1:49, domingo, 26 de setembro
Faltam apurar 19 freguesias em Lisboa. Costa já falou — antes de Rio, o que parece sintomático da noite — para dizer que o PS é "vencedor" porque conquistou pelo menos 150 câmaras (longe, todavia, das 161 de 2017).
Rio subiu ao palanque pouco depois para agradecer aos sociais-democratas e criticar as sondagens.
Se dúvidas houvesse sobre o resultado em Lisboa, dissiparam-se: Carlos Moedas iria mesmo conquistar a "cidade menina e moça" ao PS.
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A confirmação.
"Esta derrota é pessoal e intransmissível", disse Fernando Medina. Sai "de consciência tranquila". E no que a futuro diz respeito, só sabe que vai tirar os próximos dias para "descansar". O resto fica para depois, mas é impossível negar o impacto destes resultados no futuro político do autarca considerado como potencial sucessor de António Costa na liderança do PS.
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"Estamos prontos ou não estamos prontos?"
Veremos, há quatro anos de governação pela frente. Para já, é de promessas que se faz a celebração de Carlos Moedas: "Meus queridos amigos, fez-se história hoje em Lisboa. Não tenho palavras para agradecer o voto de confiança e comprometo-me com os lisboetas: não vamos falhar".
A vitória nacional de Costa tem sabor amargo com a derrota em Lisboa, numa reviravolta que as sondagens não faziam prever.
Se esta é "a" história da noite eleitoral, está longe de ser a única.
- Na Invicta, Rui Moreira revelou-se invicto e revalidou o passe para mais quatro anos à frente da autarquia, desta vez sem maioria absoluta.
- Na Figueira da Foz, um ex-primeiro-ministro, Pedro Santana Lopes "roubou" a câmara ao Partido Socialista e ensaia um regresso à autarquia que liderou entre 1997 e 2001, depois de conquistar 40,39% votos este domingo.
- Em Almada, Inês de Medeiros, conseguiu segurar a autarquia socialista. O bastião comunista foi perdido em 2017 e Maria das Dores Meira, que esteve 12 anos ao leme em Setúbal, era a aposta da CDU para recuperar a autarquia. Não foi suficiente.
- Em Coimbra, José Manuel Silva era a aposta do PSD para "roubar" a autarquia ao PS — e cumpriu. O antigo bastonário da Ordem dos Médicos conquistou 43,92% dos votos, impondo uma derrota a Manuel Machado.
- Na Amadora, a aposta de PSD e CDS-PP em Suzana Garcia não foi suficiente para retirar esta câmara ao PS, pelo que Carla Tavares tem pela frente mais quatro anos nos destinos da autarquia.
- No reduto centrista de Ponte de Lima, onde desde 1976 o CDS só não governou sozinho em três ocasiões — 1979 (Aliança Democrática), 1982 (Aliança Democrática) e 2001 (lista independente) — Vasco Ferraz segurou o bastião. Quando Victor Mendes atingiu o limite de mandatos, o CDS "partiu-se" em três candidaturas: a escolha do partido foi Vasco Ferraz; Abel Batista, com o apoio do PS, encabeçou o Movimento Ponte de Lima Minha Terra (PLMT) e Gaspar Martins apresentou-se pelo Movimento independente Viramilho. Mas nada virou e o CDS manteve-se assim nos destinos da autarquia.
- No Funchal, Pedro Calado recuperou a autarquia para os sociais-democratas. Nas autárquicas de 2013, o PSD perdeu a maioria que sempre detivera para a coligação “Mudança” (PS, MPT, BE, PTP, PND e PAN), numa lista encabeçada por Paulo Cafôfo — que se demitiu ontem à noite da liderança regional do partido.
- Em Castelo Branco, protagonizou-se uma batalha autárquica entre PS e PS: a concelhia escolheu Leopoldo Rodrigues, que conseguiu segurar a autarquia, como candidato à câmara albiscastrense ao invés do incumbente Luís Correia, que cumpriu dois mandatos pelos socialistas e acabou por se candidatar pelo Sempre – Movimento Independente, depois de ter perdido o mandato por via judicial.
- E em Viseu, após uma ausência de oito anos, o “dinossauro” social-democrata Fernando Ruas volta à presidência da autarquia. Ruas, que foi presidente da câmara municipal de Viseu durante 24 anos (entre 1989 e 2013), foi a solução encontrada pelo PSD após a morte de Almeida Henriques, que já tinha sido indicado como recandidato pelo partido.
Apurados os votos, fazem-se contas às vitórias e derrotas partidárias destas eleições:
- O PSD conquistou 109 autarquias, considerando aquelas a que se apresentou sozinho e às que concorreu coligado. Somando a isto a conquista da capital, Rio aqui tem um balão de oxigénio e é provável que não veja contestada, pelo menos para já, a sua liderança.
- Numa longa conferência de imprensa, já na madrugada de segunda-feira, Costa procurou passar a mensagem de que o seu partido manteve o nível de vitórias das eleições de 2013 — mas aquém de 2017. A explicação: um "efeito matemático”, em virtude do aumento do número de coligações lideradas pelo PSD no território nacional. Mas, salientou, o PS continua a ser a maior força política autárquica a nível nacional após uma “grave crise” sanitária, económica e social. Contas feitas, o PS conquista nestas eleições cerca de 150 municípios.
- O líder do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos disse que o partido "superou todos os objetivos" nestas autárquicas ao manter as seis câmaras que lidera e ao aumentar os eleitos.
- Todos ganham? Nem por isso. Jerónimo de Sousa foi o primeiro a assumir que os “resultados ficaram aquém dos objetivos colocados". Os comunistas 'chocaram' novamente com o PS, que conquistou mais seis municípios à coligação PCP-PEV.
- O líder do Chega admitiu que a “vitória não foi total” nestas autárquicas, já que falha o objetivo de ser a terceira força política nacional. “Queria ficar em terceiro lugar, não consegui, assumo essa responsabilidade". A vitória parcial é esta: o partido de Ventura arrecada 19 mandatos nas primeiras autárquicas a que se apresenta.
- Inês de Sousa Real, em entrevista ao SAPO24, definiu os seus objetivos: eleger três vereadores, em Aveiro, Cascais e Funchal. E cumpriu.
- Tiago Mayan Gonçalves, que se candidatou à Presidência da República no início deste ano apoiado pela Iniciativa Liberal, foi agora eleito presidente da junta de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde, no Porto.
- Para o Bloco, manter o lugar no executivo da capital era uma prioridade, e conseguiu-o ao eleger Beatriz Gomes Dias — ainda que tenha perdido votos em comparação com 2017. Já norte, os bloquistas conseguem outro dos objetivos nestas eleições: o sociólogo Sérgio Aires tornou-se no primeiro vereador do partido na Câmara do Porto.
- Nove movimentos independentes conquistaram a maioria absoluta em câmaras municipais nas autarquias de Ribeira Brava (Madeira), São João da Pesqueira (Viseu), Calheta (Açores), Aguiar da Beira (Guarda), Oeiras (Lisboa), Golegã (Santarém), Batalha (Leiria), Anadia (Aveiro) e Borba (Évora).
Quando subiu ao palanque, Moedas disse que "este novo ciclo começa em Lisboa, mas não vai acabar em Lisboa". É o agora presidente da câmara municipal alfacinha a antecipar uma onda laranja.
A matemática autárquica tem consequências políticas e são essas que se vão apurar agora.