Pode a esperança suplantar o medo na era dos extremismos e das redes sociais? Tem a palavra Francisco Louçã
Edição por António Moura dos Santos
À boleia do lançamento de “O futuro já não é o que nunca foi” pela Bertrand, o SAPO24 entrevistou Francisco Louçã.
Não estragaremos o prazer de ler esta conversa, mas para lhe abrir o apetite, o professor, dirigente político e Conselheiro de Estado defende que, perante a supremacia das redes sociais na vida pública e da sua intromissão na esfera privada, “a alteração mais radical que poderia acontecer era obrigar todas as redes sociais a submeterem-se às mesmas regras que os orgãos de comunicação social”. “Deixou de haver responsabilidade, porque o algoritmo das redes sociais permite isso”, adianta.
Como é que aqui chegámos? Pelo canto da sereia. “As redes sociais conheceram uma enorme expansão porque tiveram a inteligência de ser gratuitas. Extraem dados, mas prometem-nos uma grande autonomia e liberdade de expressão”, disse.
Mas mais do que o seu caráter sedutor, discutiu-se a forma como “estão a criar uma política muito mais agressiva, muito mais violenta e superficial, muito mais baseada em jogos de interesses e clubes de discursos de ódio” e “criaram uma cultura em que o parlapatão é premiado”.
A sua importância, de resto, engrandeceu durante o último ano e meio, em que a pandemia forçou ao contacto das pessoas através da tecnologia. Mas Louçã defende que há sempre um lado físico que nunca deixa de se fazer sentir. “O contacto pessoal tem uma enorme força, repare na loucura que foi a abertura das discotecas. Não é só porque os jovens gostam de se divertir; precisam de ter contacto social, e ainda bem”.
Se o futuro vai ser melhor ou pior, não adianta, até porque “o optimismo e o pessimismo são dois sentimentos que temos sempre em paralelo e em doses homeopáticas”. No entanto, alerta, sim, que é necessário um “um manual de sobrevivência da democracia”.