Os valores são ainda preliminares, mas a grande abstenção (cerca de 60%) já foi aplaudida pela oposição, que considerou o cenário como um “boicote cidadão”.

Segundo a oposição, estas foram “eleições unilaterais”, já que foram marcadas pela ausência de 62 grupos de oposição, liderados pelo Partido Nacionalista do Bangladesh (BNP), em protesto contra o que consideram o autoritarismo da atual primeira-ministra e líder da Liga Awami, Sheikh Hasina.

À frente do executivo do Bangladesh desde 2009, a primeira-ministra também foi eleita em 2014 sem qualquer oposição, uma vez que a sua inimiga política e líder do BNP, Jaleda Zia, estava em prisão domiciliária.

“Receamos que tenha havido uma baixa participação porque o partido da oposição fez uma campanha negativa contra as eleições”, afirmou o presidente da comissão eleitoral, Kazi Habibul Awal, sublinhando, no entanto, que o órgão sempre agiu “de forma imparcial” e trabalhou “incansavelmente com as agências de segurança para garantir [a existência de] uma situação pacífica”.

Depois de tomar conhecimento das primeiras estimativas, o porta-voz do comité permanente do BNP, Abdul Moyeen Khan, afirmou-se exultante e aplaudiu o povo do Bangladesh, “em nome do partido e dos outros 62 que boicotaram a farsa eleitoral, que nunca colocaram em dúvida ou questionaram a democracia”.

“As escolas vazias [onde estavam as urnas] que visitámos demonstram a realidade da farsa que foram as 12.ª eleições legislativas neste país”, acrescentou, em conferência de imprensa.

O porta-voz do BNP manifestou, no entanto, receio de que a comissão eleitoral apresente uma percentagem de participação “inflacionada”, “como aconteceu nas duas últimas eleições”, embora também tenha admitido que “o povo e o mundo inteiro viram como os eleitores rejeitaram as eleições”.

Como seria de esperar, a posição da Liga Awami foi radicalmente diferente.

O seu secretário-geral, Obaidul Quader, festejou a “vitória da democracia” graças à participação dos cidadãos, que “boicotaram o boicote” ao BNP.

“O BNP não participou nas eleições, mas queria perturbá-las com ataques terroristas e incendiários. Felizmente, o povo rejeitou o BNP nas urnas através do apoio maciço à Liga Awami e, por extensão, à primeira-ministra”, acrescentou o secretário-geral.

No início do dia eleitoral, Sheikh Hasina classificou o BNP como “uma organização terrorista”, assegurando estar a “fazer o seu melhor para garantir que a democracia continua no país” e sublinhando que “as eleições são livres e justas”.

As assembleias de voto do oitavo país mais populoso do mundo estiveram abertas até às 17:00 locais (12:00 em Lisboa) e os resultados deverão ser conhecidos por volta da meia-noite (19:00 em Lisboa).

O país, outrora assolado por uma pobreza extrema, registou um crescimento acelerado sob a liderança de Hasina. Mas o Governo tem sido acusado de violações sistemáticas dos direitos humanos e de uma repressão implacável contra a oposição.

A Liga Awami, no poder, não tem praticamente adversários nos círculos eleitorais a que está a concorrer. No entanto, também não apresentou candidatos em alguns deles, numa aparente tentativa de evitar que o parlamento seja visto como o instrumento de um único partido.

Alguns eleitores afirmam ter sido ameaçados com a confiscação de documentos necessários à obtenção de benefícios sociais, caso se recusem a votar na Liga Awami.

Na quinta-feira, o líder da oposição do Bangladesh no exílio, Tarique Rahman, denunciou à AFP as “eleições fraudulentas”, que diz destinarem-se a manter no poder a primeira-ministra.

Rahman é herdeiro de uma das duas principais dinastias políticas do país – a outra é liderada pela primeira-ministra – e está à frente do BNP desde a detenção, em 2018, da mãe, Khaleda Zia, duas vezes primeira-ministra.