O projeto “Life Med-Wolf – Boas Práticas para a Conservação do Lobo em Regiões Mediterrânicas”, destinado a diminuir o conflito entre as atividades humanas e a presença do lobo em zonas rurais dos distritos da Guarda e Castelo Branco, está a chegar ao fim.

Iniciada em setembro de 2012, a iniciativa coordenada em Portugal pelo Grupo Lobo, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa – decorreu em simultâneo na província italiana de Grosseto – termina no final deste ano.

O objetivo das várias ações levadas a cabos nestes quatro anos e meio era minimizar os prejuízos das explorações pecuárias e sensibilizar criadores de gado, as populações e os mais jovens para a importância do lobo-ibérico, além de estudar o último dos grandes carnívoros de Portugal. Neste período foram realizados inquéritos ao público, produzidos conteúdos escolares e divulgada informação sobre este predador tão ameaçado e que é uma espécie protegida no nosso país. Contudo, o projeto atuou sobretudo na prevenção de prejuízos, apoiando o uso de vedações elétricas, a utilização de bons cães de proteção e um maneio correto do gado para reduzir o risco de ataques do lobo.

Os criadores de gado foram o público-alvo do projeto, tendo recebido 31 cães da Serra da Estrela, selecionados pelas suas aptidões para guardar o gado e apoiados pelo projeto, em termos veterinários e de alimentação, sem custos para as explorações pecuárias. Estes cães de gado entraram “ao serviço” em 16 explorações, maioritariamente de bovinos e ovinos, uma de caprinos e outra de burros, situadas nos concelhos de Figueira de Castelo Rodrigo, Pinhel, Almeida, Guarda e Sabugal. Segundo informação do Grupo Lobo, esta medida resultou na redução «de 60 por cento do número de animais afetados por ataques de lobos. São resultados ainda preliminares, pois muitos dos cães ainda não atingiram a maturidade», refere a associação.

Dezanove criadores receberam, também graciosamente, material para a construção de vedações à prova de lobo, tendo sido instaladas 34 vedações (27 em Almeida, 4 em Pinhel, 2 na Guarda e 1 no Sabugal), que protegeram perto de 3.000 animais (2.000 bovinos, 880 ovelhas e 26 avestruzes). «De 0,24 ataques por mês que cada uma destas explorações sofria, em média, passou-se para 0,04 – uma redução de 83,3 por cento. O número de cabeças de gado afetadas foi reduzido em 88,1por cento», adianta o Grupo Lobo.

A vertente científica foi outro dos pilares deste projeto, tendo sido implementado um programa de monitorização das populações lupinas na área de intervenção e realizadas várias reuniões técnicas de intercâmbio transnacional, bem como o IV Congresso Ibérico do Lobo, realizado em Castelo Branco. Também o contacto com os jovens mereceu destaque através de inúmeras atividades, enquanto a população da área do projeto foi alvo de duas sondagens, em 2013 e 2017. «Constatou-se que, apesar da intensificação da presença do lobo, as atitudes face a este predador conseguiram sentir uma ligeira evolução positiva», acrescentam os responsáveis em comunicado. O Ecoturismo centrado na presença tutelar deste predador também esteve na origem de cinco passeios pedestres.

«A coexistência entre o Homem e o lobo na região raiana pode ser mais harmoniosa e proveitosa. Para isso, este projeto teve como missão principal apoiar os interessados locais na resolução dos conflitos com um predador que tem um importante lugar na nossa História, na nossa Cultura e também na preservação de um equilíbrio ecológico fundamental para muitas atividades económicas», conclui o Grupo Lobo, que apresentou na semana passada um balanço do seu trabalho.

População de lobos estável em Portugal

Em novembro de 2016, o projeto “Life Med-Wolf” divulgou os primeiros dados sobre a população de lobos ibéricos em Portugal que revelavam que a população se tem mantido estável nos últimos anos e está distribuída por zonas do Norte e Centro.

A espécie existe na área do Minho, Peneda/Gerês e norte do distrito de Bragança, «em que a população tem uma boa densidade e é estável». Há também lobos na Serra da Arada (Viseu) até à zona de Trancoso (Guarda), com uma população «de baixa densidade, mas estável», enquanto no distrito de Vila Real os animais têm diminuído ao longo da última década. Já na zona da raia, entre os rios Douro e Tejo, existe outra população identificada que é «muito flutuante e dinâmica, sobretudo ao nível de novos indivíduos», adiantou na altura o presidente do Grupo Lobo, Francisco Fonseca.

A associação tem um centro de recuperação do lobo ibérico, perto de Mafra, onde os animais são tratados para serem devolvidos à natureza.

Por: Luis Martins

 

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