Antes de viajar temporariamente para o Brasil, o coração do "Rei Soldado", que chegou ao Porto em fevereiro de 1835 e que raras vezes saiu do mausoléu da capela-mor da igreja da Lapa, permanece em exposição aberta ao público.

Para o retirar do pequeno caixão de mogno guardado no mausoléu são precisas cinco chaves, mil cuidados e uma complexa operação.

Conservado em formol dentro de um recipiente de vidro e, este, dentro de um escrínio de prata dourada, o coração de D. Pedro IV e Portugal, D. Pedro I do Brasil, encantou os mais de 2.000 miúdos e graúdos, portuenses e estrangeiros, que até ao final da manhã de sábado o visitaram.

A exposição prolonga-se hoje, entre as 10:00 e as 16:00, sendo a entrada livre.

Depois do encerramento da exposição, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, e o embaixador da República Federal do Brasil em Lisboa, Raimundo Carreiro Silva, vão assinar o protocolo que define as condições da transladação e que garante que serão tidos em conta os cuidados necessários no transporte.

A cerimónia conta com a presença do coordenador nacional das comemorações do bicentenário da independência do Brasil, o embaixador Francisco Ribeiro Telles, e outras personalidades diplomáticas portuguesas e brasileiras.

Já durante a noite, o coração do monarca, cujo corpo se encontra na cidade brasileira de São Paulo, atravessa o oceano Atlântico, em ambiente pressurizado, para marcar presença nas comemorações do bicentenário da independência do Brasil, antiga colónia portuguesa que o rei conduziu à independência.

A transladação do órgão, prevista para as 00:20 de segunda-feira, será acompanhada pelo presidente da Câmara do Porto, que levará pessoalmente o coração ao Brasil com o apoio da Força Aérea Brasileira (FAB).

O coração de D. Pedro chega na segunda-feira pelas 09:30 (13:30 de Lisboa) à base aérea de Brasília, onde será recebido com honras militares. Da base aérea, a relíquia segue para o Palácio de Itamaraty - sede do Ministério das Relações Exteriores - na capital brasileira, de onde só sairá na terça-feira, pelas 16:00 locais, para marcar presença numa cerimónia no Palácio do Planalto - sede da Presidência - às 17:00.

Depois da cerimónia, onde estará presente o Presidente da República brasileiro, Jair Bolsonaro, o coração segue novamente para o Palácio de Itamaraty, onde será apresentado ao corpo diplomático e onde ficará em exibição "controlada" até às comemorações do bicentenário da independência, no dia 07 de setembro.

As diferentes cerimónias serão acompanhadas pelo presidente da Câmara do Porto que, na quinta-feira de manhã, preside no Instituto Rio Branco a uma palestra, intitulada "Dois povos unidos por um coração - o significado político e simbólico de D. Pedro para Portugal e o Brasil".

O coração de D. Pedro regressa à cidade do Porto no dia 09 de setembro, ficando novamente em exposição nos dias 10 e 11 de setembro, antes de voltar a ser guardado a cinco chaves.

A transladação temporária do coração de D. Pedro para o Brasil foi aprovada por unanimidade pelo executivo da Câmara do Porto no dia 18 de julho.

Aos vereadores, o presidente da Câmara do Porto garantiu que a peritagem técnica, solicitada ao Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses, concluiu ser possível realizar a translação mediante a "exigência de um transporte em ambiente pressurizado".

"A Câmara Municipal do Porto assegurará todas as diligências necessárias, assim como a articulação com outras entidades, em especial com as autoridades brasileiras, no que concerne à segurança da operação de transporte", salientou Rui Moreira.

O anúncio de que o governo brasileiro tinha enviado um pedido oficial a Portugal para a transladação do coração de D. Pedro foi feito a 30 de maio pelo embaixador brasileiro George Prata, um dos coordenadores das comemorações.

A confirmação de que o órgão viajaria temporariamente para o Brasil chegou a 22 de junho pelo presidente da Câmara do Porto numa conferência de imprensa.