Que informação tem alegadamente a Rússia que compromete Donald Trump?

Segundo informações divulgadas pela CNN, os serviços secretos russos têm informação “pessoal e financeira” comprometedora.

Quem revelou essa informação compilada pelos serviços secretos russos?

A informação terá sido em parte compilada por um ex-agente dos serviços secretos britânicos, o MI6, que tinha operado na Rússia nos anos 90 e que atualmente tem uma empresa de informações. Este ex-agente foi considerado credível pelos serviços secretos americanos.

Essa informação foi partilhada com Donald Trump? 

De acordo com a CNN, sim.

Quando é que essa informação foi partilhada com o presidente eleito e em que contexto?

A informação terá sido partilhada com Donald Trump e também com o ainda presidente Barack Obama na semana passada, numa reunião em que estiveram alegadamente presentes o diretor dos serviços de inteligência, James Clapper, o diretor do FBI, James Comey, o diretor da CIA, John Brennan e o diretor da NSA, Mike Rogers.

Qual o documento que chegou à imprensa?

Os jornalistas, ou pelo menos alguns jornalistas, terão tido acesso a uma sinopse da informação compilada que foi anexada a um relatório sobre a interferência da Rússia nas eleições americanas de novembro de 2016.

Porque razão os diretores das agências de serviços secretos decidiram levar esse documento ao conhecimento de Donald Trump?

Segundo a CNN, porque quiseram que Donald Trump estivesse a par que esta informação circulava entre agências, alguns membros do Congresso e outros altos responsáveis governamentais.

A CNN publicou o documento com a síntese dessas informações?

A CNN diz na notícia que publicou que teve acesso a 35 páginas de memos com informação confidencial a partir das quais foi produzido o documento de síntese, mas não publicou os documentos. Posteriormente, o site Buzzfeed publicou o documento com a informação confidencial.

O que é o Buzzfeed?

O Buzzfeed é um site americano que tem obtido muito sucesso com uma conjugação de informação noticiosa, de entretenimento e também conteúdo produzido em associação com marcas comerciais. É tido como um exemplo de sucesso comercial nos media digitais.

A CNN comprovou a veracidade das alegações contidas nos documentos a que teve acesso?

De acordo com a informação do próprio site da estação de televisão, a CNN ainda não realizou uma verificação independente das informações contidas no documento.

Não tendo verificado os factos, qual a base de publicação da notícia?

Segundo também revela a CNN, a estação falou com vários elementos dos serviços secretos, do Congresso e da justiça para comprovar a notícia.

A informação contida nestes documentos é recente ou já tinha sido referenciada antes?

As fontes contactadas pela CNN referem que os documentos existiam desde o Verão.

O que mudou do Verão para cá e porque razão os serviços secretos decidiram agora informar Trump e Obama?

De acordo com as mesmas fontes, essa decisão foi tomada depois de ter sido verificada a credibilidade do ex-agente dos serviços secretos ingleses que compilou a informação inicialmente. O ex-agente do MI6 foi considerado credível, segundo as mesmas fontes.

Como é que a informação recolhida pelo ex-agente britânico chegou aos serviços secretos americanos?

A CNN refere que o senador John McCain terá entregue uma cópia dos memos com esta informação datados entre junho e dezembro de 2016 ao diretor do FBI, James Comey. McCain, que é um senador eleito pelo Partido Republicano, terá obtido essa informação através de um ex-diplomata britânico que tinha estado colocado em Moscovo.

Antes disso, os serviços secretos americanos tinham conhecimento dessa informação?

Segundo a CNN, sim, desde agosto, quando o ex-agente do MI6 os entregou a um responsável do FBI, em Roma.

Porque razão o ex-agente do MI6 investigou e recolheu esta informação?

Segundo disseram à CNN várias fontes, a investigação foi financiada por grupos e doadores ligados a opositores republicanos a Donald Trump no decurso das eleições primárias no partido. Posteriormente, a investigação terá continuado a ser financiada por grupos ligados a Hillary Clinton.

Antes de Trump e Obama terem sido alegadamente colocados a par desta informação sensível, já tinha existido alguma referência à mesma na imprensa?

Sim, no site Mother Jones, na última semana antes das eleições presidenciais, no fim de outubro.

