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Newsletter diária • 15 nov 2024

 
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Adeus, Celeste dos Cravos

 
 

Edição por Alexandra Antunes

A notícia foi confirmada pela neta Carolina Caeiro Fontela na rede social X, que referiu depois à Lusa que a avó morreu hoje de manhã no Hospital de Leiria devido a problemas do foro respiratório, lamentando que Celeste Caeiro nunca tenha sido homenageada em vida — embora essa possibilidade tenha sido falada.

Em abril deste ano, prestes a fazer 91 anos (em 2 de maio), doente e debilitada, a mulher que ficou conhecida por “Celeste dos Cravos” já não quis falar da revolução e passou a palavra à neta, para “retificar lacunas da história” que anos sucessivos de notícias têm perpetuado.

“Há muita gente que ainda pensa que foi uma florista [que deu um cravo a um soldado], mas a minha avó não era florista”, disse na altura a neta à agência Lusa, lembrando que Celeste trabalhava num ‘self-service’ no edifício Franjinhas, na Rua Braamcamp, em Lisboa.

Separada do marido, “por razões que nunca quis contar”, e à época com a mãe e uma filha de 5 anos a seu cargo, a mulher, que “vivia numa casa humilde, sem rádio e sem televisão”, só quando chegou ao emprego, no dia 25 de abril de 1974, soube que estava a haver uma revolução.

Nesse dia, contou Carolina, o ‘self-service’, que completava um ano, não iria abrir portas e o patrão, “que tinha mandado comprar cravos para oferecer aos clientes e decorar o espaço, disse aos funcionários que levassem um ramo cada um”.

Celeste pegou no seu ramo de cravos - que “eram vermelhos e brancos, que eram poucos, mas também eram brancos” - e decidiu que não iria para casa. Rumou ao Rossio para ver “o que há tanto tempo esperava que acontecesse”.

Foi aí que perguntou a um soldado o que estavam ali a fazer e se precisava de alguma coisa.

O soldado, “de quem nunca soube a identidade, fez sinal de que queria um cigarro” e Celeste, que sofria dos pulmões e nunca fumou, deu-lhe antes um cravo, que o militar colocou no cano da arma e que acabaria por ser o símbolo da revolução.

A “Celeste dos Cravos” foi também a Celeste que em 1988 “perdeu tudo no incêndio do Chiado, ficou sem casa, sem fotografias, sem as recordações de uma vida”.