A revelação foi feita hoje por Joana Pinho, diretora das Livrarias Ler Devagar, durante a apresentação da programação da 8.ª edição do Folio - Festival Literário Internacional de Óbidos, que decorre entre 12 e 22 de outubro.

A apresentação foi feita na Casa Comum do Bairro Alto – Centro Cultural, em Lisboa, o local escolhido para ser o centro cultural a cuja criação José Pinho estava dedicado, um dos seus sonhos mais antigos, que foi interrompido pela morte prematura do livreiro, aos 69 anos, no dia 30 de maio deste ano.

Pedro Mexia junta-se ao É Desta Que Leio Isto no próximo encontro, marcado para dia 19 de outubro, pelas 21h00.

Poeta e crítico literário, escolheu para a conversa no clube de leitura o livro "A Terra Devastada", de T. S. Eliot.

Para se inscrever no encontro basta preencher o formulário que se encontra neste link. No dia do encontro receberá um e-mail com todas as instruções para se juntar à conversa.

Pedro Mexia, da poesia às traduções

Pedro Mexia nasceu em Lisboa, em 1972, e licenciou‑se em Direito pela Universidade Católica. Escreveu crítica literária e crónicas para os jornais Diário de Notícias e Público e também faz traduções; atualmente colabora com o semanário Expresso. Além disso, é um dos membros do "Programa Cujo Nome Estamos Legalmente Impedidos de Dizer" (SIC Notícias) e mantém, com Inês Meneses, o programa PBX. Foi subdiretor e diretor interino da Cinemateca.

T.S. Eliot e "A Terra Devastada"

A estreia de T. S. Eliot na poesia deu-se em 1915, na revista Poetry, de Chicago, onde saiu um dos seus mais famosos poemas, The Love Song of J. Alfred Prufrock. Este e outros poemas constituíram, em 1917, o seu primeiro livro

Em 1922 surgiu o poema The Waste Land — "A Terra Devastada", na tradução em português —, considerado um dos mais belos e mais importantes poemas do Modernismo.  O tema de The Waste Land é a decadência e fragmentação da cultura ocidental, concebida imaginativamente por analogia com o fim de um ciclo de fertilidade natural. O poema divide-se em cinco partes, que não obedecem a uma sequência lógica, e estende-se por 433 versos. A justaposição de símbolos, imagens, ritmos, citações e sequências temporais, contribuem para a dimensão épica do poema e reforçam a sua coerência artística.

“Nasce da vontade de voltar a trazer a este bairro um espaço de encontro, um lugar dedicado às coisas feitas em comum e que estão altamente ameaçadas pela forma de vida atual”, disse Joana Pinho, filha do livreiro, indicando que está “quase concluído”.

No final da apresentação, em declarações à Lusa, a responsável adiantou que a festa de inauguração da Casa Comum do Bairro Alto – Centro Cultural vai acontecer na noite de 31 de outubro e que o espaço abre portas no dia 01 de novembro, às 12:00.

Durante cinco dias, o lugar será palco de uma festa com uma programação específica, que ainda não está fechada, e a ideia é fazer desta uma iniciativa cíclica que se repita todos os anos, mas idealmente em abril ou maio.

“Vamos convocar pessoas para que a programação anual seja toda sempre à volta de uma obra, que pensámos que poderia ser quase sempre um livro”, disse, acrescentando que a obra escolhida para a primeira festa está escolhida e que é um livro abrangente, que abarca vários temas, à imagem da personalidade de José Pinho, mas não quis revelar ainda de que livro se trata.

Em torno da ideia de “fazer coisas em comum” que subjaz à criação deste espaço, a sala de cinema ficará no piso superior e a ideia é que as pessoas vejam um filme e depois saiam para “beber um copo, partilhar, conversar, comprar um livro”.

No piso de baixo vai ficar a livraria Ler Devagar - um espaço também para “demorar, folhear um livro, ouvir música” – e o Museu da Preguiça, uma sala composta por três bibliotecas particulares, uma delas de José Pinho, com a sua coleção de literatura erótica.

Neste museu haverá camas, armários de farmácia antigos – de que José Pinho era fiel depositário e onde guardava os seus livros – e qualquer visitante poderá “consultar livros, deitar-se a ler ou dormir uma sesta”.

O bar ficará localizado na cave – onde ficava o antigo armazém da Adega das Cegonhas - e será um espaço de apoio às livrarias, que terá a sua própria livraria de livros usados, e onde decorrerão conversas, discussões e serão programados concertos.

“A ideia é ter um espaço dinâmico”, disse Joana Pinho, acrescentando ainda que terá uma componente social, com parceiras e trabalho desenvolvido com o bairro.

O período de funcionamento do espaço será das 12:00 às 22:00, horário que se estenderá até às 02:00 às sextas e sábados.

Sobre a data escolhida para a abertura do Centro Cultural (01 de novembro), Joana Pinho contou à Lusa como tudo partiu de uma frase dita por José Pinho.

“Ele nunca estava quieto e às vezes as pessoas diziam-lhe ‘Zé tens de parar um bocado’ e ele respondia ‘eu só paro seis meses depois de morrer’”.

A diretora das livrarias disse que a intenção de José Pinho era abrir o Centro Cultural no dia 16 de junho, só com o telhado. “Mas ele morreu antes e nós decidimos abrir com mais do que o telhado”.

Nos últimos tempos José Pinho estava dedicado à criação daquele que era um dos seus sonhos mais antigos, um Centro Cultural e Social do Bairro Alto, projeto multidisciplinar para congregar livrarias, galerias, estúdios de cinema e de gravação de audiolivros e ‘podcasts’, salas de concertos e de artes performativas.