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Newsletter diária • 20 abr 2021

 
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Os milhões que são a favor da Superliga Europeia

 
 

Edição por Tomás Albino Gomes

Já passaram mais de 24 horas desde que no domingo seis clubes ingleses (Arsenal, Chelsea, Liverpool, Manchester City, Manchester United e Tottenham), três espanhóis (Atlético de Madrid, FC Barcelona e Real Madrid) e três italianos (AC Milan, Inter Milão, e Juventus) anunciaram, à revelia de UEFA, federações nacionais e vários outros clubes, a criação da Superliga europeia. E são milhões os que aplaudem esta ideia.

Por cá, neste país e neste continente onde o futebol é desporto-rei, com mais de 100 anos de tradição em vários países, provavelmente não ficámos com essa perceção. Gary Neville, antigo jogador do Manchester United atacou, poucas horas após o anúncio, a ideia, Rudi Völler, vencedor da Liga dos Campeões com o Marselha (1993) e hoje treinador do Bayer Leverkusen, igual. O campeão do mundo em 2014 Lukas Podolski classificou a iniciativa como um "projeto nojento e injusto”. Mesut Özil, do Arsenal, manifestou-se contra, Ander Herrera do Paris Saint-Germain também. Luís Figo disse que esta era uma “ jogada gananciosa e insensível”. O Bayern Munich e o Borussia Dormtund, que estavam na calha para fazer parte do grupo de clubes fundadores da Superliga, demarcaram-se da ideia e Karl-Heinz Rummenigge, presidente dos bávaros, deu vós à indignação alemã. A tudo isto, somaram-se vários vetos institucionais e até governamentais, sendo o mais relevante o da UEFA que anunciou que vai excluir todos os clubes que integrem a Superliga, assegurando contar com o apoio das federações de Inglaterra, Espanha e Itália, bem como das ligas de futebol destes três países.

Quem é que então aplaude este projeto? Os milhões de adeptos fora da Europa, sobretudo nos Estados Unidos da América, onde já acontece a Champions Cup, na pré-temporada, uma espécie de Superliga jogada a um ritmo mais lento, e no continente asiático, paragem muitas vezes obrigatória nas digressões de pré-época, lugares onde a tradição do futebol europeu não é tão valorizada como os confrontos de titãs. Falo de um lugar onde as vitórias na Liga dos Campeões de SL Benfica e FC Porto ou de Aston Villa e Nottingham Forest não têm um valor nostálgico, não representam uma época e são, muitas vezes, marcas desconhecidas na história da modalidade. Do outro lado do Atlântico ou a oriente, onde um continente representa cerca de metade dos direitos de transmissão vendidos pela Premier League fora da Europa, o lado romântico do futebol, que ainda há meia dúzia de anos emocionou o mundo com a vitória do Leicester na Premier League, não existe. O que existe são os embates entre as grandes equipas, as que com o tempo se mantiveram as mais ricas e que comercializaram melhor a sua marca.

Há meio mundo que quer entrar num estádio não pela incerteza do resultado, não pela competição, mas pelo espetáculo, para esperar um golo de Cristiano Ronaldo e gritar “SIIIII” com o português.

Ainda esta noite, Floentino Pérez, que desde domingo acumula o cargo de presidente do Real Madrid ao de dirigente da Superliga Europeia, defendeu em entrevista ao programa El Chiringuito, na televisão espanhola, que esta é uma iniciativa que “adapta o futebol aos tempos”. Como exemplo, explicou a necessidade de voltar a cativar a atenção dos jovens que já não se entusiasmam com futebol.

"Existem muitos jogos de má qualidade e existem muitas outras plataformas para se entreter. O futebol tem de mudar", insistiu Florentino.

A pergunta que fica é: o que é um jogo de má qualidade? O jogo que o Real Madrid perdeu esta época em casa, na jornada 6 da La Liga, pode ser considerado um jogo de má qualidade? A goleada que os Merengues sofreram aos pés do Valência (4-1) é um bom ou um mau jogo? A eliminação da Taça do Rei do Real pelo Alcoyano é entusiasmante ou aborrecida?

Por cá, diríamos que são as nódoas negras de uma época de um clube que se está a tentar reencontrar com a sua versão que venceu quatro Liga dos Campeões em cinco anos, há bastante pouco tempo. No entanto, do outro lado do mundo esta não é a aceção. E atenção, não é por os três exemplos acima serem derrotas do Real Madrid, mas sim por serem derrotas do Real Madrid frente a outros clubes espanhóis que não são o FC Barcelona ou o Atlético de Madrid, jogos que a Europa encara como únicos e decisivos.

Depois de um veto geral nas primeiras 24 horas após o anúncio da Superliga Europeia, desengane-se, caro leitor, que a ideia não tem adeptos. Toda a gente o sabe, incluindo, por exemplo, as federações que organizaram finais de taças nacionais no estrangeiro, como foi o caso da supertaça italiana, jogada dois anos na Arábia Saudita.

Agora é uma questão de tempo para sabermos quem vence, o dinheiro e o espetáculo ou o mérito e a tradição.

 
 

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