Apesar de o facto de o Governo ter requerido a designação de Macau como “Cidade Gastronómica” da UNESCO colher o “reconhecimento da sociedade”, o deputado Chui Sai Peng advertiu que, “por detrás da alegria, vários operadores do setor da restauração afirmaram estar a enfrentar muitos desafios e obstáculos”.

O deputado, eleito por sufrágio indireto, falou em concreto de “espaços antigos de gastronomia típica” que como “negócios familiares” têm falta de mão-de-obra para expandir a atividade, encontram dificuldades na nova geração que, por “diversos motivos”, “não pretende dar-lhe continuidade”, além de se depararem com outros problemas como as “rendas elevadas”, o que fez com que, nos últimos anos, vários estabelecimentos tivessem fechado portas.

“Como é que se transmite a cultura gastronómica típica de Macau e se mantém a capacidade da ‘cidade gastronómica’ é um tema que merece ser discutido em conjunto”, afirmou Chui Sai Peng na sua intervenção antes da ordem do dia na Assembleia Legislativa.

Macau foi designada, na semana passada, Cidade Criativa da UNESCO na área da gastronomia, figurando como a terceira cidade na China, a seguir a Chengdu e Shunde, a conquistar este título gastronómico.

“O chefe do executivo sabe da situação da população e do setor, portanto, após a integração de Macau na rede de ‘cidades gastronómicas’, há que impulsionar os serviços competentes e o setor a empenhar-se na continuidade e divulgação da cultura gastronómica e no reforço da inovação e exploração”, argumentou.

Debruçando-se, em concreto, sobre os estabelecimentos de gastronomia típica, Chui Sai Peng apontou que “há que quebrar a tradição de não se ensinar técnicas aos outros”, defendendo que a passagem do testemunho não tem de passar em exclusivo pelos sucessores.

“O essencial é dar continuidade às técnicas culinárias, não se devendo ensinar apenas aos filhos, mas, sim, criar escolas ensinando discípulos para evitar o encerramento dos espaços antigos e a perda de continuidade da gastronomia”, afirmou, pedindo “novas políticas e medidas de apoio para dar continuidade às marcas gastronómicas de Macau”.

Ip Sio Kai e Kou Hoi In lançaram idêntico apelo: “No que respeita à continuidade da cultura gastronómica, o Governo deve adotar políticas e medidas de apoio em prol do desenvolvimento dos estabelecimentos antigos”.

Na sua intervenção conjunta, os dois deputados, também eleitos por sufrágio indireto, focaram-se na questão da licença de restauração, “cujo requerimento “perturba mais os setores industrial e comercial”, advertindo que o “longo processo” acaba por dissuadir operadores.

“Os requerentes desconhecem os procedimentos internos entre diversos serviços e têm que aguardar meio ano, um ano, ou ainda mais tempo. Assim, muitos operadores, os novos empreendedores e as PME [pequenas e médias empresas] que pretendem expandir a dimensão de negócios desistem de efetuar o requerimento, tendo em conta as rendas elevadas e o processo prolongado de emissão de licenças”.

Considerando “irrazoável” o tempo para a emissão de licença, entendem haver a “necessidade iminente de estudar a criação de um grupo de trabalho interdepartamental, de caráter prático, permanente e específico, com vista a resolver de vez os problemas”.

“Esperamos que, com a obtenção da designação de ‘cidade gastronómica’, se recorra à gastronomia para promover o setor do turismo e o desenvolvimento económico, devendo o Governo reforçar o apoio ao setor da restauração e oferecer prioritariamente condições favoráveis de negócio, otimizando-as, a fim de assegurar a verdadeira designação de ‘cidade gastronómica’.

Já Leong Sun Iok, eleito por sufrágio universal, apesar de destacar as “oportunidades de desenvolvimento” que se abrem com o recente feito, apontou que “a formação de quadros qualificados para o setor da restauração tem sido menosprezada ao longo dos anos”, deixando propostas para que esse cenário seja invertido que incluem estímulos aos trabalhadores ou o lançamento de cursos, ações de formação ou competições culinárias.