Iniciativa do Movimento Rosa Damasceno, a “multidão espontânea" com ensaio do Curso de Artes do Espetáculo da Escola Secundária Dr. Ginestal Machado vai decorrer junto à fachada em ruína do edifício da autoria do arquiteto Amílcar Pinto, afirma uma nota do grupo de cidadãos que se encontra a realizar um “levantamento jurídico e técnico” do estado do imóvel, alvo de um incêndio em 2007 que destruiu o seu interior.

Para a tarde do dia 25 de junho, no Círculo Cultural Scalabitano, está agendada outra ação, uma sessão pública intitulada “Teatro Rosa Damasceno: Que Estratégia”, procurando dar continuidade à discussão iniciada no passado dia 08 de maio, centrada na “defesa da qualidade do espaço”, e que tem decorrido nas redes sociais, em particular na página na rede social Facebook do Movimento Rosa Damasceno.

Um dos membros do movimento, Tiago Soares Lopes, disse à Lusa que mais que a recuperação do imóvel, que entrou em fase de degradação depois de perder a sua função de cinema na década de 1990, é preciso discutir se na atual estrutura urbana da cidade continua a fazer sentido uma sala de espetáculos daquela dimensão (cerca de 900 lugares).

Para o arquiteto, a resposta só pode ser positiva, dada a dimensão reduzida dos outros teatros existentes no centro histórico de Santarém (o Sá da Bandeira, com cerca de 200 lugares, e o Taborda, 120), sendo importante que o “caminho a seguir” seja definido no âmbito de uma discussão “não contra ninguém” mas envolvendo todos, incluindo os proprietários do edifício.

À discussão em torno da ruína do Rosa Damasceno associou-se o arquiteto José Manuel Fernandes, que, num texto a que a Lusa teve acesso, retoma a defesa da reconstrução e desejável uso cultural do teatro.

Recuperando a carta que escreveu em 2007 na sequência do incêndio que, em março desse ano, destruiu o interior do teatro, o docente do departamento de História e Teoria da Arquitetura, Urbanismo e Design da Faculdade de Arquitetura da UTL recorda que o edifício mantém ainda “a preciosa fachada Art Deco e a estrutura de alvenaria dos vários alçados”.

José Manuel Fernandes lembra o “valor assinalável” do edifício como património arquitetónico do século XX, reconhecido pela classificação, em 2002, como Monumento de Interesse Público e pela inclusão no levantamento realizado pela Ordem dos Arquitetos em 2005-2006 e em publicações como o “Cinemas de Portugal” ou “Amílcar Pinto, um Arquiteto Português do Século XX”.

Edificado em 1937-38 com projeto de Amílcar Pinto (1890-1978), o Teatro Rosa Damasceno constitui “possivelmente o mais destacado exemplo de arquitetura modernista de toda a cidade escalabitana”, realça.

Recordando que o caso do Rosa Damasceno em Santarém “não constitui uma situação isolada”, José Manuel Fernandes refere, nomeadamente, o exemplo do Capitólio, que, “depois de rocambolescas e demoradas situações se encontra agora em fase (também demorada) de acabamentos”, numa “notável” recuperação, que restaura a feição original do edifício (1931), por iniciativa do município lisboeta.

Apontando as características do Rosa Damasceno, “tão ao gosto inovador e arrojado do seu tempo”, tanto no exterior como no interior (entretanto destruído), José Manuel Fernandes afirma que “o desaparecimento do imóvel poderia ser um desfecho previsível, dado o longo diferendo que opunha há anos a edilidade local aos proprietários”.

Contudo, defende, “não há que hesitar: o valor do que subsiste, passados vários anos do fogo, bem como o significado histórico e afetivo do imóvel para a cidade, obrigam a uma reconstrução do seu interior, evidentemente para novos usos, desejavelmente com sentido cultural”.

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