E é no livro editado pela Bertrand Editora, no capítulo referente à jornada no Panamá, que a vaticanista relata o entusiasmo e dá conta de algumas peripécias vividas em torno da possibilidade de a jornada seguinte se realizar em Portugal.

“O cardeal-patriarca, D. Manuel Clemente, oficializou o pedido junto do Vaticano, mas há outras propostas apresentadas pelos arcebispos de Estocolmo e de Praga”, refere Aura Miguel, apontando que a decisão terá de ser tomada até ao encontro no Panamá, previsto para janeiro de 2019.

Eis senão que, em 30 de novembro de 2018, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, na inauguração do bazar diplomático em Lisboa, “quando se aproxima da banca do Panamá, avança com entusiasmo e de braços abertos para a diplomata que o recebe. ‘En enero allí estaremos. En enero!’ (Em janeiro lá estaremos. Em janeiro!”.

Com a notícia a ser divulgada pela imprensa, “o desconforto de alguns setores da Igreja é evidente, pois a divulgação antecipada de uma possível vinda do Papa a Portugal pode estragar tudo”, o que leva o próprio padre Manuel Barbosa, secretário da Conferência Episcopal Portuguesa, a afirmar que “o evento até pode nem ser realizado cá” e que a fuga de informação pode “levar o Papa a tomar uma decisão contrária”.

Enquanto isto, e segundo o relato da Aura Miguel no seu livro, “uma fonte do Palácio de Belém (…) afasta a hipótese de a fuga ter saído da Presidência" e que "Marcelo Rebelo de Sousa ficou surpreendido com o anúncio antecipado”.

Apesar deste percalço inicial, é conhecido todo o desenrolar do processo até ao anúncio oficial feito no dia 27 de janeiro de 2019, na Cidade do Panamá, no final da missa. Também este, um momento cheio de peripécias.

“No final da missa, o cardeal Kevin Farrell (…) dirige uma breve saudação ao Papa. Em seguida, de acordo com o guião distribuído aos jornalistas, Francisco deve anunciar pessoalmente a cidade escolhida para a próxima edição das JMJ. Mas nada disso acontece”, descreve a jornalista, acrescentando que Francisco, “não só não fala de Lisboa, como acrescenta: ‘Já foi anunciado o local da próxima Jornada Mundial da Juventude, peço-vos para não deixar resfriar o que vivestes nestes dias’”.

A missa “deveria terminar em apoteose, mas nada acontece. Durante uns bons minutos, há 700 mil pessoas em pausa, sem aplausos nem vivas, porque ainda ninguém anunciou nada”, descreve no seu livro, acrescentando que finalmente, “lá no altar, dão-se conta da gafe e, depois de falar com o Papa, o cardeal Farrell aproxima-se do microfone para anunciar publicamente a cidade escolhida para a próxima JMJ… mas também se engana”. Em vez de dizer Lisboa, disse Portugal.

Neste capítulo, Aura Miguel descreve a “explosão de alegria” que então viveram os jovens portugueses presentes, a subida de Marcelo Rebelo de Sousa ao palco para cumprimentar o Papa e o “desapontamento” de Fernando Medina, então presidente da Câmara de Lisboa, por não ouvir falar da sua cidade.

O dia viria a ficar ainda marcado pelo conhecido vídeo gravado por Marcelo Rebelo de Sousa, no qual afirma entusiasticamente: “Conseguimos! Esperávamos, desejávamos, conseguimos!”.