
Os ucranianos estão a fazer com que a luta pelo seu país se torne visível em desenhos nos seus corpos, com artistas a receber pedidos de tatuagens de cocktails molotov, obstáculos anti-tanque e mesmo um tipo de pão que se tornou um símbolo improvável da identidade nacional porque os russos têm alguma dificuldade a pronunciá-lo, conta o The Guardian.
À medida que as pessoas regressaram a Kiev, depois de as tropas russas terem abandonado as suas tentativas tomar a capital, os tatuadores notaram uma procura crescente de arte que presta homenagem a esta primavera de tragédia e violência e também ao espírito de resistência da Ucrânia.
"Eu queria capturar este momento", disse Mariika, uma tatuadora que agora tem a representação de um obstáculo anti-tanque na perna e um cocktail molotov no braço.
Mariika permaneceu em Kiev durante toda a guerra, tendo a possibilidade de ver os contos que ouviu quando era uma jovem tornarem-se uma realidade aterradora. "Nunca pensei que iria sobreviver a algo assim. A minha avó era uma criança de guerra, mas as suas histórias pareciam tão distantes. Esconder-me na cave devido a bombas nunca foi algo que eu pensei que me iria acontecer", diz.
Durante vários sábados, juntou-se a um grupo de tatuadores reunidos num distrito de Kiev para angariação de fundos numa discoteca, atualmente fora de serviço por causa da guerra e do recolher obrigatório.
Assim, qualquer pessoa pode apresentar-se para uma tatuagem. O preço é o que cada um puder pagar e o valor angariado destina-se às forças armadas ucranianas.
"No início da guerra era impossível trabalhar, não havia clientes e não se movimentavam. Mas depois as pessoas começaram a perguntar sobre tatuagens, por isso organizámos este evento", disse Alexander, um artista de 34 anos com 11 anos de experiência. "Reuni os meus amigos e a cada fim de semana cada vez mais artistas estão a participar".
Contudo, nem todos os novos desenhos são de inspiração militar. Algumas pessoas querem esquecer a guerra, com tatuagens de gatos, e outras querem marcar o momento sem referência direta à guerra.
"Eu queria fazer uma tatuagem patriótica e queria recordar este período de tempo e as emoções a ele associadas, mas não queria nada agressivo", disse Fedor, um gestor de 23 anos que tem agora a palavra "palyanytsia "— um pão tradicional frequentemente comido em ocasiões especiais — tatuado no seu braço. "As pessoas vão perguntar o que isto significa e eu vou explicar. Eu quero destacar a identidade ucraniana", afirma.
Mariika disse também que algumas pessoas pediram símbolos das suas cidades. Por exemplo, uma rapariga que tinha fugido recentemente de Kherson queria tatuar uma fatia da melancia pela qual a sua cidade natal é famosa e pessoas de Kiev pediram a folha de castanheiro, um símbolo da cidade.
Até agora, os tatuadores já angariaram mais de 100 mil hryvnia (mais de 3 mil euros) para o exército e planeiam continuar enquanto houver procura — e agulhas e tinta para a satisfazer.
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