Natural de Cascais, Ana foi para Londres em 2010 para estudar. Terminado o curso, três anos depois, começou a tentar construir uma carreira profissional e atualmente trabalha em Londres, numa organização de apoio à integração religiosa.

Quando questionada sobre a forma como o país está a viver estas eleições, a sua resposta é bastante elucidativa: “O Reino Unido está a viver estas eleições de maneira muito emocional”, ao contrário do que acontecia há uns anos, em que a tradição familiar tinha um peso muito grande no sentido de voto.

Segundo Ana, há uma desilusão com a classe política —fruto, também, de um menor fulgor económico — que acaba por dirimir esse histórico familiar. Um descontentamento. “As pessoas não se sentem ouvidas, especialmente a classe trabalhadora que vive fora de Londres, nas zonas rurais”, acrescenta.

“As pessoas sentem-se esquecidas e, por isso, estão a votar de forma muito emocional”, prossegue, e por isso usam os imigrantes como justificação para os problemas que encontram no dia-a-dia, como o desemprego ou a sobrelotação do sistema nacional de saúde.

Com uma ligação próxima à realidade da comunidade muçulmana (fruto da sua atividade profissional), bastante atacada nos últimos tempos devido aos ataques em Londres e Manchester, Ana diz que “os muçulmanos rejeitam [os atos de violência] e não acreditam que as pessoas que cometeram esses atos horríveis representem o Islão”. Contudo, só o facto da comunidade se sentir obrigada e referir o seu repúdio aos ataques, mostra que a mesma está sob pressão. Dá a sensação de que “qualquer pessoa que não diga nada contra”, é porque está “a apoiar” os atacantes, refere.

A discriminação que existe está bem patente no facto de pessoas que aparentem ser muçulmanas terem uma maior probabilidade de serem paradas em aeroportos ou receberem insultos nos transportes públicos. E as pessoas da comunidade, diz Ana, parecem sentir medo. “Principalmente as mulheres”, uma vez que o hijab torna a sua orientação religiosa mais “visível”, por assim dizer. “Não deveríamos estar a generalizar e colocar toda a gente no mesmo saco”, refere a emigrante portuguesa.

No que diz respeito às eleições desta quinta-feira, e quando questionada sobre as suas preferências, Ana é perentória, até pela sua condição no país. “Eu gostava que o Labour ganhasse porque as políticas deles são mais amigáveis aos imigrantes”, apesar de também mencionar que o partido liderado por Jeremy Corbyn tem também “políticas sociais muito boas”.

Adicionalmente, Ana refere que na sequência do ataque no passado sábado na capital inglesa, Corbyn decidiu suspender a campanha e que “isso mostra um lado emocional e pessoal do Jeremy Corbyn [...), que quer estar com as pessoas e não está preocupado só com a política”, confidencia, apesar de admitir que isso também poderá ser fazer política.

Não obstante, Ana pensa que os ataques e a postura do líder dos Trabalhistas não o ajudará nas urnas. “Eu acho que as pessoas vão votar mesmo traumatizadas. Em duas semanas aconteceram estes ataques e os Tories [Partido Conservador, liderado por Theresa May], que têm uma política muito mais conservadora e restrita sobre a emigração”, poderão sair beneficiados.

Os ataques dos últimos meses em Londres e Manchester deixaram marcas na imigrante portuguesa. “Tenho medo”, admite Ana. “Eu vivo a 10 minutos de comboio de London Bridge e podia ser eu [...] a estar lá. Podia ser o meu irmão. Tenho imensos amigos que vivem nessa zona, no sul de Londres, por isso é um bocadinho assustador", diz, partilhando que o namorado de uma amiga encontrou uma mala aparentemente abandonada no metro e puxou o manípulo de segurança para que a situação fosse avaliada pelas autoridades. Vive-se em estado de alerta.

Ninguém “arrisca”.