E agora, PSD?
Edição por Tomás Albino Gomes
Na noite de domingo, Rui Rio abriu a porta à saída da liderança do Partido Social Democrata, cargo que ocupa desde janeiro de 2018, caso viesse a confirmar-se a maioria absoluta do Partido Socialista nas eleições legislativas - o que, como sabemos, veio a acontecer -, considerando que dificilmente seria útil nessa conjuntura, sem, contudo, verbalizar explicitamente a sua demissão nem adiantar que passos iria dar internamente.
Três dias depois, no final de uma audiência com o Presidente da República, Rio recusou-se a adiantar mais antes da discussão interna de hoje no partido, mas deu a entender que o processo poderá demorar alguns meses, já que assegurou que, além de tomar posse como deputado, irá estar “de certeza absoluta” como presidente do PSD na discussão e votação do Orçamento do Estado de 2022, que dificilmente estará concluído antes de março/abril.
“No Orçamento de 22 eu vou estar de certeza absoluta, eu já disse que não sou de espetáculos, não contem que na quinta diga que me vou embora e na sexta já não estou cá”, avisou.
As respostas serão dadas no final da reunião da Comissão Política Nacional (CPN) do partido que tem encontro marcado esta quinta-feira às 15h00 num hotel em Lisboa, prometeu Rui Rio.
Face aos inesperados resultados eleitorais de domingo, são poucas as figuras do PSD que se têm vindo a manifestar a público. Miguel Pinto Luz foi um dos poucos casos, tendo afirmado que o partido precisa de fazer uma reflexão “séria e profunda” e não “um desfile de protocandidatos”, remetendo para depois da discussão na CPN qualquer declaração sobre uma eventual candidatura, que já protagonizou em 2020.
Outro caso foi o de Paulo Rangel que disputou no final de 2021 a liderança dos sociais-democratas com Rio e que hoje publicou um artigo de opinião no jornal Público onde lembra que as eleições legislativas resultaram numa “alteração substancial da paisagem político-partidária” e que o partido tem “novos desafios e novos reptos”, exigindo uma reflexão e um debate profundo.
Rangel escreve que o PSD não tem um problema de identidade ideológica, que partilhou sempre uma base programática que ficou conhecida como a social-democracia portuguesa e que o partido não deve rever o seu tradicional posicionamento no espectro político.
“O PSD foi sempre um partido capaz de agregar o espaço que vai do centro-esquerda até à direita moderada. Não se deve, pois, ter medo das palavras: o PSD é um partido do centro-direita, que junta correntes provindas de uma inspiração plural (sociais-democratas, liberais, democratas-cristãos, conservadores)”, escreve.
O eurodeputado adianta ainda que “uma deriva que ignore esta matriz de centro-direita e que hostilize a direita moderada está em contradição com o código genético e com a história do partido” e que para vencer futuras eleições o PSD tem de ser capaz de “conquistar o centro político (ao qual pertence naturalmente)” e para obter maiorias absolutas “terá de chegar a franjas do centro-esquerda”.
Defende, por isso, que os grandes reptos do partido não são as questões da identidade ideológica e do posicionamento político-partidário, mas estão do lado da prestação política e da renovação do partido.
Sobre uma eventual nova candidatura à liderança do partido, nada refere, sendo que a edição de hoje do DN assume que o eurodeputado está a considerar essa possibilidade.
Luís Montenegro, que também foi candidato contra Rio em 2020, e Jorge Moreira da Silva, que ponderou no ano passado concorrer à liderança do PSD, mas acabou por não avançar, ainda não falaram publicamente sobre o futuro do partido.
Na reunião de hoje da Comissão Política Nacional deverá estar em cima da mesa a marcação de uma reunião do Conselho Nacional, o órgão máximo entre Congressos — e o único que pode convocar novas eleições diretas para escolher o próximo presidente do PSD e um Congresso.