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Newsletter diária • 02 mar 2022

 
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Dois anos de pandemia: entre a vida normal e a morte abismal

 
 

Edição de Pedro Soares Botelho

Foi há dois anos: os primeiros casos da doença misteriosa que começou a ser registada na China foram detetados em Portugal. O país já tinha acompanhado o repatriamento de cidadãos que estavam China, seguido o drama de um português num navio lá longe no mar. Mas, agora, estavam aqui, entre nós.

Não deve haver boas causas para morrer. Morrer por encontrar gotículas infetadas de um vírus invisível — e de que pouco ou nada se sabia — não é de certeza uma razão sensata para perder a vida. Assim, todos os que puderam fecharam-se em casa, arredados desse risco transparente, desse risco que podia vir de qualquer lado.

Foi há dois anos: os primeiros casos, a primeira vaga, as primeiras mortes. Os primeiros choques. Adiou-se tudo, trancaram-se todas as portas e foi esperar que passasse. Dois anos depois deste 2 de março de 2022, ainda não passou.

A voracidade das notícias faz esquecer que tecnicamente ainda existe uma pandemia. Podia ser um regresso à “normalidade”, não estivéssemos hoje anos num regresso a outro medo — agora, o da guerra, com as ações da Rússia no território ucraniano. Na Ucrânia, a ONU estima já 836 mil refugiados.

Ontem, Portugal tinha mais de 21 mil mortos por razões atribuídas à covid-19. No total, são mais de 3,27 milhões de casos confirmados nestes dois anos, nas sucessivas ondas, nas várias variantes do vírus.

Há dois anos, das primeiras coisas que fiz quando os casos surgiram em Portugal foi correr para os territórios onde foram encontrados. Eram ruas de medo, de incerteza, de dúvida. Hoje, olhamos o bicho de frente — apesar das dúvidas (ainda não sabemos os efeitos de longo prazo da doença). Há quase nove milhões de pessoas com a vacinação primária contra a covid-19 completa, estando 334 mil crianças entre os 5 e os 11 anos entre a primeira e a segunda dose.

Pelo caminho, ficam as histórias de restrições, isolamentos, regras e encerramentos. Fica a bondade do legislador e a incompreensão do legislado. Havemos de nos questionar sobre o efeito da proibição de venda de determinados produtos na gestão sanitária.

Confinamentos gerais, confinamentos parciais, concelhos cercados, praias interditadas, parques infantis fechados, bancos de jardim proibidos fizeram parte do rol das chamadas "medidas não farmacológicas" impostas aos portugueses ao cabo de vários estados de emergência e situações de calamidade ou alerta.

Em declarações à agência Lusa, o presidente da Associação dos Médicos de Saúde Pública, Gustavo Tato Borges, afirmou que é preciso olhar para o combate à pandemia "de acordo com as evidências científicas" de cada momento, sustentando que "não houve nenhum momento em que as medidas tenham sido excessivas ou demasiado opressivas tendo em conta a doença" e o que dela se conhecia.

Com o panorama alterado por uma campanha de vacinação massiva e a presença da variante Ómicron, o médico admite que "agora, olhando para trás "numa fase inicial [as medidas adotadas] foram um pouco excessivas".

"Não tínhamos tantos casos nem tantas mortes. Acabámos por confinar o mundo e agora, olhando para a estirpe que tivemos, algumas [medidas restritivas] foram demasiado pesadas", diz.

Dois anos de covid-19 depois, nem a vida passou a ser “normal”, nem cada pessoa morta deixou de ser um abismo na vida de alguém.

 
 

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