Fernando Mora Ramos, encenador do Teatro da Rainha, companhia residente nas Caldas da Rainha, tem assim “morte anunciada” para dia 11 de outubro. Como ator, vai “morrer de costas”, no papel do vizinho de um casal de idosos que vive isolado nos confins de um fiorde, no interior da Noruega, numa peça de que fala “de isolamento e incomunicabilidade”, como explicou à agência Lusa.

O “drama psicológico” vivido no interior do “país mais rico do mundo, com o maior rendimento per capita, como dizem as estatísticas”, não anda longe, no entender de Mora Ramos, “do que se vive por cá, no interior quase deserto” e na solidão “das gerações que não conseguem comunicar".

E é por isso que mais do que escolher a peça para levar à cena nas Caldas da Rainha, a companhia se sente “escolhida pelo autor”, um clássico contemporâneo que põe a nu “a impossibilidade de comunicar quando o outro não quer ouvir”.

Em “O filho”, Jon Fosse elegeu o 'nynorsk' (neo-norueguês) como língua de escrita, ”um dialeto que, desde o século XIX, coexiste no território norueguês com o bokmall ('língua dos livros'), herdado do dinamarquês" e que, segundo Mora Ramos, “remete para esse conflito de dois mundos”, entre "uma geração que vive isolada e o filho que volta da cidade, com novas linguagens”.

Isabel Lopes, António Parra, Carlos Borges e Fernando Mora Ramos dão corpo às personagens da peça traduzida por Isabel Lopes e pelo encenador, com estreia marcada para dia 11, na Sala Estúdio do Teatro da Rainha.

Com cenografia de José Carlos Faria, o espetáculo ficará em cena até 10 de novembro, de quinta a sábado, às 21:30, e durante a semana haverá sessões para escolas, mediante marcação prévia.

Jon Fosse, dramaturgo e escritor norueguês, nascido em 1959 em Haugesund, é considerado um dos mais importantes escritores e dramaturgos da atualidade.

Recebeu desde 1988 diversos prémios, entre os quais o Prémio Ibsen, que lhe foi atribuído em 2010 e 2012.

As suas mais de trinta peças foram encenadas mais de novecentas vezes em todo o mundo e traduzidas em mais de quarenta idiomas.

Colaborou como libretista com Georg Friedrich Haas, na ópera "Melancholia" (Ópera de Paris, 2008) e em "Manhã e noite" (Royal Opera, 2015).

Em Portugal tem publicado, na coleção Livrinhos de Teatro, dos Artistas Unidos, com a editora Livros Cotovia, "A Noite canta os Seus Cantos", "Inverno", "Lilás", "Sou o Vento/ Sono/ O Homem da Guitarra" e na coletânea "Conferência de Imprensa e Outras Aldrabices". Na Livros Cotovia foi publicado o romance "É a Aless", tendo a antiga Campo das Letras editado "Sonho de Outono" e "O Nome".

Em palcos portugueses, nomeadamente através da companhia Artistas Unidos, foram já apresentadas as peças "Vai vir alguém" e "Sono de Outono", dirigidas por Solveig Nordlund, "A noite canta os seus cantos", com encenação de João Fiadeiro, "Inverno", por Jorge Silva Melo, "Lilás", por João Miguel Rodrigues, e "Morte em Tebas", numa leitura dirigida por Jorge Silva Melo, para o Teatro Nacional D. Maria II.

Para a Antena 2 foi montada a versão rádio de "A noite canta os seus cantos".