Nova Iorque, tantas vezes descrita como a capital do mundo, ou de um certo mundo, é nestes dias garantidamente a capital da moda. E foi num evento que decorreu em paralelo com a Semana de Moda de Nova Iorque que a estilista japonesa Hiromi Asai a sua coleção masculina. Até aqui tudo normal, até porque o Oriente  tem presença regular nestas passerelles. A novidade, no que diz respeito a Hiromi Asai, é que a "moda" que levou a Nova Iorque tem mais mil anos: nada mais, na menos do que a técnica de produção de quimonos fabricados segundo as técnicas de confecção e bordado seculares, precisamente com o objetivo de reviver essa arte ameaçada de extinção.

Especialista em quimonos, a estilista de 36 anos estreou-se na Semana de Moda de Nova Iorque em 2016, edição em que já tinha levado uma reinterpretação muito pessoal dos quimonos. Para lançar a sua primeira coleção, Asai conseguiu arrecadar 66.000 dólares numa campanha no site de financiamento coletivo Kickstarter. Mas essa primeira tentativa não foi suficiente para continuar. "O mercado ainda não estava ali", afirmou.

Decidiu, então, voltar-se para a moda masculina e apresentar a sua coleção "Blue" na edição deste ano. São fatos, gravatas, coletes e casacos com modelagens nada japonesas ou a lembrar os famosos quimonos."Há um pouco de fantasia, de leveza, mas não muito", disse Asai, que espera, por um lado, encontrar seu nicho no prêt-à-porter de luxo, mas também ajudar a salvar os artesãos do quimono já que a técnica de confecção usada é a mesma.

No Japão, vários estilistas, apoiam o setor, reinterpretando a lendária peça japonesa e trabalhando com novos materiais. Decidida a aventurar-se no setor masculino, Hiromi Asai colaborou com vários artesãos de todo o Japão que preparam os tecidos usando a tradição do quimono, utilizando como matéria-prima a seda, a lã e o algodão.

Os quimonos continuam a ser um dos símbolos nacionais do Japão, mas enquanto indústria têm assistido a um forte declínio. Em 1980, o setor valia 20 mil milhões de dólares e em 2015 este valor não ia além dos três mil milhões de dólares. À menor atractividade económica alia-se o envelhecimento dos artesãos que dominam as técnicas de produção, e os jovens que se mostram interessados em fabricar estas peças fazem-nos mais como hobby do que como profissão.

Nem todos compram um quimono de seda, mas um fato talvez sim

O propósito de Hiromi Asai é trazer os quimonos para os ambientes ocidentais e transformá-los em peças de alta costura mundial. Tendo como prioridade o reconhecimento dos quimonos autênticos, mesmo que nem todos possam comprar  um quimono de seda feito à mão. Mas, para que isso seja possível a estilista testa agora novas abordagens, nomeadamente com as colecções para homem. "Quero mostrar o quimono como uma peça de moda além das fronteiras culturais e étnicas, mas se me prender apenas ao quimono autêntico não vamos conseguir encontrar a chave para resolver um conjunto de problemas que existe nesta indústria", afirmou à NBC News.

E é assim que em Nova Iorque apresenta este ano a sua coleção para homem. Para diminuir os preços das peças, negociou diretamente com os artesãos sem passar pela rede de intermediários que trabalha nesse mercado, explicou a estilista, e contou com o apoio de novos investidores para financiar a coleção.

As suas peças podem chegar a custar cerca de 6.000 dólares, mas segundo ela, se tivesse usado intermediários poderia alcançar 20.000 ou até 30.000 dólares. Instalada desde 2008 em Nova Iorque, Asai preferiu mostrar suas criações no Ocidente porque "a maioria dos homens japoneses seguem as tendências que vêm do exterior".

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