A extrema-direita volta a governar Itália
Edição por Tomás Albino Gomes
Faltam contar pouquíssimos votos para que o resultado seja oficial, o que por esta altura é uma mera formalidade, numa União Europeia que acordou com a sua terceira maior economia vergada à extrema-direita.
Pela primeira vez desde 1945, Itália vai ser governada por uma coligação pós-fascista.
De acordo com resultados (quase) finais das legislativas italianas de domingo, a coligação de direita e extrema-direita - liderada pelo Irmãos de Itália, de Georgia Meloni, e que reúne ainda a Liga, de Matteo Salvini, e o partido conservador Força Italia, de Silvio Berlusconi - obteve cerca de 44% dos votos.
O bloco de centro-esquerda, liderado pelo Partido Democrático, de Enrico Letta, deverá ter 26% dos votos. Segue-se o Movimento 5 Estrelas, com 15% dos votos e a Coligação de Centro 7,7%.
A viragem à direita de Itália levou a que o Euro caísse hoje para o valor mínimo em 20 anos, tendo sido negociado esta manhã a 0,9551 dólares
"A União Europeia (UE) e a zona euro estão numa situação difícil: não só a Europa está a sofrer uma verdadeira crise energética, mas agora a direita em Itália está também a registar uma vitória histórica", disse o economista-chefe do VP do Banco Thomas Gitzel, citado pela Efe, que acrescenta que o veredicto dos mercados financeiros sobre o assunto é claro.
Assim, o euro "continua a ser castigado" e na manhã seguinte às eleições está a ser negociado abaixo dos 0,97 dólares.
"A crise energética europeia, os riscos de recessão e agora uma aliança de direita historicamente sem precedentes em Itália desde a Segunda Guerra Mundial estão a enterrar as esperanças de uma rápida recuperação do euro", advertiu.
Segundo o analista, "um dos fatores decisivos para o desenvolvimento futuro da moeda única europeia é o quão radical esta aliança de direita atuará de facto".
O partido Irmãos de Itália foi fundado em 2012 e tem raízes no Movimento Social Italiano (MSI), fundado pelos seguidores do ditador fascista Benito Mussolini. Sendo que a ascensão vertiginosa de Giorgia Meloni deve-se, em grande parte, ao facto de esta ter sido a única que se opôs ao governo do economista Mario Draghi por 18 meses, o que a favoreceu na conversão do descontentamento dos italianos perante o aumento da inflação, guerra e restrições durante a pandemia em votos.
A líder pós-fascista, de 45 anos, diz-se admiradora de Mussolini. É conhecida pela linguagem direta e eficaz desde os tempos de líder estudantil em Roma. Giorgia Meloni será assim a primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra em Itália.
Juntamente com os seus aliados, Meloni promete cortes de impostos e o bloqueio dos imigrantes que cruzam o Mediterrâneo, além de uma política familiar ambiciosa para aumentar a taxa de natalidade num dos países com mais idosos no mundo.
A vitória de uma líder antieuropa e nacionalista levanta muitas questões no continente e muda a face da Itália, uma vez que colocaria em causa a sua posição face à União Europeia, pois Giorgia defende a revisão dos tratados europeus e até a sua substituição por uma "confederação de Estados soberanos".
"Todos na Europa estão preocupados com Giorgia Meloni no governo. Acabou a festa, a Itália vai começar a defender os seus interesses próprios", advertiu.
A representante do pós-fascismo, que não tem medo de defender uma direita pura e dura, identifica-se com o lema "Deus, pátria e família" e promete lutar contra os grupos de pressão gay e contra as "teorias de género".
A vencedora das eleições converte-se em figura-chave para um eixo radical de direitas na Europa, que passa pela Suécia, Polónia e Hungria. "Precisamos mais do que nunca de amigos que compartilhem uma visão e uma abordagem comuns da Europa", reagiu um porta-voz do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban.
O novo governo italiano tomará posse no fim de outubro e terá um caminho cheio de obstáculos e sem muita margem de manobra. Terá que administrar a crise causada pela inflação galopante, enquanto a Itália já está em colapso sob uma dívida que representa 150% do PIB, a mais alta da zona do euro, atrás da Grécia.