por Inês F. Alves 

• Cada gota conta, e não é um exagero afirmá-lo por esta altura, que o digam as oito mil pessoas de 50 localidades transmontanas que estão a ser abastecidas este verão com a ajuda de autotanques. O impacto é real, em casa e nos negócios.

• Manoel Batista, presidente da Comunidade Intermunicipal do Alto Minho, já avisou que "se não acautelarmos junto dos munícipes uma atitude de grande responsabilidade no consumo de água, podemos ter problemas muito graves no final do mês de agosto. Problemas, porventura, mais graves ainda no mês de setembro e no de outubro”.

• Em Bragança, cerca de um terço da população que vive no meio rural está a ser abastecida de água por autotanques, o que levou o município a anunciar medidas de poupança e a fazer uma campanha de sensibilização para que se evite regar hortas, jardins, viaturas e encher piscinas com água da rede, tanto no meio rural como urbano.

• A sul, a Região de Turismo do Algarve propôs aos empreendimentos turísticos reduzir ou eliminar fontes ornamentais, diminuir a rega dos espaços verdes ou renovar a água das piscinas.

• Vamos ter de aprender a viver com menos água? Assim parece. Os cientistas dizem que as alterações climáticas aumentam a probabilidade e frequência de episódios de seca e também de ondas de calor (pelo menos seis dias consecutivos com temperatura máxima acima de 05.ºC do valor médio para a época).

• E Portugal tem de se preparar com antecedência: adotar práticas mais eficientes no uso de recursos hídricos e de reutilização de água no setor agroalimentar; ter cadeias de abastecimento mais curtas para reduzir a vulnerabilidade do acesso a alimentos em casos de eventos extremos; adotar uma agricultura de precisão, adaptar as culturas e o uso do solo; investir em criar mais sombra, lista a cientista Joana Portugal Pereira.

• E como as alterações climáticas não conhecem fronteiras, o problema não é só nosso. Em França, a primeira-ministra, Elisabeth Borne, anunciou a criação de um gabinete de crise governamental por causa da “seca excecional que está a privar muitos municípios de água, o que é uma tragédia para os agricultores e para os ecossistemas e biodiversidade". No México, a seca no norte do país levou o presidente a sugerir que se produza menos cerveja naquela região.

• Por cá, nos últimos 20 anos só em seis choveu o considerado "normal", sendo que, agora, 55% do território continental encontra-se em seca severa e 45% em seca extrema.

• O IPMA já avisou: em algumas das secas meteorológicas mais recentes os períodos secos duram mais tempo e “têm uma configuração espacial mais abrangente”.

• Se for considerado apenas o ano hidrológico — que vai de 1 de outubro a 30 de setembro — o atual ano é, até à data, o segundo mais seco de sempre (desde 1931, quando começaram a ser compilados os dados), só ultrapassado pelo ano hidrológico 2004/2005.

• E se, ciclicamente, a região sul do continente é a que regista maiores períodos de seca, nos últimos anos há outras regiões a figurarem nas classes mais elevadas do índice de seca, nomeadamente a região norte transmontana e também o norte litoral.

• E agora, ainda acha que é uma seca ler sobre a seca? Há boas razões para ficar aborrecido, mas por preocupação, não por tédio.

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