"Vivemos num mundo de música descartável, música fast food, sem qualquer conteúdo. Isto pode ser uma vitória para a música, de pessoas que fazem música que significa algo. Música não é fogo de artificio, música é sentimento. Vamos tentar mudar isso e trazer a música de volta ao que realmente importa".
Assim falou Salvador, vencedor da Eurovisão, com "Amar pelos dois", tema com letra e música de Luísa Sobral, irmã do cantor, que obteve 758 pontos na votação combinada dos júris nacionais e do público, na final do festival disputada em Kiev.
As imagens da festa portuguesa na Eurovisão
Já depois de subir ao palco para cantar o tema com Luísa, Salvador, em entrevista à RTP, disse pela sua mente neste momento "passa muita coisa". Retomando a ideia da intervenção anterior, Salvador considera esta "uma vitória para a música em geral".
Apesar de reconhecer que "estas coisas são efémeras e que amanhã já ninguém se lembra", o cantor valoriza este "bom passo" que é as pessoas se envolverem com uma música "com tanto conteúdo emocional, lírico e melódico". "Acho que isto pode ajudar, de alguma maneira, a, se calhar, nos próximos anos, trazer música com um bocadinho mais de significado a todos os níveis".
Salvador disse que "nunca duvidou" do talento da irmã. "Agora acho que toda a Europa pode ver que qualquer canção que ela faça a toca toda a Europa", acrescentou.
De visível bom humor, Salvador brincou dizendo que ia vender o troféu no ebay.
Para já, o cantor disse estar a pensar na tourné no verão e "é isso que importa. Depois logo se vê".
Salvador agradeceu a Portugal pelo apoio e adiantou que começou a acreditar na vitória ao verificar a recepção da música por parte das delegações internacionais e ao acompanhar a evolução das informações provenientes das casas de apostas que lhe davam a vitória.
O músico disse ainda que o vídeo do Caetano Veloso a dizer que queria que ele vencesse o festival "vale mil vezes mais do que esta coisa [o prémio]. Esse vídeo do Caetano seria impensável e deixa-me super feliz".
Questionado sobre um eventual regresso à Eurovisão, o músico disse que "não voltaria a concorrer", mas para o ano podemos contar com a sua presença na cerimónia.
"Eu não entendi os votos"
Mais tarde, na conferência de imprensa, quando questionado sobre a forma como viveu a votação, Sobral confessou que não estava a perceber a contagem. "Eu não entendi os votos, penso que são muito difíceis de entender, penso que tens de ser um matemático ou assim, mas então alguém da nossa equipa disse-nos que ganhámos. Foi uma surpresa foi bom", disse.
Confrontado com o facto de a sua música não ser 'material de rádio', o músico limitou-se a dizer: "Eu nunca escrevi uma canção para tocar na rádio. O meu álbum saiu em 2016 e ninguém quis saber. Depois deste festival as pessoas ficaram a conhecer-me e estou grato por isso".
O Salvador é um herói nacional? "Não, acho que o herói real é o Ronaldo. Se pensasse em mim como herói seria estranho", afirmou. "Honestamente, só quero viver uma vida pacífica. Espero que isso possa acontecer e ser que vai ser possível, mesmo que no início seja mais confuso", acrescentou.
Ainda sobre o mote deste festival - a celebração da diversidade - Sobral disse que premiar "Amar pelos dois", cantada em português, é "claramente" uma celebração da diferença. O músico disse ainda não ter tido a tentação de cantar a música em inglês, algo que poderia ter aumentando as suas hipóteses no festival. "Queria apenas cantar uma linda canção tal como ela é, em português".
Também Luísa, sentada ao lado do irmão, participou da conferência de imprensa. A compositora acredita que o sucesso da música se deveu à sua "simplicidade" e a interpretação de Salvador. "Acho que se lhe desse uma canção de parabéns ele venceria à mesma", brincou.
Com este tema, "Amar pelos dois", Portugal regressou à Eurovisão, após um ano de ausência, onde se estreou em 1964. Até à data, a melhor classificação portuguesa no concurso tinha sido um sexto lugar em 1996, com a canção “O meu coração não tem cor”, interpretada por Lúcia Moniz. Já a última vez que Portugal competiu numa final do Festival Eurovisão da Canção foi em 2010.
Este ano, assinalou-se a 62.ª edição do concurso, tendo Portugal falhado cinco edições (em 1970, 2000, 2002, 2013 e 2016).
A edição 2017 do Festival Eurovisão da Canção ficou marcada por um conflito entre Ucrânia, país anfitrião, e a Rússia. A 13 de abril, a Rússia anunciou que não iria participar no concurso após a Ucrânia ter impedido a entrada da concorrente russa em território ucraniano. A cantora Yulia Samoylova está proibida de entrar na Ucrânia durante três anos, por ter dado um concerto na Crimeia em junho de 2015, após a anexação russa daquela península em 2014. A organização do festival, que insistiu na participação da cantora russa, ameaçou excluir a Ucrânia das próximas edições do concurso se Kiev insistir em proibir a entrada de Yulia Samoylova no país. A Rússia já anunciou que a cantora irá representar o país na edição de 2018 do concurso.
A final do Festival Eurovisão da Canção foi disputada por 26 países.
Os países que participaram na final do Festival Eurovisão da Canção 2017 foram Portugal, Moldávia, Azerbaijão, Grécia, Suécia, Polónia, Arménia, Austrália, Chipre, Bélgica (apurados na primeira semifinal), Áustria, Roménia, Holanda, Hungria, Dinamarca, Croácia, Noruega, Bielorrússia, Bulgária, Israel (apurados na segunda semifinal), França, Alemanha, Itália, Espanha, Reino Unido (os denominados 'Cinco Grandes') e a Ucrânia.
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