Numa visita com a imprensa à exposição, que abre ao público na sexta-feira, no Museu Nacional de Etnologia, as comissárias holandesas Suzan van den Berg e Sophie Boshouwers destacaram a grande diversidade das 155 fotografias exibidas.

"Há imagens difíceis de ver, outras agradáveis e até muito belas. Todas elas celebram o jornalismo atual, as histórias que acontecem no mundo e que marcam", disse a curadora Suzan van den Berg à agência Lusa.

Questionada sobre o facto de a fotografia que recebeu o prémio mais importante do concurso, do turco Burhan Ozbilici, não estar à entrada da exposição, como é habitual nestas mostras, a curadora disse que tinha sido uma opção de ambas as curadoras.

"Não é realmente necessário que a imagem que recebeu o maior prémio esteja à entrada. Ela foi muito debatida, o que foi bom, mas nós optámos por não o fazer", justificou.

O próprio presidente do júri do concurso World Press Photo 2017, Stuart Franklin, revelou, em fevereiro, quando o prémio foi revelado, que votou contra a imagem do assassinato do embaixador russo na Turquia.

"Esta imagem de terror não deveria ser a fotografia do ano. Eu votei contra", afirmou o presidente do concurso internacional num artigo de opinião publicado, na altura, na edição ´online´ do jornal britânico The Guardian.

A foto escolhida pelo júri do prémio internacional mostra o polícia turco de pé, ao lado do corpo do embaixador Andrei Karlov, após o assassinato, que ocorreu durante um discurso, na inauguração de uma exposição de arte na capital da Turquia.

A imagem, captada por Burhan Ozbilici, fotógrafo da Associated Press, faz parte de uma série intitulada "An Assassination in Turkey" ("Um assassinato na Turquia"), que também conquistou o World Press Photo na categoria "Spot News - Stories".

"É a imagem de um assassinato, com o assassino e o morto, ambos na mesma fotografia, e moralmente é tão problemático como publicar um terrorista a decapitar a vítima", sustentou o presidente do júri.

"Colocar esta fotografia num pedestal tão alto é um convite àqueles que contemplam a espetacularidade destes palcos: reafirma a associação do martírio e publicidade", considera ainda.

Franklin elogiou o trabalho do fotógrafo turco e considera que merece reconhecimento, mas recorda que o debate sobre esta questão não é novo e que o seu voto contra foi por recear que os grandes prémios amplifiquem as mensagens de terroristas pela publicidade adicional.

É a terceira vez que a cobertura de um assassinato vence o concurso World Press Photo, sendo a mais conhecida a da morte de um suspeito guerrilheiro Vietcong, captada por Eddie Adams em 1968.

Na exposição, as fotografias percorrem oito categorias, desde o desporto, a natureza, a vida quotidiana, e revelam muita da violência atual no mundo: a guerra na Síria, a crise de refugiados que tentam atravessar o Mediterrâneo, onde muitos deles perdem a vida, as prisões nas Filipinas, onde os detidos dormem alinhados em escadas, sem poder esticar as pernas.

Nos projetos de fundo, surgem, entre outras, imagens de aspetos menos visíveis da vida no Irão, que possui uma das taxas mais elevadas do mundo de cirurgias ao nariz, ou temas relacionados com a natureza, com a criação de pandas gigantes em cativeiro para serem libertados na reserva natural de Wolong, na China.

A imagem vencedora deste ano foi escolhida entre 80.408 fotografias submetidas a competição por 5.034 fotógrafos de 125 países e o júri premiou 45 fotógrafos de 25 países.

A exposição, patente até 21 de maio, é organizada pela World Press Photo Foundation, uma organização sem fins lucrativos fundada em 1955, e, à semelhança das edições anteriores, a realização é assegurada pela Revista Visão e pela SIC Notícias.