Fernando Chalana (1959-2022): O Pequeno Genial deixou-nos
Edição por António Moura dos Santos
Ficou conhecido como "Chalanix”, por “Pequeno Genial”, pela sua farta cabeleira e inconfundível bigode, pela sua longa história com o SL Benfica. Acima de tudo, Fernando Chalana ficou conhecido pela alegria que espalhava em campo quando tinha a bola nos pés, apenas ultrapassada pela técnica fora do comum.
Fernando Albino de Sousa Chalana deixou-nos hoje, aos 63 anos. De luto ficam os benfiquistas e os amantes de futebol, mas também os portugueses — ele, que nos representou com tamanho brilhantismo no Euro84, no regresso da seleção nacional às grandes competições, e foi um dos homens do torneio.
Antes de Cristiano Ronaldo, de Luís Figo, de Rui Costa e de Paulo Futre, Chalana — para muitos, apenas ultrapassado por Eusébio — mostrou ao mundo de que é feito o talento português para a “redondinha”. Nascido no Barreiro a 10 de fevereiro de 1959, foi dos mais novos jogadores de sempre a ingressar na equipa sénior do Benfica.
“Vestiu oficialmente o Manto Sagrado pela primeira vez no dia 7 de março de 1976, com apenas 17 anos e 25 dias. Até àquela data, nunca ninguém tão jovem havia atuado na 1.ª Divisão portuguesa", lê-se no comunicado encarnado hoje emitido.
Foi nesta casa onde jogou por 13 anos — divididos entre 1974-1984 e 1987-1990 — e se notabilizou, ajudando a Luz a conquistar seis títulos nacionais, entre outros troféus. Dado o seu talento, talvez tivesse sido alvo de cobiça dos grandes tubarões europeus. À época, contudo, esse era um fenómeno estranho, e Portugal não estava nas bocas do mundo, como hoje.
Bordéus acabou por ser o seu destino, onde esteve por três épocas e conquistou duas ligas francesas. A sua carreira europeia, contudo, ficaria por aqui — depois do acima referido regresso ao Benfica, militou ainda n’Os Belenenses e no Estrela da Amadora, onde pendurou as botas com as quais fez miséria às defesas adversárias.
O seu estatuto lendário só não é maior ainda porque o contexto não ajudou. Nem o contexto, nem as lesões. Com apenas 20 anos, partiu a perna direita num jogo e a dor acompanhou-o desde então. Outras lesões se seguiram: abalaram-no, mas não o mandaram ao chão; apenas parou de jogar aos 33 anos, quando a cabeça ainda queria, mas o corpo já não acompanhava.
Tal não o demoveu de continuar ligado ao futebol, prosseguindo carreira nas camadas jovens do Benfica enquanto treinador e sentando-se como adjunto ao lado de técnicos encarnados como Toni, Jesualdo Ferreira, Fernando Santos, José António Camacho e Quique Flores. Quando a Luz precisou dele, não ignorou o pedido: chegou a ser por duas vezes treinador interino em períodos de crise das águias.
O desporto-rei, em resposta, não o esqueceu e reuniu-se em homenagem: não só figuras eternas do Benfica — Rui Costa, Veloso, João Alves, Luisão e até Bernardo Silva, que chegou a treinar nas camadas jovens —, como também adversários: Sporting CP e FC Porto celebraram o pequeno génio que tantas dores de cabeça lhes causou.
Marcelo Rebelo de Sousa não deixou de recordar o homem “que tanto contribuiu para o prestígio internacional do Futebol Português” e este vai ficar de luto até à próxima segunda-feira, em sua homenagem.
Se em vida, o seu talento serviu para unir as pessoas em admiração, em morte não deveria ser diferente. Símbolo do desportivismo e do “fair play”, distante da cultura futebolística sectária, seria importante recordar a sua postura dialogante e gentil quando ainda há tanto por fazer quanto à forma como Portugal se relaciona com o futebol.