“É um espaço criado pelo Estado, por todos nós, para todos nós. É um espaço resultante da solidariedade do Estado que deve, cada vez mais, olhar para estes territórios de baixa densidade, promovendo o seu repovoamento através de medidas de discriminação positiva e investimentos em diversas áreas, destacando-se as telecomunicações e a saúde”, afirmou António Lopes.

O autarca discursava na cerimónia de homenagem às vítimas dos incêndios de 2017, no memorial erguido junto à Estrada Nacional 236-1, na zona de Pobrais, Pedrógão Grande, norte do distrito de Leiria, onde marcaram presença, entre outros, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro, António Costa.

“Manter viva a memória dos que partiram, neste espaço, é tarefa árdua, porque nos envolve na missão de tudo fazer, diariamente, para que acontecimentos daquela natureza não se repitam”, disse António Lopes, considerando que o memorial “é, também, um espaço de refúgio, de respeito, onde o elemento água, conjugado com a terra, se opõe ao fogo”.

António Lopes referiu-se depois à natureza, para salientar que “impera sobre o Homem”, e lembrou que “as alterações climáticas são uma realidade cada vez mais presente no dia a dia”.

“Ainda assim, cabe ao Homem usar a inteligência e a determinação para implementar medidas no terreno, na diversificação do povoamento florestal, em consenso com os proprietários, medidas destinadas a aumentar a segurança das pessoas e bens, medidas destinadas a mitigar as ignições e a progressão violenta dos incêndios”, defendeu

O presidente da Câmara de Pedrógão Grande reconheceu, contudo, que esta é uma “tarefa nada fácil atentas as constantes resistências com que os municípios se deparam na execução de ações como, por exemplo, na realização das faixas de gestão de combustível e, mais presentemente, com a aplicação no terreno das Áreas Integradas de Gestão da Paisagem e Condomínios de Aldeia”.

Recuando a 17 de junho de 2017, quando eclodiram os incêndios no concelho, o autarca assegurou: “Hoje e sempre estamos solidários na memória e na dor de todos aqueles que sofreram com o fatídico dia”.

“Cabe-nos a responsabilidade de os honrar evitando a repetição da História. Devemos-lhes, a eles e aos seus familiares, esse respeito”, acrescentou.

O memorial, da autoria do arquiteto Souto Moura, um investimento de 1,8 milhões de euros, inclui um lago de enquadramento, com cerca de 2.500 metros quadrados de área, alimentado por uma gárgula com 60 metros de extensão, sendo bordejado por uma faixa de plantas constituída por nenúfares brancos, lírios e ranúnculos.

De acordo com a Infraestruturas de Portugal, dona da obra, “o memorial inclui também, como peça fundamental, um muro com a inscrição do nome de cada uma das 115 pessoas vitimadas nos incêndios florestais de junho e outubro de 2017”.

O memorial abriu no dia 15 de junho sem qualquer cerimónia pública de homenagem às vítimas dos incêndios florestais de junho e outubro de 2017. A ausência de figuras de Estado suscitou críticas de vários setores.

Os incêndios que deflagraram em 17 de junho de 2017 em Pedrógão Grande e que alastraram a concelhos vizinhos provocaram a morte de 66 pessoas, além de ferimentos noutras 253, sete das quais graves. Os fogos destruíram cerca de meio milhar de casas e 50 empresas.

A maioria das vítimas mortais foi encontrada na Estrada Nacional 236-1, que liga Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, junto à qual foi erguido o memorial.

Em outubro do mesmo ano, outros incêndios na região Centro provocaram 49 mortos e cerca de 70 feridos, registando-se ainda a destruição, total ou parcial, de cerca de 1.500 casas e mais de 500 empresas.