E agora, Lula?
Luiz Inácio Lula da Silva, 77 anos, foi eleito no domingo Presidente do Brasil, com 50,90% dos votos, derrotando Jair Bolsonaro (extrema-direita), que obteve 49,10%, quando estavam contadas 99,93% das secções eleitorais.
Segundo o presidente eleito, esta é uma ressurreição política: “Tentaram enterrar-me vivo, e eu estou aqui”. Mas esta ressurreição está pejada de desafios — a começar pelo silêncio de Bolsonaro, que ainda não se pronunciou sobre a derrota, o que coloca dúvidas sobre a forma como será feita a transição de poder. Os desafios de Lula num país tão divido começam já, e não a 1 de janeiro, dia em que regressa oficialmente ao Palácio do Planalto.
“Lula deve ter cuidado, antes de mais, com uma ‘terceira volta’, ou seja, com qualquer desafio que Bolsonaro e os seus aliados possam criar, como [Donald] Trump nos Estados Unidos, para deslegitimar a sua vitória e mobilizar o seu eleitorado”, nota Paulo Calmon, professor de Ciência Política da Universidade de Brasília. Além disso, terá de trabalhar para “ampliar a legitimidade do governo”, incluindo nomes no seu governo que não sejam “petistas” e mantendo o diálogo com setores “bolsonaristas”.
Recorde-se também que Lula, que governou o Brasil de 2003 a 2010, chega ao poder com o apoio dos mais vulneráveis, um grupo que possui uma memória afetiva da bonança sob a sua administração. A sua campanha foi inclusivamente marcada por várias promessas para melhorar a economia, incluindo aumentar do salário mínimo e reforçar os programas sociais. Mas a situação económica que o Brasil e o Mundo têm pela frente não se compara à dos seus mandatos anteriores. Se não forem atendidas, as expectativas criadas podem voltar como um bumerangue, alertam os analistas.
Há ainda questões de governabilidade a considerar, já que os conservadores detém a maioria no congresso, sendo que o Partido Liberal de Bolsonaro tem a maior bancada na Câmara dos Deputados, com 99 representantes. “A questão da governabilidade será um desafio. Lula vai precisar começar a formar uma equipa ministerial com outros partidos para garantir que assume a presidência numa posição legislativa mais forte”, diz Adriano Laureno, da consultora Prospectiva.
Por fim, o resultado de Bolsonaro nestas eleições, o segundo mais votado na história do país, significa que Lula terá uma oposição “forte, organizada, inclusivamente nas ruas”.
Lula sabe que não será fácil: “Estou aqui para governar esse país numa situação muito difícil. Mas tenho fé que com a ajuda do povo, vamos encontrar uma saída para que esse país volte a viver democraticamente, harmoniosamente”, disse.
O antigo sindicalista terá como vice-presidente Geraldo Alckmin, do Partido Socialista Brasileiro (PSB), que havia sido seu opositor nas eleições presidenciais de 2006, então pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).
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