A decisão, tomada por unanimidade e anunciada na quarta-feira pelo ministro espanhol da Cultura, foi sustentada com o reconhecimento da “carreira de Peri Rossi como uma das grandes vocações literárias da atualidade numa grande variedade de géneros, pelo seu exercício constante de exploração e crítica, e pelo seu compromisso com temas como a condição da mulher e a sexualidade”.

O Prémio Miguel de Cervantes tem um valor pecuniário de 125 mil euros.

A literatura de Peri Rossi “é um exercício constante de exploração e crítica, sem se afastar do valor da palavra como expressão de um compromisso com questões-chave na conversa contemporânea, tais como a condição da mulher e a sexualidade”, disse o júri, que também destacou o seu trabalho como ponte entre a América Latina e Espanha que “deve permanecer uma lembrança perpétua do exílio e das tragédias políticas do século XX”.

Cristina Peri Rossi nasceu em Montevideu em 1941, mas vive em Barcelona desde 1974, altura em que se exilou devido à ditadura militar que reinou no Uruguai até 1985, tendo também nacionalidade espanhola.

A escritora considera a literatura, à qual se dedica há mais de 50 anos, como o último reduto contra a banalidade, e tem usado esse meio como um instrumento para falar a verdade ao poder e lutar contra as ditaduras e a favor do feminismo, dos exilados e dos homossexuais.

Considerada uma das escritoras mais destacadas em língua espanhola, é autora de uma vasta gama de obras narrativas, poéticas, ensaísticas e jornalísticas, traduzidas em 15 línguas.

Em Portugal existe apenas um livro da autora, “O amor é uma droga dura”, traduzido e publicado pela Teorema em 1989.

Licenciada em Literatura Comparada, começou a sua carreira de escritora em 1963 com o livro de contos “Viviendo”.

Em 1968 publicou o romance “Los museos abandonados” e em 1969 “El libro de mis primos”.

Em 1972, o seu trabalho e a menção do seu nome foram proibidos nos meios de comunicação social, por altura do golpe de estado que deu origem à ditadura militar uruguaia (1973-1985) e a autora exilou-se em Espanha, onde iniciou a sua atividade nas páginas da revista Triunfo.

Em 1974 fixou-se definitivamente em Espanha e obteve a nacionalidade espanhola.

Peri Rossi usa o seu segundo apelido em homenagem à sua mãe, que a ensinou desde muito cedo a amar a literatura, a música e a ciência, recordou a autora.

Além de escritora, é professora de literatura, tradutora e jornalista, sendo professora regular em universidades espanholas e estrangeiras.

As suas histórias foram publicadas em “Cuentos reunidos”, um volume no qual revê mais de 30 anos dedicados a narrar a experiência vital da existência.

Cristina Peri Rossi assume-se como uma escritora de espírito renascentista, aberta a todas as disciplinas e com interesses muito variados, e confessa um amor precoce pela pintura e pela fotografia.

Nas suas palavras, aquelas são duas expressões artísticas que “têm a virtude de reter o instante: conseguem fixar o tempo, aquele traidor que escorrega pelos dedos”, afirmou.

Também o cinema fascina a escritora, que confessou que este tem sido uma das suas “paixões mais intensas” desde que viu “E tudo o vento levou”, aos 11 anos de idade.

“Nunca pensei nisso como um passatempo (não quero que o tempo passe) mas como uma forma de arte e conhecimento”, acrescentou.

No que respeita à literatura, para Cristina Peri Rossi, a poesia é “o género principal”, embora afirme que se sente igualmente feliz a escrever poemas, romances ou ensaios, mas sublinha que “a poesia é uma essência e um modo de vida”.

Apenas cinco mulheres ganharam o Prémio Cervantes até agora, a última das quais a também uruguaia Ida Vitale, em 2018, depois das espanholas María Zambrano (1988) e Ana María Matute (2010), da cubana Dulce María Loynaz (1992) e da mexicana Elena Poniatowska (2013).

Os espanhóis Joan Margarit (2019) e Francisco Brines (2020) foram os dois últimos vencedores do Prémio Miguel de Cervantes para a Literatura em Língua Espanhola, que é atribuído anualmente pelo Ministério espanhol da Cultura e reconhece a figura de um escritor que, através da sua obra como um todo, contribuiu para enriquecer o legado literário hispânico.