António Costa falava em conferência de imprensa no final da reunião do Conselho de Ministros que aprovou o Orçamento Suplementar, ladeado pelo ministro das Finanças cessante, Mário Centeno, e pelo seu sucessor nesta pasta, João Leão, até agora secretário de Estado do Orçamento.

"A vida é feita de ciclos e quero aqui expressar publicamente que compreendo e respeito que o doutor Mário Centeno queira abrir um novo ciclo na sua vida. Este foi um longo ciclo. Pela segunda vez em 46 anos da nossa democracia, um ministro das Finanças cumpriu integralmente uma legislatura de quatro anos", declarou António Costa.

“Aquilo que a nossa presença aqui dos três, o trabalho que desenvolvemos em conjunto ao longo destes mais de cinco anos significa é que há uma tranquila passagem de testemunho que enfatiza essa continuidade da política”, afirmou António Costa.

Questionado sobre o momento desta saída, o primeiro-ministro considerou que este “é o `timing´ certo”.

“Não só temos em execução plena o Orçamento do Estado para 2020 como temos aprovado ao nível do Governo a proposta de Orçamento Suplementar que adapta o Orçamento do Estado para 2020 a essa realidade nova que veio surpreender a nossa vida coletiva com a emergência do covid no princípio de março”, justificou.

O chefe do executivo garantiu que “não há qualquer alteração da política”, lembrando que o ministro cessante e futuro participaram ambos “na equipa inicial que elaborou o cenário macroeconómico”.

“Portugal não perde um ministro de Estado e das Finanças, Portugal muda o seu ministro de Estado e das Finanças. Sai Mário Centeno, entrará João Leão”, desdramatizou.

Em relação aos mandatos no executivo por Mário Centeno, o primeiro-ministro apontou também que, "pela primeira vez na democracia portuguesa, para além de ter cumprido integralmente o mandato de quatro anos, ainda preparou o início da atual legislatura e assegurou a aprovação do primeiro orçamento dessa legislatura, tendo ainda estado na preparação do primeiro e único Orçamento Suplementar do conjunto destes anos".

Perante os jornalistas, o líder do executivo pretendeu ainda agradecer "profundamente a dedicação" de Mário Centeno "ao longo destes quase seis anos de trabalho em conjunto, que se iniciou com a elaboração do cenário macroeconómico, com o PS ainda na oposição, e que se encerrou com a aprovação no Conselho de Ministros do Orçamento Suplementar".

"Não vou agora aqui recordar a excelência dos resultados que foram alcançados nestes anos de governação nem a forma como prestigiou Portugal na presidência do Eurogrupo, porque isso é conhecido de todos. Mas quero aqui neste momento testemunhar a extraordinária capacidade de trabalho [de Mário Centeno], o excelente espírito de equipa, quer comigo quer com todos os membros do Governo, e a constante preocupação de assegurar equidade nas decisões e o sentido profundamente humanista que sempre inspirou a sua ação", considerou António Costa.

Num registo um pouco mais pessoal, António Costa alegou que a atual situação de pandemia de covid-19, com as normas de distanciamento social, impediam-no de abraçar o seu ministro de Estado e das Finanças naquele momento.

"Infelizmente, o covid não me permite dar agora o abraço que me apetecia dar ao Mário Centeno. Mas covid passado, o abraço será dado", disse.

Costa assegura “continuidade” da política orçamental com João Leão ministro das Finanças. Centeno concorda e diz que números vão "continuar certos"

O primeiro-ministro considerou hoje que está assegurada a "continuidade" da política orçamental do Governo com a substituição de Mário Centeno por João Leão como ministro de Estado e das Finanças, numa conjuntura de crise económica e social.

"Neste momento tão desafiante para a estabilização da situação económica e social do país, para a preparação do programa de recuperação económica do país, é muito importante podermos contar com uma das pessoas que maiores garantias dão de continuidade da nossa política orçamental. Mas que é também, pelo trabalho enquanto académico, quer pela experiência que acumulou com mais de quatro anos de direção do gabinete de estudos do Ministério da Economia, um profundo conhecedor da economia portuguesa", disse.

Perante os jornalistas, o primeiro-ministro insistiu nesta ideia de "continuidade" na política orçamental no segundo Governo minoritário socialista.

"Quero assim assegurar às portuguesas e aos portugueses, com esta tranquila passagem de testemunho, a continuidade da nossa política, num momento em que a gravidade da crise económica e social exige mais do que nunca que o Ministério das Finanças continue em boas mãos, e assim continuará com o professor João Leão", declarou.

Depois de ter elogiado Mário Centeno, António Costa referiu-se ao novo ministro de Estado e das Finanças, João Leão, até agora secretário de Estado do Orçamento, destacando a sua "disponibilidade" para aceitar o seu convite, com o "encargo de dar continuidade ao trabalho que também iniciado aquando da constituição do grupo que elaborou o cenário macroeconómico ainda no tempo [do PS] da oposição".

"Prosseguimos esse trabalho durante estes cinco anos em que tem sido o responsável pela política orçamental dos meus governos. E é com muito gosto que agora iremos prosseguir este trabalho com maior proximidade, de uma forma mais direta, sem a intermediação do Mário Centeno", salientou.

O próprio ministro cessante, aliás, fez uma curta declaração no mesmo sentido que o primeiro-ministro, falando do “fim do ciclo” traduzido nos 1.664 dias em que foi ministro das Finanças, mas assinalando que as ‘contas certas’ se vão manter.

“Os números sempre fizeram parte deste trajeto, eles sempre estiveram certos e quero deixar aqui um testemunho e uma quase certeza, daquelas certezas que podemos ter, [de] que eles vão continuar a estar certos porque o João Leão é o fator de continuidade num trajeto que Portugal merece”, referiu Mário Centeno.

Antes, Mário Centeno tinha apontado alguns dos números deste ciclo que agora encerra, referindo os “1.664 dias como ministro das Finanças, a que acrescem os mais de 900” na Presidência do Eurogrupo.

Um ciclo “longo” para a história da democracia portuguesa – em que apenas um outro ministro das Finanças antes dele conseguiu cumprir uma legislatura no cargo – que começou com o percurso conjunto trilhado desde 2014, com a elaboração do cenário macroeconómico que foi a base do programa do anterior Governo, o primeiro liderado por António Costa.

Centeno referiu-se ainda à “trajetória de recuperação da credibilidade” da política económica e orçamental registada nestes anos, dado como exemplos a saída de Portugal do procedimento por défices excessivos ou a eleição do ministro das Finanças de Portugal para a liderança do Eurogrupo.

O ministro das Finanças cessante afirmou também que a sua presença nesta conferência de impressa, ao lado do chefe do Governo e do seu substituto nas Finanças, sinaliza a “enorme honra” em fazer parte desta equipa governamental e em responder aos desafios que trilharam em conjunto nestes últimos anos.

Em tempos em que as regras de segurança para conter a pandemia obrigam ao distanciamento social, Mário Centeno deixou o abraço aos colegas do Governo para “uma altura sanitariamente mais conveniente”.