Este ano, ela é mesmo a única rebuçadeira de Braga, já que a outra que ainda resistia “não tem aparecido”.

“Isto dá muito trabalho, não pense que é fácil”, atira Susana Veloso, 47 anos, rebuçadeira há sete.

É Susana Veloso quem faz os rebuçados, em casa, e garante que a receita é simples: é “só meter açúcar e água numa panela e pôr a cozer durante uma hora”.

Depois, espalha-se a “pasta” em cima do mármore e corta-se os rebuçados, “à mão”.

“Pois, é claro que há um segredo, mas esse…”, disse a rebuçadeira, com um sorriso, escusando-se a revelar pormenores.

Há ainda que cortar o papel multicolorido em que se embrulham os rebuçados e “fazer as franjinhas”.

Como diz Susana Veloso, “são noites e noites a dar-lhe”.

De dia, monta a banca à porta das igrejas onde decorre o lausperene quaresmal, ajudando as pessoas a identificar os templos que têm “o Senhor exposto”.

“São 22 igrejas que percorro ao longo da Quaresma, fico dois dias à porta de cada uma delas”, explica.

Por um saquinho com 15 rebuçados, cobra um euro.

Não se queixa do negócio, sobretudo nestes dias mais chegados à Semana Santa, em que a cidade espera cerca de 100 mil pessoas.

“Vai-se vendendo, mas não dá para ficar rica. Enquanto puder, não deixo cair a tradição”, garante.

Uma tradição que a Comissão da Semana Santa não quer deixar morrer, tendo este ano decidido “qualificar” a presença dos vendedores dos “rebuçados do Senhor”.

Para dar visibilidade à atividade, a Comissão disponibilizou bancas, guarda-sóis e aventais personalizados, além de pequenos prospetos que são distribuídos conjuntamente com o saco de rebuçados e que contam a história da tradição.

Os transeuntes olham, passam e “vão comprando”.

Uns dizem que é pela tradição, outros alegam que é para dar aos netos, outros simplesmente assumem-se gulosos.

“O que é doce nunca amargou. É servido?”, diz um homem “entrado na idade”, enquanto mete na boca um dos 15 “rebuçados do Senhor” que acaba de comprar.