A Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) quer classificar o bordado de crivo de São Miguel da Carreira, de Barcelos, como património imaterial, tendo aberto hoje um período de consulta pública de 30 dias.

Segundo o anúncio publicado hoje em Diário da República (DR), a proposta de integração no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial do projeto “Arte de Bordar o Crivo em São Miguel da Carreira” foi apresentada pelo gabinete para o Património Cultural Imaterial do município de Barcelos, do distrito de Braga, em 2022.

O anúncio dá conta do início do período de consulta pública e disponibiliza os elementos do processo de inventariação do bordado de crivo, que é um tipo de bordado a branco baseado na técnica do desfiado, ou seja, na remoção de fios a um tecido pré-existente.

“É no jogo estabelecido entre casas abertas e casas fechadas, ocupadas pelo referido bordado, que se dá forma ao desenho. O bordado de crivo é uma arte têxtil com particular expressão no sudeste do concelho de Barcelos, sobretudo na freguesia de São Miguel da Carreira, sendo historicamente tributária dos antigos linhares que pontuavam os campos desta região, já que são de linho os panos sobre o qual é executado o crivo”, lê-se na descrição patente na MatrizPCI.

O anúncio, assinado pela subdiretora-geral do Património Cultural, Rita Jerónimo, refere que “as observações em sede da presente consulta pública poderão ser apresentadas, de forma desmaterializada, através daquele sistema, podendo igualmente, em alternativa, ser endereçadas, em correio registado, à DGPC”.

Após a conclusão do período da consulta pública, a DGPC tomará uma decisão no prazo de 120 dias.

A arte do crivo adquiriu predominância a partir da segunda metade do século XIX, em paralelo com o bordado das Terras de Sousa e a renda de filé de Felgueiras.

Estas rendas são comercializadas com grande abundância em Guimarães, no Porto e na zona da Lixa, “assim satisfazendo a demanda que os núcleos urbanos tinham por estes artigos de feição decorativa”, mas a proposta alerta que a situação atual é “bastante frágil”.

“[Caracteriza-se] por uma acentuada redução do número de encomendas, tanto de particulares como de parte das lojas, o que resultou numa diminuição significativa do número de mulheres dedicadas a esta produção. Atualmente, apenas quatro bordadeiras, pertencentes a três unidades produtivas artesanais, dominam todas as fases de produção do bordado de crivo, entregando-se também a tempo integral, ou quase integral, a esta arte têxtil”.

Estas artesãs distribuem-se pelas freguesias de São Miguel da Carreira, Cambeses e São Martinho de Galegos.

Somam-se outras bordadeiras que trabalham apenas parcialmente quando recebem encomendas.

Na descrição da proposta são identificadas como bordadeiras Maria da Glória Faria de Jesus, Maria Ermelinda de Araújo Rodrigues, Maria Elisabete Rodrigues Dias e Maria da Glória Santos Alves Araújo, que “desempenham a sua atividade ao longo de todo o ano”.

“De modo singular, e contrariamente ao que acontece noutros centros nacionais de produção de crivo, a bordadeira de São Miguel da Carreira prende o tecido, com um conjunto de alfinetes de cabeça, a uma almofada de trapos, funcionando esta como uma espécie de bastidor, garantindo-lhe a flexibilidade necessária para trabalhar com formatos de diversas dimensões”, acrescenta.

A confeção do bordado de crivo passa por sete fases: riscar, alinhavar, rematar (execução do boleio ou da serrilha), marcar, tirar fios, tecer e bordar.

Inicialmente associado ao têxtil para o lar, o bordado de crivo de São Miguel da Carreira também é usado em contexto religioso, decorando toalhas de altar ou de batizado.

Mais recentemente, foram feitas “tentativas” de aplicar esta arte em peças de vestuário.