Na sexta-feira, um grupo de pessoas ocupou o nº69 da Rua Marques da Silva, em protesto contra o avanço da especulação imobiliária. O ‘timing’ da ocupação não foi por acaso: “o facto de haver eleições faz pressão para que o tema seja discutido”, explicou à Lusa um dos elementos do grupo, a Assembleia de Ocupação de Lisboa (AOLX), constituído por “pessoas de várias idade e sem ligações a partidos ou associações”. O prédio pertence à Câmara de Lisboa.

Para a CDU, “este tipo de manifestações ilustra uma certa efervescência face ao problema da habitação na cidade”. “É mais uma voz que aparece e espelha bem essa preocupação”, afirmou Ana Jara, a número 3 na lista da coligação, para quem este problema “deve ser resolvido com políticas estruturantes”.

Uma das propostas da CDU passa pela “criação de uma bolsa de fogos de arrendamento a preços acessíveis no património disponível”. Ana Jara salientou que a Câmara “é o maior proprietário de Lisboa”.

A cabeça de lista da coligação do CDS-PP/MPT/PPM, Assunção Cristas, sublinhando “não entender que esse seja o caminho - só se traduz em crispação social na cidade, traz desconfiança e receios” -, destaca que a ocupação “sinaliza a necessidade de o município de Lisboa ter políticas ativas de habitação”.

Já a cabeça de lista do PAN, Inês Sousa Real, acentuando não defender a ocupação, disse respeitar “a forma simbólica de chamar a atenção para o problema”. “Não se entende como pode haver falta de habitação e edifícios municipais desocupados”, referiu.

Também a cabeça de lista do Nós, Cidadãos!, Joana Amaral Dias, compreende a ação. “As pessoas têm tentado lutar de forma pacífica. Não faço nenhum apelo nem sou de medidas radicais ou pró-violência, mas compreendo que as pessoas a certa altura sejam tomadas pelo desespero”, afirmou.

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Para o candidato da coligação PDR/JPP, Carlos Teixeira, esta ocupação “é um sinal da sociedade civil, que se sente discriminada”. “Desde que seja feito de uma forma pacífica, é importante que a sociedade civil se manifeste para chamar a atenção das autarquias, das entidades, do Governo, que têm competências nessa matéria”, defendeu, recordando que “o direito à habitação está consagrado na Constituição”.

O cabeça de lista do PCTP/MRPP, Luís Júdice, considera a ocupação “uma reação absolutamente justa face ao caos a que chegou a habitação na cidade” e “que se deve multiplicar”.

“Podemos ir lá com pedidos de revogação da Lei das Rendas, solicitação da fiscalização sucessiva da mesma ou do PDM [Plano Diretor Municipal], mas esta gente só entende uma linguagem: unidade, força e determinação”, afirmou.

Posição completamente oposta tem o cabeça de lista do PURP, António Arruda. “Sou completamente contra ocupações selvagens de prédios. Podem obter-se fogos para viver através da Câmara Municipal e da Santa Casa”, disse.

Também o cabeça de lista do PNR, José Pinto-Coelho, repudiou “toda e qualquer iniciativa ilegal, como esta da ocupação, com manifesto cunho anarquista e de extrema-esquerda”.

A candidatura “condena estas iniciativas selvagens e ilegais, anarquistas, do mesmo modo que condena as políticas insensíveis e imorais dos governantes liberal capitalistas”.

A candidatura do BE, liderada por Ricardo Robles, preferiu não comentar e as candidaturas encabeçadas por Teresa Leal Coelho (PSD) e Fernando Medina (PS) não responderam até ao momento.

A Lusa não conseguiu contactar a candidatura do PTP, cujo cabeça de lista é Amândio Madaleno.