A professora dá aulas em Salluit, uma localidade remota na região canadiana do Ártico, no Quebec, a alunos do ensino preparatório e secundário. E foi por desenvolver um trabalho numa zona onde a maioria dos professores desiste a meio do ano, que venceu o Global Teacher Prize, no valor de um milhão de dólares.

Maggie MacDonnell, que segundo o júri está a "mudar a vida dos seus alunos e a transformar uma comunidade", estava entre os dez finalistas escolhidos entre os 20.000 candidatos de 179 países.

Esta tem sido amplamente elogiada pelo que tem feito na comunidade local, onde as duras condições climatéricas e sociais, funcionam com uma autêntica barreira para a educação. As temperaturas na região chegam a atingir os - 25C negativos e o único modo de transporte para lá chegar é o avião.

Esta pequena cidade tem ainda a particularidade de ser habitada por uma comunidade indígena esquimó: os Inuit. Com pouco mais de 1.300 habitantes, Salluit é uma área que vive sob um grande isolamento e com recursos limitados, onde se registam taxas elevadas de abuso de drogas e suicídio entre os adolescentes.

A própria MacDonnell disse ter sido testemunha de mais de 10 casos.

"Como professora, quando chego à escola no dia seguinte a um suicídio, há um assento vazio na minha aula, onde impera um silêncio total", conta.

Nesta região de Nunavik, no Québec, para além do elevado índice de gravidez na adolescência e os abusos sexuais, existe um severo problema de género em que o papel das raparigas se resume maioritariamente a tarefas domésticas. Para fazer face a esta disparidade, criou um programa específico para raparigas que permitiu que estas trabalhassem em áreas tipicamente dominadas pelos rapazes.

Numa delas, garantiu 30 mil dólares para financiar um projeto que prepara refeições para a comunidade. Noutra, conseguiu uma parceria com uma creche onde os seus alunos iriam trabalhar nas salas de aula com gente especializada para melhorar a sua compreensão da educação infantil. Porém, ainda engendrou maneira de angariar mais 20,000 dólares para elaborar um programa de nutrição na escola, para que os alunos soubessem preparar lanches saudáveis para os seus amigos e colegas.

A abordagem da professora passa pela aproximação aos alunos que estão envoltos em "problemas" e arranjar-lhes "soluções". Para isto, organiza iniciativas que, entre outros casos, permitem combater o abandono escolar. Exemplos específicos incluem: gerir uma cozinha comunitária, participar em treinos que tratam a prevenção de suicídio e caminhar por parques nacionais para que os alunos consigam perceber e entender melhor aquele que é o trabalho na administração ambiental. No entanto, o trabalho não se fica por aqui: também tem sido uma mãe temporária de acolhimento na comunidade, inclusive para alguns de seus próprios alunos.

Um problema antigo

Numa entrevista ao britânico The Independent a professora falou das dificuldades políticas que assolam a pequena comunidade local.

"Há um enorme trauma entre gerações. Décadas de questões políticas levaram a que as famílias ficassem perturbadas e se virassem para a bebida, drogas e violência. Os jovens acabam por nascer nessa situação", disse. "Em muitas ocasiões estes jovens não podem ir para casa à noite, porque não é seguro", explica a professora.

Face a esta realidade, não é de estranhar que os adolescentes optem por se deixar seduzir pela bebida e por substâncias ilícitas e as utilizem como escape. Para combater esta tendência, Maggie criou um centrou de fitness para que os jovens pudessem ter um local onde praticar exercício e adotar um estilo de vida saudável. Desta forma, acredita, aliviam o stress e ajuda-os a crescer fisica e mentalmente.

No ano passado, o governo canadiano realizou uma reunião de emergência para abordar as altas taxas de suicídio dentro das comunidades indígenas nos territórios do norte. Só em 2015 registaram-se seis suicídios em Salluit. Todos do sexo masculino e com idade comprometidas entre os 18 e 25 anos.

Todavia, MacDonnell considera que a taxa de mortalidade é muito mais extrema do que estes números revelam. "Antes de me mudar para Salluit, estive em dois funerais. Algumas destas crianças foram a 40, 50 ou mais".

Sobre o prémio, o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, congratulou MacDonnel numa mensagem de vídeo que foi transmitida durante a cerimónia. "Maggie MacDonnell, em nome de todos os canadianos, e de um professor para outro, parabéns pela vitória do Global Teacher Prize 2017".

O Global Teacher Prize foi criado há três anos pela Varkey Foudantion, uma organização sem fins lucrativos, fundada pelo indiano Sunny Varkey, que criou um grupo que detém mais de 250 escolas espalhadas pelo globo. O prémio de um milhão de dólares é pago a prazo e exige que o vencedor continue a dar aulas, pelo menos, nos próximos cinco anos.

[Artigo atualizado às 00:57]

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