De Viana do Castelo para o Espaço
Edição por Rita Sousa Vieira
Será desta? O envio do James Webb, o maior telescópio espacial, foi sucessivamente adiado, ano após ano. Esteve para ser lançado em 2007, em 2009, em 2014, em 2018, em 2020...
A mais recente data apontada tinha sido esta sexta-feira, 24 de dezembro, mas foi adiado novamente para hoje devido as “condições meteorológicas adversas”.
O lançamento, a bordo de um foguetão de fabrico europeu Ariane 5, está marcado para as 12:20 (hora de Lisboa) — e poderá ser acompanhar o momento aqui.
O telescópio, não tripulado, resulta de uma colaboração entre a ESA e as congéneres norte-americana (NASA), que lidera o projeto, e canadiana (CSA), e começou a ser desenvolvido há mais de 30 anos.
Os custos, estimados inicialmente em 500 milhões de dólares (443 milhões de euros), superaram os 10 mil milhões de dólares (8,8 mil milhões de euros).
Os astrónomos esperam com o telescópio, que deve o seu nome a um antigo dirigente da NASA, obter mais dados sobre os primórdios do Universo.
O novo telescópio é apontado como o sucessor do Hubble, em órbita há 31 anos.
Como se de uma “máquina do tempo” se tratasse, o James Webb permitirá captar a luz ténue de corpos celestes ainda mais distantes, de há 13,5 mil milhões de anos, quando o Universo era bastante jovem (a idade estimada do Universo pela teoria do Big Bang é 13,8 mil milhões de anos).
O telescópio está equipado com um escudo solar desdobrável do tamanho de um campo de ténis que o manterá frio para poder operar. Espera-se o início das observações científicas seis meses após o lançamento e os primeiros dados ainda em meados de 2022.
Uma portuguesa com um Natal diferente
A astrónoma portuguesa Catarina Alves de Oliveira, que trabalha no Centro de Operações Científicas da ESA, em Espanha, é responsável pela calibração de um dos instrumentos do James Webb.
Com 39 anos, e natural da freguesia de Afife, em Viana do Castelo, a astrónoma ouviu falar do telescópio pela primeira vez quando estudava na Universidade do Porto. Para Catarina este é "o concretizar de um sonho profissional", contou ao Jornal de Notícias, mas lá em casa os mais atentos são os filhos, preocupados que o lançamento "possa afetar a rota do Pai Natal e das suas renas".
"Vou estar no centro de controlo da missão nos Estados Unidos a monitorizar o estado e o desempenho do NIRSpec. Também estarei envolvida na calibração deste instrumento, analisando alguns dos primeiros dados que o Webb vai adquirir no Espaço", descreveu à Lusa, acrescentando que irá "dar apoio à comunidade científica para que aprenda a utilizar os instrumentos do Webb da melhor forma".
Segundo a astrónoma, o novo telescópio espacial foi concebido para "descobertas revolucionárias em todos os campos da astronomia", como o nascimento das primeiras estrelas e galáxias.
A astrónoma vianense trabalhou "vários anos" nos Estados Unidos (2015-2020) "para assegurar a contribuição da ESA na fase de desenvolvimento" do telescópio, tendo participado nas "campanhas de teste" que decorreram nos centros da NASA.