Ainda é possível humanizar o massacre em Gaza
Editado por Ana Filipa Paz
"Quando o júri global começou a selecionar os diferentes concorrentes ao prémio de Foto do Ano, partiu de uma ampla seleção de cada uma das seis regiões. Três temas emergiram desse conjunto, que definem a edição de 2025 do World Press Photo: conflito, migração e mudança climática. Outra forma de vê-los é como histórias de resiliência, família e comunidade", referiu Lucy Conticello, responsável pelo júri do World Press Photo.
Os três finalistas do World Press Photo foram:
Mahmoud Ajjourl, nove anos
A fotografia de foi Samar Abu Elouf foi a escolhida para Fotografia do Ano, entre as quase 60 mil candidaturas feitas por 3778 fotógrafos de 171 países. Mahmoud Ajjour, uma criança com nove anos mutilada num ataque de Israel, é quem humaniza o massacre na Faixa de Gaza. Estava a receber apoio médico no Qatar quando esta fotografia foi tirada. Teve apoio médico para recuperar a autonomia nas tarefas do dia a dia, depois de perder os dois braços.
Samar Abu Elouf também é palestiniana, e através da sua lente conta os horrores da guerra, e lembra as mais de 12,3 mil crianças mortas desde a escala dos ataques, a 7 de outubro, segundo a ONU. Na descrição do trabalho, a autora refere ainda que foram mutiladas mais crianças em Gaza por habitantes do que no resto do mundo, e milhares de pessoas a quem não foi dada ajuda médica.
Travessia Noturna
A fotografia de Jonh Moore também teve destaque, com o retrato de migrantes chineses sob chuva fria depois de cruzarem a fronteira entre os Estados Unidos e o México, num campo de refugiados, na Califórnia. A migração e a violência das fronteiras foi inspiração para muitos fotógrafos, que guiam o seu trabalho pelos direitos humanos.
Secas na Amazónia
Musulk Note, mexicano, fotografou a Amazónia, desta vez sob o tema das alterações climáticas. Retrata um jovem de costas, que leva comida para a mãe, que vive na vila de Manacapuru, na Amazónia, no Brasil. A vila antes era acessível por barco, mas, por causa da seca, o jovem precisa de caminhar dois quilómetros pelo leito seco do rio Solimões para a alcançar, descreve.
Este projeto torna os efeitos das mudanças climáticas reais, ao gravá-los eternamente numa imagem.
"MARIA" - um projeto português sobre o pós-colonialismo
Maria Abranches, fotógrafa portuguesa, também chegou à final e ganhou o prémio na categoria História da região Europa.
"MARIA", uma história sobre o dia-a-dia de Ana Maria, uma mulher que nasceu em Angola, foi trazida para Portugal com nove anos e, nas suas palavras, "passou a vida inteira a limpar". Com uma história comum a inúmeras mulheres que trabalham como cuidadoras de saúde, "cujo contributo silencioso construiu, moldou e sustenta o mundo como o conhecemos", Ana Maria inspirou o trabalho de Maria Branches, que lhe concedeu o reconhecimento internacional, refere, numa publicação nas redes sociais.
Em declarações à Lusa, horas depois de o prémio ser anunciado, a fotógrafa partilhou ter "esperança que a visibilidade de um trabalho sobre as cicatrizes que foram deixadas pelo colonialismo português possa ser um ponto de partida para o debate sobre a reparação histórica".
"Esse é o meu principal objetivo, e também fazer uma homenagem a todas estas mulheres, que, como a Ana Maria, dedicam as suas vidas a construir o mundo e a permitir que as pessoas e as instituições continuem as suas vidas", acrescenta.
*Com Lusa