Até 30 de dezembro, as pessoas que passam pela Alta deixam de ouvir a “Cabra” (a torre da Universidade de Coimbra) a dar as horas às 18:00, altura em que os carrilhões da universidade participam, juntamente com os da Sé Nova e da Igreja de São Bartolomeu, numa escultura sonora de João Onofre que se estende ao longo de 14 minutos e 30 segundos.

A obra, criada no âmbito da bienal de arte contemporânea de Coimbra anozero, surgiu da vontade de o artista "criar uma grande escultura sonora, uma grande obra de arte contemporânea em espaço público utilizando os sinos", explicou à agência Lusa João Onofre.

As torres sineiras desenham "um triângulo na cidade velha", permitindo que "quem esteja a passear" por esta zona "tenha várias perceções sonoras da peça", tocada por cinco intérpretes todos os dias, contou.

A obra, intitulada "Unttitled (bells tuned D.E.A.D.)", consiste em tocar as notas ré, mi e lá nos carrilhões das torres, sendo que D.E.A.D (morto em inglês) remete para a escala anglo-saxónica, em que D é ré, E é mi e A é lá.

Inspirada por uma peça do artista norte-americano Bruce Nauman, a obra começa com "um chamamento de São Bartolomeu", ao que "a Sé Nova responde, passados 30 segundos", iniciando-se "um diálogo" entre a Alta e a Baixa da cidade, em toques muito prolongados, contrastando com o habitual "toque mais pífio" da “Cabra”, que dá as horas diariamente na Alta, referiu João Onofre.

Segundo o artista, esse diálogo atinge o "clímax nos últimos quatro minutos, pela própria forma de percutir os sinos, que ganham umas dinâmicas especiais", "num crescendo muito grande das igrejas" da Sé Nova e São Bartolomeu, acabando "com uma coisa mais rápida e urgente que para com um corte abrupto".

"Queria espacializar a composição - essa ideia de criar algo que nos afetasse, que nos rodeasse e que sentíssemos essa envolvência na cidade de Coimbra", sublinhou João Onofre.

A peça pode ser ouvida todos os dias pelo centro histórico até 30 de dezembro, às 18:00.