Em declarações à Lusa, o diplomata espanhol manifestou esperança de que hoje “se imponha o bom senso, o ‘seny’ [sensatez] catalão, na própria Catalunha e que não se aprove qualquer declaração unilateral de independência, que aprofundaria ainda mais a fratura já causada pela intransigência do independentismo”.

O líder do executivo catalão, Carles Puigdemont, deverá ainda hoje declarar a independência da Catalunha, no parlamento regional, e ainda não é claro o que pode acontecer em seguida.

Eduardo Gutierrez, que está há poucas semanas em Lisboa, depois de representar Espanha junto da Santa Sé, rejeitou que a região tenha direito à autodeterminação.

“A Catalunha faz parte da nação espanhola há mais de cinco séculos. Não é nem nunca foi uma colónia nem um território subjugado por outro Estado” e, por isso, “não cumpre os requisitos previstos no direito internacional para admitir a livre determinação dos povos nem para que se dê nenhum tipo de intermediação internacional”, sustentou.

Espanha, justificou, “é uma democracia consolidada regida pelo Estado de Direito, com todas as suas garantias”.

“Ninguém é perseguido pelas suas ideias, mas apenas por atuações contrárias à lei”, disse o embaixador, que reiterou a disponibilidade do Governo de Madrid, chefiado por Mariano Rajoy, e dos principais partidos políticos de Espanha “para dialogar dentro da Constituição e da democracia, nunca fora dela”.

Eduardo Gutierrez insistiu na rejeição do executivo central em relação ao referendo independentista de 01 de outubro, em que o Governo catalão reclamou vitória, e considerado ilegal pelo Tribunal Constitucional.

“Os catalães não votaram num referendo, entre outras coisas, porque essa ‘autoconsulta’ não foi realizada no quadro da lei. Uma minoria quis decidir por uma questão que diz respeito a todos os espanhóis, sem recenseamento e com uma total falta de garantias”, considerou.

“E, para cúmulo, eles mesmo reconheceram, afinal, que a maioria, uns 60% dos catalães, não participaram nesta farsa”, considerou.

Para o diplomata, está em causa “um problema para a democracia e a estabilidade europeia”.

“Trata-se de um movimento de cariz nacional-populista que não cumpre a Constituição e as leis de um Estado democrático da União Europeia e que declara uma legalidade paralela alheia à do Estado a que pertence; que despreza o voto dos catalães, que nas últimas eleições votaram maioritariamente por partidos não independentistas”, disse.

Segundo o diplomata, este movimento “silencia a oposição, privando os deputados dos seus direitos; aponta e assedia quem não concorda [com eles] e quer cumprir a lei; insta os cidadãos, a partir das próprias instituições do Estado, à insubmissão face às leis; e cataloga os cidadãos entre ‘bons’ e ‘maus’, dependendo da sua adesão às ideias nacionalistas que defendem”, considerou.

Sobre a atuação da polícia no dia 01 de outubro, quando a Polícia Nacional e a Guardia Civil intervieram, perante a inação dos Mossos d’Esquadra (polícia regional), Eduardo Gutierrez sublinhou que a operação obedeceu a um “mandado judicial para impedir atos ilegais que iam contra a Constituição e as leis, num uso proporcional da força que todo o Estado de direito deve exercer”.

O embaixador lamentou o que disse ser a “intoxicação mediática”, que chegou a “níveis impressionantes”, exemplificando com notícias de 900 feridos no dia 1 de outubro, “quando no dia seguinte apenas havia quatro pessoas internadas nos hospitais”.

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