“ de que este prémio se reveste para o grupo, resultante de um desafio que este lançou ao D. Maria II, ligado à forma como “têm apoiado a cultura", "um dos eixos estratégicos” do grupo.

“A importância é muito na lógica de ajudar na construção, na promoção de tudo o que é uma carreira artística” e de “estimular os jovens a perseguirem o seu percurso profissional” na área do teatro, afirmou.

Sobre o facto de se tratar do “primeiro prémio, na área do teatro, criado por uma entidade privada e uma pública”, a responsável referiu resultar do percurso iniciado, em 2017, com a Casa da Música, com quem estabeleceram o Prémio Ageas Novos Talentos, destinado a premiar jovens músicos.

A intenção é continuar a acompanhar estes jovens talentos, tanto na área da música, como na do teatro, que “agora, mais do que nunca precisam destes incentivos e deste apoio”, referiu, numa alusão aos efeitos da pandemia de covid-19 na área da cultura.

Questionada pela Lusa sobre se tencionam criar prémios similares para outras áreas culturais, Theresa Thöbe admitiu ser “muito interessante que neste momento viessem também a trabalhar a área do bailado, da dança”.

“Neste momento, ainda não está nada em projeto, mas diria que, podendo alargar o 'scope' [âmbito], obviamente que era uma coisa que seria muito interessante para não nos fixarmos apenas no teatro ou na música”, admitiu.

Neste momento “os dois pilares que estão a explorar” são apenas “o teatro e a música”, ressalvou, indicando aida as parcerias estabelecidas com o Coliseu do Porto e o Festival de Marvão.

O anúncio e atribuição do I Prémio Revelação estiveram marcados para o passado dia 27 de março pasado, tendo sido adiados 'sine die' devido às restrições decorrentes do estado de emergência para contenção da pandemia de covid-19.

Remarcada para 15 de novembro, foi igualmente adiada para hoje, de novo por causa da pandemia de covid-19.

Nascida no Porto, em 1990, Sara Barros Leitão tem um percurso artístico na área do teatro, cinema e televisão. Atriz, encenadora, assistente de encenação contam-se entre as funções que tem desempenhado.

Teatro Experimental do Porto, o Teatro Municipal do Porto - Rivoli, Teatro Nacional D. Maria II, Teatro Nacional São João e o Teatro do Vestido são algumas das companhias com quem tem colaborado.

Feminista e ativista assumida, a atriz tem-se envolvido também em lutas pelos direitos dos artistas, contra as desigualdades e injustiças sociais.

A atriz, que apresentou o primeiro trabalho próprio no D. Maria em 2019, “Teoria das Três Idades”, já foi dirigente da Plateia – Associação de Profissionais das Artes Cénicas.

Prémio concretizar Clube do Livro Feminista

Um Clube do Livro Feminista intitulado “Heroides” é o projeto que Sara Barros Leitão vai desenvolver ‘online’ em 2021, para o qual convidará 12 participantes que debaterão outros tantos livros, revelou hoje a atriz à agência Lusa.

Destinado a premiar talentos emergentes, com idades até 30 anos, na área do teatro, cujos trabalhos se tenham distinguido no ano anterior, Sara Barros Leitão recebeu também hoje a distinção, num montante de cinco mil euros.

O montante do prémio reverterá na totalidade para a concretização de “Heroides - Clube do Livro Feminista”, uma comunidade de leitores gratuita e aberta a todos que se queiram inscrever, a decorrer no último sábado de cada mês, disse a atriz à Lusa.

Um projeto que considera “muito importante” e que através do montante do prémio permite à atriz “atribuir um lugar de fala a quem o tem”.

Através do clube de leitura feminista, a atriz sublinha que vai poder “convidar 12 pessoas a ocuparem os seus lugares de fala e a partilharem 12 livros que achem que são completamente fundamentais” para lerem em conjunto.

Cada sessão do clube terá um convidado que debaterá e lerá em conjunto com os participantes um livro de modo a possibilitar a abertura de “pensamento e de discussão a outras pessoas”, referiu. “Porque acho que é assim que se começa a mudar o mundo”, frisou.

Pensado há cerca de um ano e sem que tenha sido posto em prática por falta de condições financeiras, Sara Barros Leitão mostrou-se feliz por, finalmente, poder concretizar este projeto tal como o pensou.

Entre os autores a ler conta-se Virginia Woolf, revelou.

O projeto será divulgado no ‘site’ da estrutura artística criada pela atriz para a produção dos seus trabalhos – www.cassandra.pt, que também é divulgado hoje e que o prémio ajudou a concretizar.

O título do projeto “roubou-o” Sara Barros Leitão à obra de Ovídio, que integra 15 poemas epistolares compostos pelo autor romano e que apresenta uma seleção de cartas como se fossem escritas por heroínas da mitologia grega e romana aos seus amantes e que, de alguma forma, as tenham maltratado, negligenciado ou abandonado.

As pessoas podem inscrever-se de forma gratuita e o montante do prémio permite à atriz “remunerar de forma muito digna todas as pessoas que vai convidar para colaborarem” consigo no projeto, acrescentou.

“Isso para mim é fundamental, é um direito laboral”, enfatizou.

Entre os 12 convidados para o projeto estão personalidades de diversas áreas, “com diversas experiências de vida e que a atriz “admira muitíssimo e com quem quer aprender”.

A atriz Sara Carinhas, a presidente do Instituto da Mulher Negra em Portugal, Ângela Graça, a advogada Alcina Faneca, a ativista LGBT+ Verónica Lopes, a socióloga, investigadora e ativista pelas pessoas com deficiência Ana Catarina Correia, o ator e ativista antifascista Marco Mendonça e a cantora Muna contam-se entre os convidados para o projeto, adiantou a atriz.

Ainda este mês, a atriz revelará no ‘site’ Cassandra os 12 livros a ler em 2021, de modo a que as pessoas “se possam organizar para os comprar, requisitar ou pedir de empréstimo” .

Os encontros mensais realizar-se-ão através da plataforma Zoom, em modo fechado, permitindo a participação dos inscritos com a atriz e seus convidados.