Em que contexto é que essa informação foi referida?

Poucos dias antes da campanha, o diretor do FBI, James Comey, divulgou aos membros do congresso que a agência tinha encontrado emails que podiam ser pertinentes no inquérito a Hillary Clinton sobre a sua caixa de emails quando fora secretária de Estado. Por causa disso, foi também referida pelos meios democratas a existência de informação afeta a Donald Trump.

O que disseram então os democratas?

A divulgação dessa informação foi considerada pelos democratas como prejudicial e com impacto no resultado das eleições de 8 de novembro. Comey foi criticado por ter interferido na campanha e Harry Reid, líder da minoria no Senado, enviou uma carta ao diretor do FBI dizendo que tinha conhecimento decorrente das conversas com ele de que existia “informação explosiva” sobre a coordenação estreita entre Trump e o governo da Rússia.

O que diz o documento confidencial cuja síntese o Buzzfeed tornou pública?

Em linhas gerais, o documento refere as seguintes informações:

  • o regime russo tem apoiado Trump nos últimos 5 anos tendo em vista fragilizar e romper com a aliança ocidental
  • até aqui Trump tem rejeitado várias propostas de negócios imobiliários oferecidas pela Rússia mas tem aceite informação fornecida pelo Kremlin contra os seus rivais políticos
  • um ex agente de topo dos serviços secretos russos afirma ter informação comprometedora sobre Trump, passível de o poder chantagear, recolhida durante as suas estadias em Moscovo e que incluem práticas sexuais “perversas” com prostitutas  
  • os serviços secretos russos compilaram ao longo dos anos informação sobre Hillary Clinton resultante sobretudo da intersecção de chamadas telefónicas, mas não têm informação de má conduta; esta recolha de informação sobre Clinton foi organizada pelo porta-voz do Kremlim Peskov, sob as ordens diretas de Putin

Na conferência de imprensa realizada hoje, Donald Trump admitiu a interferência da Rússia na campanha eleitoral americana, nomeadamente na pirataria à convenção democrata que levou à divulgação de e-mails de Hillary Clinton ?

Sim. “Acho que foi a Rússia, mas também somos pirateados por outros. Há muita pirataria por aí”, disse. “Quando perdemos 22 milhões de nomes, e tudo o resto que foi pirateado recentemente… Provavelmente foi a China”.

Donald Trump desmentiu a existência do documento com informações confidenciais?

Trump disse que se tratavam de "disparates que foram divulgados pelas agências de inteligência e que nunca deviam ter sido escritos, lidos e divulgados (..."Considero uma absoluta vergonha que o tenham feito", afirmou considerando que se tratavam de "fake news" (notícias falsas). Trump acrescentou que o Presidente russo tinha declarado (hoje mesmo) que o documento é falso. “O Putin disse que aquilo nunca aconteceu. Ok, ele diria isso de qualquer maneira, mas eu respeito o que ele diz”, afirmou. “Se eles tivessem alguma coisa [de interessante] teriam divulgado, tal como fizeram com Hillary”.

Trump desmentiu ou confirmou a realização da reunião, na semana passada, com os serviços secretos tendo em vista colocá-lo a par do documento em causa?

Implicitamente reconheceu a existência da reunião. Disse Trump: "Não estou autorizado a falar sobre o que se passou nessa reunião".  Sobre o alegado conteúdo da mesma, acrescentou: "Acho lamentável que a informação tenha sido divulgada. Li informação fora dessa reunião e são notícias falsas, não aconteceram. Foi um grupo de opositores que se juntaram, pessoas doentes, que puseram esse relatório de pé. Alguém o divulgou."

O que irá acontecer agora?

O FBI está a investigar os fatores alegados na informação recolhida e os democratas exigem um inquérito para se apurar se Donald Trump se encontrou com responsáveis da Rússia durante a campanha eleitoral. Mas, com a tomada de posse de Donald Trump como presidente na próxima semana, ele poderá, na qualidade de presidente, não aprovar essa investigação.

Donald Trump confirma a existência de relações privilegiadas com o Kremlin e com Vladimir Putin?

O Presidente-eleito afirmou: “Se Putin gosta do Donald Trump, considero isso um ativo não uma desvantagem.”