Na sessão inaugural da terceira edição do Fórum do Futuro, que vai decorrer até sábado em vários locais do Porto, Ravasi sublinhou que a primeira construção é a da própria criação, frisando, porém, a grandiosidade de outra construção que é o cérebro humano.

“Efetivamente, o cérebro é uma arquitetura admirável. Se neste momento pudéssemos, idealmente, simbolicamente, abrir o crânio e procurar contar quantos neurónios existem no cérebro. São centenas de milhões. Tantos quantas as estrelas da Via Láctea”, disse Ravasi, numa sessão em diálogo com o fundador e diretor da ArchDaily, David Basulto, no Rivoli.

Classificando assim o cérebro como um “microcosmos”, a par de outra construção que é a do corpo humano, o cardeal italiano – que falou na sua língua nativa – recorreu a citações de autores como Henry Miller (“ateu, profundamente anticristão”), Ezra Pound e Oscar Wilde para destacar o papel que a arte e a arquitetura têm na exposição daquilo que é belo.

“A arte e a arquitetura têm a tarefa de nos lembrar da beleza, da harmonia, que não é banal”, acrescentando, por outro lado, que a arte não tem a “tarefa de representar o real”.

Nesse sentido, no que classificou de uma crítica que poderia fazer aos arquitetos contemporâneos, Ravasi lamentou que dialoguem pouco com os outros artistas.

“Uma das mais belas igrejas do mundo é uma das mais feias arquitetonicamente. Isto é, das mais insignificantes. É uma capela, na verdade. No Vaticano. A Sistina. A Sistina, do ponto de vista arquitetónico é um retângulo, um paralelepípedo”, disse o cardeal que horas antes havia visitado a Igreja de Santa Maria, no Marco de Canavezes, acompanhado pelo autor, Siza Vieira.

No entanto, o lado artístico permite relevar a capela através desse diálogo que “neste momento não acontece tanto”: “O arquiteto preocupa-se justamente com o espaço, com a liturgia porque o corpo está dentro do templo, mas dialoga pouco com a arte”.

Também na abertura do Fórum do Futuro, o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, recordou que “durante os próximos dias o Porto vai ser a capital do futuro [e vai] discutir o que se passa neste mundo”.

“Não vamos apontar pistas, não vamos dizer qual é o caminho da política nem qual é o caminho da ciência. Vamos ouvir a inquietação, as dúvidas e principalmente um conjunto de personalidades que, a nosso ver, nos podem dar uma ideia sobre este mundo em que nós vivemos e de que todos gostamos apesar de nos afligir diariamente”, disse o autarca, antes de lembrar a morte do vereador Sampaio Pimentel, para quem pediu uma salva de palmas do público.